Rumba Gabriel: a história viva do Jacarezinho

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Rumba Gabriel é uma importante liderança comunitária da favela do Jacarezinho, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Morador da comunidade há 66 anos, Rumba dedica sua trajetória a defesa dos direitos humanos, à comunicação, ativismo comunitário e a promoção de cultura local.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Filho de mãe capixaba e pai mineiro, Antônio Carlos Ferreira Gabriel, conhecido como Rumba Gabriel, ganhou seu apelido devido à influência de seu pai. Seu pai era talentoso pedreiro e ladrilheiro, além de renomado compositor, que colaborou com artistas como Nelson Cavaquinho, Cartola, Carlos Cachaça e Zé Ketti.

Também reconhecido como um habilidoso dançarino, dançava muito gafieira e era muito boêmio, características as quais inspiraram seu apelido, que passou ao seu filho.

Jornalista, Rumba soma ao seu legado ativista suas habilitações como teólogo, poeta e compositor da Estação Primeira de Mangueira.

História entrelaçada ao território[editar | editar código-fonte]

Sua trajetória política tem início na década de 1980, após trabalhar como mensageiro no Jornal Do Brasil. Entretanto, o contato com o ativismo política e social já era uma realidade anos antes, no Jacarezinho. Desde pelo menos a década de 1940, moradores tiveram que se unir, com o apoio das igrejas da região, para não serem despejados pelas autoridades que procuravam desocupar terrenos ocupados ilegalmente. Contudo, é na década de 1960 que a movimentação política ganha mais organização. Durante a ditadura militar, o Jacarezinho chegou a ser apelidado de "Moscouzinho", devido à presença de cédulas de alguns partidos políticos e ativistas opositores ao governo vigente.

É nesse contexto que Rumba Gabriel se lança no ativismo politico, tendo como seu principal objetivo expor a cultura da favela do Jacarezinho, lutando para que ela seja livre da alienação e cooptação da população favelada.

Para o ativista, antes de ser uma favela, o Jacarezinho abrigou negros que haviam fugido de fazendas próximas. Por isso, pode ser considerado um "quilombo urbano"[1]. Quilombo Urbano também batiza o bar que jornalista possui no Jacarezinho, onde organiza eventos de promoção de lazer e cultura a sua comunidade, como sua tradicional feijoada.

Carreira e liderança comunitária histórica[editar | editar código-fonte]

Sua maior arma na luta em prol das favelas é a comunicação, desempenhando um papel fundamental no empoderamento não somente do Jacarezinho, como de favelas ao redor da cidade do Rio. Seja atuando como editor do jornal FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Estado do RJ) e do jornal do SINTUFF (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense-UFF), bem como subeditor de política do jornal O POVO e repórter do jornal Brasil de Fato, Rumba Gabriel usa sua voz em prol da visibilidade e luta pela garantia de direitos.

Seu comprometimento por justiça social e garantia de direitos as favelas incluem a fundação do Centro Cultural do Jacarezinho, em 1992, e em 1999, a primeira cooperativa de trabalhadores em favelas. Trouxe o Projeto Célula Urbana[2], um projeto de intervenções urbanísticas nas favelas de todo o Brasil, com o objetivo do projeto é gerar perspectivas sociais e econômicas para os moradores, inaugurado em 2004. Em 2013 foi eleito presidente da Associação de Moradores. Também, liderou o MPF (Movimento Popular de Favelas), coordenou o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores Sociais e Ambientalistas do Estado do Rio de Janeiro e é presidente da Escola de Samba Jacarezinho.

Rumba Gabriel também é autor do livro “Gotas de Vida”, prefaciado por Carlos Drummond de Andrade, com quem trabalhou durante sua passagem pelo Jornal do Brasil, em sua juventude.

Um dos projetos mais notáveis de Rumba foi o "Condomínio Favela", iniciativa de meados dos anos 2000, que consistia em instalar na comunidade portões e câmeras, características dos condomínios fechados à época, para vigiar a atuação do tráfico e da polícia. Esses portões ostentavam a frase irônica: "Sorria, policial. Você está sendo filmado.".

Seu audacioso projeto gerou muitas reações na opinião pública e colocou em pauta as condições da atuação policial e do tráfico na favela do Jacarezinho, porém também acabou por colocar a vida do ativista em perigo. Neste ínterim, os Panteras Negras acharam interessante o projeto criado por Rumba, o que lhe rendeu um convite da organização socialista e antirracista, para visitar o seu país. Lá, pode pesquisar sobre o movimento negro na Universidade do Texas, e promover palestras e debates em solo estadunidense.

Atualmente cursa Direito, coordena o portal Favelas, faz parte do Movimento Negro Unificado (MNU), do Movimento Popular de Favelas e do Setorial de Favelas do PSOL, e atua como assessor da deputada Dani Monteiro[3].

Legado vivo[editar | editar código-fonte]

É latente e incontestável que a história de Rumba Gabriel e sua trajetória de luta pelo Jacarezinho, acaba por se entrelaçar de forma única. Sua luta é pelo resgate da força politica que vivenciou no Jacarezinho de sua juventude, uma luta em comunidade. Para Rumba, é importante a população favelada ocupar espaços de poder e de conhecimento, entretanto também é de vital importância que este conhecimento e poder retorne para a comunidade.

Para Rumba, há uma cultura de medo vigente nas favelas, que as silencia diante a postura violenta com que o Estado se faz presentes nestes territórios. Sua luta é dedicada a ecoar a voz das favelas, que apenas requerem seu direito de pertencer à cidade em que vivem. Em entrevista concedida a revista Época[4], o jornalista resumiu sua motivação em continuar sua luta: "Muitos me perguntam: Rumba, por que você ainda vive assim? Não tenho carro, grana e ainda moro na favela. Mas não abandono porque sou descendente de Zumbi, não consigo ver meu povo sofrer. Não tenho medo da bala."

Referências[editar | editar código-fonte]