Tuiuti
Localizado no bairro de São Cristóvão, o Morro do Tuiuti é um dos mais antigos e tradicionais redutos de cultura popular do Rio de Janeiro. Sua história se entrelaça com a própria formação da cidade, remontando ao período imperial, quando a região começou a se desenvolver como área residencial e operária.
História
Desde os tempos do Império, o Morro do Tuiuti, no bairro de São Cristóvão, testemunha e participa ativamente da história do Rio de Janeiro. Sua trajetória se confunde com a própria formação da cidade, começando quando a chegada da família real portuguesa, em 1808, transformou a região. Enquanto a Quinta da Boa Vista se tornava o palácio real, o Tuiuti, ali ao lado, servia como área de apoio, abrigando um reservatório que provavelmente abastecia a corte - um detalhe esquecido pela história oficial, como bem lembra Gleice Valadares, pesquisadora comunitária nascida e criada no morro.
Com o fim da escravidão e a Proclamação da República, o Tuiuti começou a receber ex-escravos e migrantes pobres expulsos dos cortiços do centro durante as reformas urbanas do início do século XX.
Em 1914, os primeiros moradores do morro adquiriram seus lotes através de escrituras lavradas em cartório. A maioria dos terrenos é de propriedade particular, sendo que alguns não resistiram à ocupação irregular e outros foram doados. Durante o governo de Getúlio Vargas, 1930/1945, houve um expressivo crescimento industrial. No início do morro do Tuiuti, foi construído o Conjunto Habitacional Mendes de Morais pelo renomado arquiteto Afonso Eduardo Reidy.[1]
Nos anos 1940, o conjunto habitacional "Minhocão", de Reidy, trouxe melhorias de infraestrutura e moradia para muitos moradores. Diferente de outras favelas, o Tuiuti escapou das violentas remoções do período militar, preservando suas tradições culturais - foi berço de escolas de samba como a original Unidos do Tuiuti e palco de rodas de samba que ecoavam pelas vielas.
Mas os anos 1980 trouxeram desafios. A crise industrial deixou muitos desempregados, abrindo espaço para o tráfico de drogas e a violência. Agora, com a valorização imobiliária na região do Maracanã, os moradores enfrentam um novo desafio: permanecer em suas casas.[2]
Origem do nome
O nome Tuiuti carrega um peso histórico: vem da Batalha de Tuiuti, a mais sangrenta da Guerra do Paraguai. Ironia cruel: enquanto os negros lutavam e morriam num campo de batalha distante, aqui no Rio seus descendentes travavam outra guerra - pela sobrevivência no dia a dia.[3]
Perfil demográfico
Ano | População | Domicílios | Fonte |
---|---|---|---|
2000 | 2.129 | 566 | IBGE - Censo Demografico 2000 |
2010 | 3.263 | 967 | IBGE - Censo Demográfico 2010 |
2022 | 3.482 | 1.417 | IPP com base em IBGE - Censo Demográfico 2022 |
Mapa
Variação da área ocupada
Identificação
- Nome: Tuiuti
- Código: 60
- Data de Cadastramento: 18/03/1981
- Acesso Principal: Rua Marechal Jardim
- Complemento: 739
- Bairro: São Cristóvão
- Região Administrativa: São Cristóvão
- Região de Planejamento: Centro
- Área de Planejamento: 1
- Programa de Urbanização: Favela Bairro
Outros Nomes ou Localidades:
- Faroeste; Lance; Pirulitos e Verdinha.
Paraíso do Tuiuti
Em 5 de abril de 2025, Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti celebra 73 anos de existência — sete décadas de uma trajetória marcada por superação, reinvenção e uma identidade única no carnaval carioca.
Das raízes imperiais ao berço do samba
A história da Tuiuti está entrelaçada com a própria formação do Rio de Janeiro. No século XIX, quando a família real portuguesa se instalou no Palácio de São Cristóvão, o Morro do Tuiuti ainda era uma área despovoada, pertencente às terras do imperador Dom João VI. Com a abolição da escravidão (1888) e as reformas urbanas de Pereira Passos (1902-1906), ex-escravizados e trabalhadores pobres foram expulsos dos cortiços do centro e subiram o morro, dando início à ocupação que mais tarde se tornaria um celeiro cultural.
Ali, nasceram as primeiras manifestações carnavalescas do Tuiuti:
- Unidos do Tuiuti (extinta em 1930)
- Bloco dos Brotinhos (décadas de 1930-50)
- Paraíso das Baianas (1940-50)
Essas três agremiações se fundiram para dar origem, em 5 de abril de 1952, à Paraíso do Tuiuti, batizada em homenagem às suas antecessoras e vestindo amarelo e azul — cores que carregam essa memória.
Ascensão, quedas e o renascimento no Grupo Especial
Por décadas, a Tuiuti foi uma escola pouco conhecida, até que, em 1980, a carnavalesca Maria Augusta Rodrigues levou a escola ao título do Grupo 2B com o enredo "É a Sorte".
O século XXI trouxe novos desafios:
- 2001: Estreia no Grupo Especial, mas é rebaixada.
- 2016: Vence a Série A e retorna à elite do carnaval.
- 2017: Tragédia no desfile, quando uma alegoria se desgovernou e feriu espectadores, incluindo a radialista Liza Carioca, que viria a falecer meses depois.
Mas foi em 2018 que a escola revolucionou o carnaval com o enredo "Meu Deus, Meu Deus! Está Extinta a Escravidão?" (Jack Vasconcelos), uma crítica contundente à falsa abolição e às condições dos trabalhadores negros no Brasil. O desfile, emocionante e politizado, rendeu o vice-campeonato — o melhor resultado da história da agremiação.[4]
Fundação | 05/04/1952 |
Cores | Amarelo ouro e azul pavão |
Presidente | Renato Thor |
Quadra | Campo de São Cristóvão, 33 - São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ CEP 20921-440 |
Telefone Quadra | (21) 97398-1021 |
Barracão | Cidade do Samba (Barracão nº 09) - Rua Rivadávia Correa, nº 60 - Gamboa - CEP: 20.220-290 |
Site | www.paraisodotuiuti.com.br |
assessoriaparaisodotuiuti@gmail.com | |
Imprensa | Igor Ricardo Tel.: (21) 99517-7736 |
Enredo 2025 | Quem tem medo de Xica Manicongo? |
Carnavalesco | Jack Vasconcelos |
Diretores de Carnaval | Andrezinho Show, Thiago Dias, Allan Guimarães e Rodrigo Soares |
Intérprete | Pixulé |
Mestre de Bateria | Marcão |
Rainha de Bateria | Mayara Lima |
Mestre-Sala e Porta-Bandeira | Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane |
Comissão de Frente | Claudia Mota e Edifranc Alves |
Ver também
- Xica Manicongo: Memória e Resistência Trans no Brasil Colonial
- Raízes africanas e identidade negra no Carnaval 2025
- Barreira do Vasco
- Anthony e Elizabeth Leeds (pesquisadores)
- Anthony Leeds (pesquisador)
Notas e referências
- ↑ SABREN - PCRJ. FavelaBusca. Disponível em: https://sabren-pcrj.hub.arcgis.com/pages/favelabusca. Acesso em: 24 mar. 2025.
- ↑ RIOONWATCH. Morro do Tuiuti: O Morro que Conta a História do Rio. Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=7404. Acesso em: 24 mar. 2025.
- ↑ MÍDIA NINJA. Paraíso do Tuiuti é a campeã do povo. Disponível em: https://midianinja.org/opiniao/paraiso-do-tuiuti-e-a-campea-do-povo/. Acesso em: 24 mar. 2025.
- ↑ CN1 BRASIL. RJ: Dia 05 de abril celebramos a fundação do Quilombo da Favela – 71 anos da Paraíso do Tuiuti. Disponível em: https://cn1brasil.com.br/rj-dia-05-de-abril-celebramos-a-fundacao-do-quilombo-da-favela-71-anos-da-paraiso-do-tuiuti/. Acesso em: 24 mar. 2025.