Memória Viva - Sr Beserra (série de entrevistas): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(O projeto “Memória Viva” está baseado no registro de memórias de lideranças moradoras de diferentes favelas do estado do Rio de Janeiro. Neste episódio, temos a participação do Sr Beserra.)
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== Apresentação do projeto ==
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Os registros de entrevistas usaram o protagonismo de importantes figuras, que em seus respectivos territórios, são referências de lutas que ocorrem há décadas na busca por políticas públicas que visam buscar mais dignidade e respeito para os que ali vivem ou sobrevivem.[[Arquivo:Logo do Memória Viva..png|alt=Memória Viva|miniaturadaimagem|Memória Viva]]O projeto consegue - em sua extensão - conectar as histórias de vida dos entrevistados, com outros vários corpos favelados que possuem histórias de sofrimento em comum. No ápice de toda a sensibilidade, também provoca a possibilidade de voltar no tempo quando atinge memórias coletivas.
O Memória Viva é apresentado por [[Mônica Francisco (PSOL/RJ) - Borel - RJ|Mônica Francisco]], liderança histórica do Morro do Borel, cientista social e ex-deputada estadual, que a cada episódio bate um papo sobre as trajetórias de lideranças de favelas do Rio de Janeiro. A ideia do projeto é criar um espaço de conversa no qual moradores possam reviver lembranças do passado, fazer análises da presente conjuntura e debater perspectivas sobre o futuro das favelas.
O resultado de todo o trabalho permite que uma nova ótica se revele projetando novos sentidos para um tempo que parecia estar esquecido onde a memória se revela, como instrumento de poder, conseguindo ressignificar sentidos. O Memória Viva é um projeto de preservação de memórias faveladas.


== Mini Biografia - Sr. Beserra ==
As gravações foram realizadas em diferentes locações com apoio da equipe da VideoSaúde e a série se inspira em alguns projetos que já trabalharam o registro de memórias, como o "A favela fala" (CPDOC/FGV), o "Espelho" (Canal Brasil), o "Conexões Urbanas" (Multishow),a série "Memórias" (Bom Dia Rio) e o programa [[Papo na Laje (programa)|Papo na Laje]] (TVC Rio).
 
A previsão de lançamento do projeto é novembro de 2024, sendo lançado primeiramente os vídeos que ficarão disponíveis para acesso virtual e gratuito na plataforma da wikiFavelas e, além disso, os episódios serão transformados em podcasts.
 
== Minibiografia - Sr. Beserra ==
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Edição atual tal como às 11h35min de 6 de junho de 2024

O projeto “Memória Viva” está baseado no registro de memórias de lideranças moradoras de diferentes favelas do estado do Rio de Janeiro. Neste episódio, temos a participação do Sr Beserra.

José Beserra de Araújo
Autoria - Entrevistadora: Mônica Francisco / Entrevistado: Sr Beserra (Pernambucano, morador de Manguinhos, líder Comunitário e Militante do MCP: Movimento das Comunidades Populares)

Apresentação do projeto[editar | editar código-fonte]

Monica Francisco - Memoria Viva

O Memória Viva é apresentado por Mônica Francisco, liderança histórica do Morro do Borel, cientista social e ex-deputada estadual, que a cada episódio bate um papo sobre as trajetórias de lideranças de favelas do Rio de Janeiro. A ideia do projeto é criar um espaço de conversa no qual moradores possam reviver lembranças do passado, fazer análises da presente conjuntura e debater perspectivas sobre o futuro das favelas.

As gravações foram realizadas em diferentes locações com apoio da equipe da VideoSaúde e a série se inspira em alguns projetos que já trabalharam o registro de memórias, como o "A favela fala" (CPDOC/FGV), o "Espelho" (Canal Brasil), o "Conexões Urbanas" (Multishow),a série "Memórias" (Bom Dia Rio) e o programa Papo na Laje (TVC Rio).

A previsão de lançamento do projeto é novembro de 2024, sendo lançado primeiramente os vídeos que ficarão disponíveis para acesso virtual e gratuito na plataforma da wikiFavelas e, além disso, os episódios serão transformados em podcasts.

Minibiografia - Sr. Beserra[editar | editar código-fonte]

Sr. Beserra
Memória Viva - Pipa

História pessoal

Morou por 8 anos no Jacarezinho e há 50 anos mora em Manguinhos.

Motorista de caminhão aposentado, com 23 anos de profissão, tendo antes trabalhado por 2 anos como motorista de táxi. Isso depois de ter sido metalúrgico por 22 anos.

75 anos. Foi casado, separado após 14 anos. Teve 2 filhas: a filha mais nova falecida aos 38 anos e a mais velha, hoje com 47 anos, formada em Administração.

Natural de Venturosa, nasceu na Fazenda Pau Ferro no sertão de Pernambuco, onde trabalhou até 17 anos como lavrador de terra. Filho de lavrador de terras dos outros.

Ativismo (Histórico de atuação política - quando, onde e como considera que começou a atuar politicamente)[editar | editar código-fonte]

  • Morador da cidade do Rio de Janeiro há 60 anos, o Sr. Beserra e muitos outros milhares de nordestinos, vieram para as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro da década de 60 em busca de melhores condições de vida.
  • Chegou na favela do Jacarezinho em 1963, aos 17 anos.
  • Pré-militância com 13 anos, por volta de 1960, quando sozinho já observava as desigualdades sociais
  • Começa sua atuação política em 1989, logo ao final da Ditadura Militar.
  • Se associa ao MCP em 1989, com o objetivo de ir para as favelas e pensar melhorias.

Recordação de Manguinhos[editar | editar código-fonte]

Uma Sociabilidade marcada pela relação de amigos que, em conjunto, começaram a construir suas casas nos campos, antes abertos. Isso ocorreu ainda na década de 60, onde marcava-se o espaço da construção com os barbantes... e depois levantava-se as casas. Essas casas estão lá até os atuais dias.

História de grupos políticos que atravessaram sua vida e o formaram em um ativo ser político[editar | editar código-fonte]

Uns poucos com tantas terras e tantos gados e muitos sem terras e sem gado. O meu pai era um desses, não tinha nada. Ele trabalhava para um desses fazendeiros, conhecido como Tenorinho e que tinha mais 2 irmãos também fazendeiros, Antonio Tenório e Manoel Tenório. O patrão do meu pai morava na capital, Recife. Meu pai trabalhava de domingo a domingo, tomando conta do gado e tirando leite. O que ganhava não dava para comer.

Com 17 anos, em lágrimas, deixei minha terra, tendo como destino o Rio de Janeiro. Parei na Favela do Jacarezinho. Favela nova, menos de 15 anos. Ocupação que começou nos anos 50. Havia muita pobreza. E eu querendo ser militante, morando na casa de um primo. Às noites, paravam amigos dele e falavam de políticas, e eu ligado querendo militar. Havia clima de esperanças com as propostas novas do Presidente joão Goulart. O foco era os trabalhadores. Em 13 de março de 1964, me juntei a uns militantes do Jacarezinho, e que eu nem conhecia bem.

Veio o golpe militar, com uma ditadura militar que durou 21 anos, de 1964 a 1985. Durante 21 anos, sem militância. A militância era secreta, ninguém sabia, era medo. Com prisões e tortura que iam até a morte. Eu tinha vontade de militar. Eu conversava com alguns colegas, eles mudavam de assunto ou saíam de perto.

Eu aqui no Rio de Janeiro, até 1990 fui metalúrgico. Em 87, conheço a militância no Sindicato dos Metalúrgicos

Aí começo a participar de seminários, quando em um desses seminários em 1988, em Angra dos Reis, conheci o Gelson que também era metalúrgico e militante da C.T.I. – Corrente de Trabalhadores Independente. Aí comecei a saber através do Gelson que esse movimento surgiu no campo. Passei a me interessar mais, pois foi do campo a minha origem. Meu pai era camponês.

O movimento passou a atuar em 10 estados. Com isso, a prioridade sempre foi a base. Hoje estou com 33 anos como militante. Nesse período houve evolução estratégica de nomes: em 1992, passou de C.T.I. para M.C.I., Movimento das Comissões de Lutas; em 2011, de M.C.I. para M.C.P., Movimento das Comunidades Populares.

Hoje sou militante não só do MCP, mas de qualquer causa por justiça social das causas humanas.

Parcerias (Relação com outras favelas e territórios periféricos)[editar | editar código-fonte]

Jacarezinho e Manguinhos

Políticas públicas (Relação com poder público/ política institucional)[editar | editar código-fonte]

(2021)

  • Nós temos projetos já em andamento em Manguinhos, onde um dos focos é o Conselho Comunitário de Manguinhos, onde atuam com um coletivo de mais ou menos 30 moradores de Manguinhos. Foi através dessa organização que conseguimos, em 2021, a aprovação de um projeto na Câmara de Vereadores de uma verba no valor de 30 milhões destinados à saúde, sendo 10 milhões para Manguinhos, 10 milhões para o Jacarezinho e 10 milhões para a Maré.
  • Temos outros projetos em andamento em Manguinhos: Rádio do Povo e o jornalzinho O Manguinhos, que é semanal. Já estamos no número 35.
  • Outro projeto ainda a pôr em prática é Ação Popular em Manguinhos. Nesse, vamos precisar de: professores, psicólogos, médicos, agentes de saúde, advogados e outros voluntários. E vamos avançar. A Base é o Povo.

Importância das iniciativas comunitárias e coletivas para que construções relevantes venham a ocorrer nas favelas[editar | editar código-fonte]

A alienação e o individualismo são muito grandes. Temos que elaborar um projeto coletivo com os pés no chão. Viver no meio do povo como um peixe na água. O capitalismo convence, através das mídias e das igrejas, que ser pobre é normal. É um destino por causa do pecado. Porém, o capitalismo oferece brechas para que alguns audaciosos possam vencer na vida. Isso pode ser através de um bom comércio podendo ser um negócio dentro ou fora da favela. Outros conseguem fazer uma faculdade e logo vão embora da favela.

Conheço o Educafro há mais de 20 anos encaminhando jovens à universidade, e assim muitos se formaram e foram embora da favela. Nunca vi um militante de movimentos sociais falar que passou pelo Educafro. São todos alienados e o capitalismo agradece.

Inspiração “Quem te inspirou?”[editar | editar código-fonte]

Movido pela vontade de ver o fim do capitalismo, grande responsável pelas desigualdades sociais

Lembranças:[editar | editar código-fonte]

  • Igreja de São Daniel
  • Conjunto de casas
  • Ruas Santana do Livramento, Gregório de Sá e outras ruas paralelas do outro lado da Estrada de Manguinhos. (Em 1963)
  • Reforça em suas lembranças uma grande enchente que ocorreu em 1991, quando o povo fechou a Avenida dos Democratas com uma montanha formada por geladeiras, colchões etc.

Sonho/futuro - distinção do ser político e do ser indivíduo).[editar | editar código-fonte]

  • Libertação do povo das garras do capitalismo
  • Esperança que um dia a luta dê certo

Quais foram as lutas? Quais foram os aliados? Quais os opositores? Conflitos dentro do grupo? Organizações políticas, religiosas e comunitárias, as quais esteve filiado)

  • MCP (Movimento das Causas Populares)
  • Luta contra os sofrimentos do povo de todos os tipos de opressões e injustiças sociais.
  • Um militante em defesa dos direitos de todos os oprimidos. Por um mundo melhor para todos os humanos.

Sobre as organizações partidárias, o que você teria a dizer?[editar | editar código-fonte]

O Brasil tem hoje com 33 partidos legalizados no TRE. Isso mantém uma boa forma do povo acreditar numa falsa democracia que só serve para manter o poder econômico dos capitalistas.

Com a verba partidária, os partidos usam o povo nas eleições como gado e, com isso, o capital fala mais alto, esmagando a democracia que nunca será os interesses do povo.

Assim, o partido serve aos interesses e à manutenção do estado capitalista, e nunca aos interesses do povo. Em vez do estado servir ao povo, o povo é que serve ao estado organizado pelos partidos que administram os estados. Com isso, o povo fica sem saber o que é democracia.

Os partidos não estão com o povo. Os partidos usam o povo dizendo que é democracia, quando, na realidade, o povo não manda nada, e quem manda é o poder econômico. E o povo não sabe, e os partidos não falam isso ao povo.

Só a palavra partido significa parte do povo e serve para dividir o povo. Logo povo dividido é povo controlado.


Fontes:

Respostas retiradas de uma entrevista concedida para o podcast: Rádio povo – PROGRAMA O MANGUINHO 40). Tema: A luta continua.

https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/56973

https://ielibertarios.wordpress.com/2022/07/04/instituto-de-estudos-libertarios-entrevista-jose-beserra-de-araujo/

Sobre a Favela de Manguinhos[editar | editar código-fonte]

A favela de Manguinhos, também denominada de Complexo de Manguinhos está situada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro e se caracteriza por ter o quinto pior IDH do município e um alto índice de violência urbana. O complexo de Manguinhos conta com 12 comunidades e uma população estimada em 36 mil habitantes.

Sua ocupação ocorreu ao longo do século XX a partir de múltiplas ações, incentivadas pelo estado ou não. É possível identificar cinco ciclos de ocupações da região que foram iniciadas no início do século XX com os funcionários do então Instituto Oswaldo Cruz. O segundo ciclo pode ser identificado durante a década de 1940 com o surgimento do Parque Manoel Chagas, hoje, Varginha.

O terceiro ciclo é localizado na década de 1950 quando são construídos conjuntos habitacionais, alguns de cunho “provisório” - como o CHP-2, que existe até os dias de hoje - e outros de caráter permanente, como a Vila União, destinado a funcionários da Casa da Moeda. É nesse período que se abrem importantes vias como a Rua Leopoldo Bulhões e a Avenida Brasil. Na década de 90 são construídos novos conjuntos habitacionais, já nas margens da rua Leopoldo Bulhões, - o Nelson Mandela e o Samora Machel -, e na década seguinte surgem o Samora II e o Vitória de Manguinhos, ocupando antigos depósitos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Estes dois últimos ciclos de ocupação da região já são compreendidos dentro de uma ação estatal mais planejada.

Assim, atualmente Manguinhos é formada pelas seguintes comunidades: Parque João Goulart, Vila Turismo, CHP-2, Parque Manoel Chagas, Vila União, Vila São Pedro, Comunidade Agrícola de Higienópolis, Parque Oswaldo Cruz, Parque Herédia de Sá, Parque Horácio Cardoso Franco, Vila Arará, Vitória de Manguinhos e Mandela de Pedra, Conjunto ex-Combatentes e Suburbana, Conjunto Nelson Mandela e Conjunto Samora Machel.

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Fotos[editar | editar código-fonte]

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Ver também[editar | editar código-fonte]

O Movimento Revolucionário 8 de Outubro e as favelas no Rio de Janeiro

Ditadura e violência nas favelas

Movimento das Comunidades Populares

Militarização e violência revelam uma “transição inacabada” no Brasil (artigo)

Federação de Favelas do Rio busca reparação inédita por perseguição na ditadura (artigo)

Favelas, pandemias e cidadanias (lives)

Juventudes em favelas (debate)