Migrantes nordestinos e favelas cariocas
Uma situação comum a muitos migrantes nordestinos que vieram para o Rio de Janeiro foi a moradia em locais de infraestrutura precária, como as favelas. A inserção nesses espaços ocorre, antes de qualquer coisa, por motivos econômicos, mas também envolve o apoio moral imediato. Tal opção acontece em razão da dificuldade de se arcar com despesas de moradia em outra localidade, residir mais próximo do trabalho e do déficit habitacional, provocado pelo elevado crescimento urbano, mormente a partir do momento em que as transformações ocorridas com o desenvolvimento industrial, ocorrido em meados do século XX, implicaram processos migratórios e de reordenação do espaço urbano.
Autoria: Fernando Cordeiro Barbosa
Sobre[editar | editar código-fonte]
Morar em favelas, desse modo, foi uma das poucas opções de habitação para os migrantes nordestinos que vieram para o Rio de Janeiro. Algumas delas, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, eram lugares inóspitos a ser desbravados. Para se morar era necessário abrir passagens e picadas, preparar terreno, criar alicerces e fincar estacas. Muitas favelas assim se formaram, sendo até mesmo, algumas delas, consideradas favelas de migrantes nordestinos, em razão de ser essa a origem comum e predominante da maioria de seus moradores. É o caso da favela da Rocinha, de Rio das Pedras e as da Maré. A relação desses migrantes com essas favelas inclusive está associada ao mercado de trabalho no qual esses trabalhadores se afiliaram, como a construção civil. As favelas da Maré estão relacionadas aos aterros efetuados para a construção da Avenida Brasil. A favela da Rocinha tem seu crescimento juntamente com a construção de inúmeros prédios na Zona Sul do Rio de Janeiro, nas décadas de 1950 e 1960 do século XX, que exigiu um grande número de operários, parte deles oriundos da região Nordeste. A favela de Rio das Pedras, por sua vez, está relacionada ao crescimento da cidade para a Zona Oeste.
A hegemônica presença de migrantes nordestinos em determinadas favelas, possibilitada pela rede de relações comuns, em que um migrante estabelecido apoia o recém chegado, possibilita a construção de sentimento comunitário e dá identidade ao lugar, conferindo a essas localidades e a seus moradores atributos particulares em relação a outras tantas existentes e coexistentes. Uma forma de se autoatribuir valor e marcar distinção em relação a demais moradores, bem como expor contraposições entre as favelas. (Barbosa, 2021, p.124-125).
Contudo, a presença da migração nordestina não se faz marcante apenas nessas favelas, mas também em becos e vielas de outras tantas, em que a presença da migração nordestina se faz marcante. Há demarcações de espacialidades que conferem atributos identitários, já que em determinados espaços particulares existe uma história socialmente construída a partir da existência de agentes sociais específicos. Não que isso signifique que, em tal localidade, haja apenas membros de um único grupo, nem que esses não estejam presentes em outros lugares, ou ainda que a referência a eles seja constante. Em certas situações, por motivos diversos, a marca distintiva de determinados cantos, dada pela migração, não se revela, todavia, em outras, ela é exposta. Esta argumentação encontra ressonância no suposto analítico de que as favelas não são diferentes apenas entre si, mas também internamente.
Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]
BARBOSA, Fernando Cordeiro. Nordestinos no Rio de Janeiro: alteridades e legados culturais. Niterói: Eduff, 2021.