Amar na Maré - a revolta de uma multidão: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Para a realização da pesquisa foi adotada a história oral para a produção de dados, privilegiando a narrativa da população LGBTQIA+ da Maré, sua memória e história, somada a análise de fotografias e observação das performances. No que tange ao método da história oral, Portelli (2010) nos ensina que a proposta é recolher a voz de um determinado grupo e amplificá-la à medida que a levamos para o espaço público, uma vez que até então essa voz estava restrita a um espaço limitado. Ressaltamos se tratar de uma metodologia muito utilizada para se trabalhar a memória, por permitir que grupos muitas vezes invisibilizados sejam ouvidos, humanizando histórias e preservando a memória coletiva de uma determinada comunidade.   
Para a realização da pesquisa foi adotada a história oral para a produção de dados, privilegiando a narrativa da população LGBTQIA+ da Maré, sua memória e história, somada a análise de fotografias e observação das performances. No que tange ao método da história oral, Portelli (2010) nos ensina que a proposta é recolher a voz de um determinado grupo e amplificá-la à medida que a levamos para o espaço público, uma vez que até então essa voz estava restrita a um espaço limitado. Ressaltamos se tratar de uma metodologia muito utilizada para se trabalhar a memória, por permitir que grupos muitas vezes invisibilizados sejam ouvidos, humanizando histórias e preservando a memória coletiva de uma determinada comunidade.   


==== Obstáculos ====
=== Obstáculos ===
Dito isto, enfatizamos que Lino percebeu que diversos espaços de memória da Maré não tinham ou não queriam compartilhar os registros da época da Noite das Estrelas dos anos 80 e 90, sob a justificativa de que era uma época muito violenta para a comunidade LGBT. Pantera (uma das atrizes) e vizinhos, contudo, possuíam diversos registros em vídeo e foto, aos quais Lino teve acesso. Lino argumenta que “Noite das Estrelas” está ligada à história do Rio de Janeiro: “quando a gente fala de Rio de Janeiro e não fala de algo que durou 20 anos e arrastou multidões, a gente não sabe nada da história do Rio de Janeiro”, afirma o autor. Conforme destacou em sua fala, “a proposta é resgatar o protagonismo, o discurso deste grupo”, produzindo um espetáculo para conservação da memória, compartilhamento e preservação da cultura. Há, nesse sentido, uma perspectiva do sonho na Noite das Estrelas: como o sonho é matéria, e material de um vida que é infinita: “os nossos que se foram continuam vivos na gente”, diz Lino.  
Dito isto, enfatizamos que Lino percebeu que diversos espaços de memória da Maré não tinham ou não queriam compartilhar os registros da época da Noite das Estrelas dos anos 80 e 90, sob a justificativa de que era uma época muito violenta para a comunidade LGBT. Pantera (uma das atrizes) e vizinhos, contudo, possuíam diversos registros em vídeo e foto, aos quais Lino teve acesso. Lino argumenta que “Noite das Estrelas” está ligada à história do Rio de Janeiro: “quando a gente fala de Rio de Janeiro e não fala de algo que durou 20 anos e arrastou multidões, a gente não sabe nada da história do Rio de Janeiro”, afirma o autor. Conforme destacou em sua fala, “a proposta é resgatar o protagonismo, o discurso deste grupo”, produzindo um espetáculo para conservação da memória, compartilhamento e preservação da cultura. Há, nesse sentido, uma perspectiva do sonho na Noite das Estrelas: como o sonho é matéria, e material de um vida que é infinita: “os nossos que se foram continuam vivos na gente”, diz Lino.  



Edição atual tal como às 18h51min de 27 de junho de 2024

Estudo relacionado ao trabalho: Clássicos e contemporâneos sobre favelas: Curso IESP-UERJ.

Autoria: Mariana Vieira e Isabela Maia
WALLACE LINO

Aula aberta com participação de Wallace Lino

Resumo[editar | editar código-fonte]

Memorando da aula aberta “Amar na Maré, a revolta de uma multidão” promovida pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas” e ministrada pelo Walace Lino.

Sobre Walace Lino[editar | editar código-fonte]

Walace Lino, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Relações Étnico Raciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca.

Pesquisador, ator, diretor, dramaturgo e educador. Formado em licenciatura do teatro pela Escola de Teatro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é integrante da cia marginal, companhia reconhecida na cena artística contemporânea carioca, com uma trajetória marcada pelo compromisso político de levar a arte da favela para o resto da cidade, do país e até do mundo, desde 2005.

É ainda cofundador do Grupo Atiro, braço pedagógico da cia marginal que oferece aulas de teatro a moradores da Maré, e cocriador do projeto Entidade Maré, fundado em 2020 com objetivo de apresentar a memória cultural LGBTQIA+ na inscrição deste território e da cidade, no qual toda pesquisa se transforma ou resulta em um produto artístico.

Cria da Maré, bairro localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e formado por um conglomerado de 16 comunidades, teve seu território delimitado pelo Decreto nº 7.980/88. Atualmente é considerado um dos maiores conjuntos de favela do Brasil.

Trajetória de trabalhos de Walace Lino[editar | editar código-fonte]

2021 e 2022[editar | editar código-fonte]

O trabalho “Amar na Maré” e “Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas”, foram publicados nos anos de 2021 e 2022 respectivamente, pós pandemia do coronavírus que assolou o Brasil e o mundo, período em que o Brasil foi fortemente afetado pelos seus efeitos, em especial a cultura e territórios de favela.

2023[editar | editar código-fonte]

Em março de 2023 ministrou a aula “Amar na Maré, a revolta de uma multidão” para alunos e convidados do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas”, lecionada pela Prof. Palloma Valle Menezes

Objetivos dos textos[editar | editar código-fonte]

Ambos os textos produzidos por Walace Lino, versam sobre a ocupação-espetáculo.

No caso de “Noite das Estrelas” , possui como objetivo compartilhar a memória coletiva sobre a população LGBTQIA+ da Maré e assim transpor abismos territoriais e de gênero.

Argumentos utilizados pelo autor[editar | editar código-fonte]

Lino argumenta que o fato de ser morador da Maré faz com que a pesquisa sobre as narrativas LGBT não seja algo pontual em algum momento específico da vida, mas que o atravessa.

Deste modo, almeja-se apresentar o conceito de favela para além do paradigma da ausência, da falta, com ênfase nas expressões da questão social mas apresentar e trabalhar a potência deste território (Fernandes et al, 2018) e o seu processo de resistência.

Durante a palestra, Lino ressalta que a morte existe como uma imagem de uma brincadeira íntima que vivem as pessoas pretas, periféricas e faveladas. Nesse sentido, quis fugir da temática comum e estigmatizada para fazer menção às travestis como a relação com o HIV, ou da violência e mortalidade, e optou, através da ocupação “Noite das Estrelas”, por falar de amor.

Metodologia da pesquisa[editar | editar código-fonte]

Para a realização da pesquisa foi adotada a história oral para a produção de dados, privilegiando a narrativa da população LGBTQIA+ da Maré, sua memória e história, somada a análise de fotografias e observação das performances. No que tange ao método da história oral, Portelli (2010) nos ensina que a proposta é recolher a voz de um determinado grupo e amplificá-la à medida que a levamos para o espaço público, uma vez que até então essa voz estava restrita a um espaço limitado. Ressaltamos se tratar de uma metodologia muito utilizada para se trabalhar a memória, por permitir que grupos muitas vezes invisibilizados sejam ouvidos, humanizando histórias e preservando a memória coletiva de uma determinada comunidade.

Obstáculos[editar | editar código-fonte]

Dito isto, enfatizamos que Lino percebeu que diversos espaços de memória da Maré não tinham ou não queriam compartilhar os registros da época da Noite das Estrelas dos anos 80 e 90, sob a justificativa de que era uma época muito violenta para a comunidade LGBT. Pantera (uma das atrizes) e vizinhos, contudo, possuíam diversos registros em vídeo e foto, aos quais Lino teve acesso. Lino argumenta que “Noite das Estrelas” está ligada à história do Rio de Janeiro: “quando a gente fala de Rio de Janeiro e não fala de algo que durou 20 anos e arrastou multidões, a gente não sabe nada da história do Rio de Janeiro”, afirma o autor. Conforme destacou em sua fala, “a proposta é resgatar o protagonismo, o discurso deste grupo”, produzindo um espetáculo para conservação da memória, compartilhamento e preservação da cultura. Há, nesse sentido, uma perspectiva do sonho na Noite das Estrelas: como o sonho é matéria, e material de um vida que é infinita: “os nossos que se foram continuam vivos na gente”, diz Lino.

Conceitos utilizados[editar | editar código-fonte]

Por fim, para além do conceito de favela outros conceitos importantes também foram utilizados na produção dos textos.

Entre eles, é possível mencionar o debate proposto sobre memória, englobando o conceito de memória coletiva para reconhecimento e construção de identidade;

lugar de memória ao enfatizar como os diferentes processos de ocupação na Maré geraram obstáculos à constituição do bairro Maré enquanto lugar de memória, onde as diferentes identidades e as inúmeras memórias dos moradores pudessem encontrar ancoradouro;

a interseccionalidade que embora seja uma discussão recente é extremamente necessária e parte das novas demandas que estão sendo apresentadas pela sociedade;

e o esvaziamento da resistência, expressão usada por Lino para criticar a ideia de resistência que desconsidera o papel do desejo do grupo/pessoa que “resiste”.

A criação da Maré está, para o autor, neste lugar, de um povo que quer ser livre, que não apenas “resiste”, mas que possui desejos e vontades legítimos.

Fontes[editar | editar código-fonte]

Entidade Maré

Sobre a Entidade Maré

Observatório de favelas

Filme “Noite das Panteras”

Antes da Noite Pesquisa

Redes da Maré

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Andrade, J.; Lino, W. G.; Affonso, M. ; Lino, P. V. Amar na maré. Espaço Público Periódico: Piseagrama, v. 1, p. 10, 2021.
  • Lino, Wallace. Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas. Revista Museologia & Interdisciplinaridade, v. 1, p. 149-163, 2022.
  • FERNANDES, F., SILVA, J. de S., BARBOSA, Jorge. O paradigma da potência e a pedagogia da convivência. Revista periferias, R.J., 2018. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/o-paradigma-da-potencia-e-a-pedagogia-da-convivencia/
  • PORTELLI, Alessandro. História Oral e Poder. Mnemosine, Vol.6, nº2, 2010, p.2-13.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Grupo CASA - estudo sociais sobre moradia e cidade

Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas

Ser trans na favela (revista)