Amar na Maré - a revolta de uma multidão: mudanças entre as edições
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Resumo | == Resumo == | ||
Memorando da aula aberta “Amar na [[Complexo da Maré|Maré]], a revolta de uma multidão” promovida pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas” e ministrada pelo Walace Lino. | |||
Walace Lino, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Relações Étnico Raciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca | == Sobre Walace Lino == | ||
Walace Lino, mestre pelo Programa de Pós-graduação em [[Cadernos Identidades e Racialidades na Maré|Relações Étnico Raciais]] do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. | |||
Pesquisador, ator, diretor, dramaturgo e educador. Formado em licenciatura do teatro pela Escola de Teatro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é integrante da cia marginal, companhia reconhecida na cena artística contemporânea carioca, com uma trajetória marcada pelo compromisso político de levar a arte da favela para o resto da cidade, do país e até do mundo, desde 2005. | |||
É ainda cofundador do Grupo Atiro, braço pedagógico da cia marginal que oferece aulas de teatro a moradores da Maré, e cocriador do projeto Entidade Maré, fundado em 2020 com objetivo de apresentar a memória cultural [[Coletiva Resistência Lésbica da Maré (Complexo da Maré / Rio de Janeiro – RJ)|LGBTQIA+]] na inscrição deste território e da cidade, no qual toda pesquisa se transforma ou resulta em um produto artístico. | |||
Cria da Maré, bairro localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e formado por um conglomerado de 16 comunidades, teve seu território delimitado pelo Decreto nº 7.980/88. Atualmente é considerado um dos maiores [[Lista de Favelas do Rio de Janeiro|conjuntos de favela]] do Brasil. | |||
== Trajetória de trabalhos de Walace Lino == | |||
=== 2021 e 2022 === | |||
O trabalho “Amar na Maré” e “Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras [[Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas|LGBT]]+ faveladas”, foram publicados nos anos de 2021 e 2022 respectivamente, pós [[Pandemia nas favelas: entre carências e potências|pandemia]] do coronavírus que assolou o Brasil e o mundo, período em que o Brasil foi fortemente afetado pelos seus efeitos, em especial a cultura e territórios de favela. | |||
=== 2023 === | |||
Em março de 2023 ministrou a aula “Amar na Maré, a revolta de uma multidão” para alunos e convidados do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas”, lecionada pela Prof. Palloma Valle Menezes | |||
=== Objetivos dos textos === | |||
Ambos os textos produzidos por Walace Lino, versam sobre a ocupação-espetáculo. | |||
No caso de “Noite das Estrelas” , possui como objetivo compartilhar a memória coletiva sobre a população LGBTQIA+ da Maré e assim transpor abismos territoriais e de gênero. | |||
=== Argumentos utilizados pelo autor === | |||
Lino argumenta que o fato de ser morador da Maré faz com que a pesquisa sobre as narrativas LGBT não seja algo pontual em algum momento específico da vida, mas que o atravessa. | |||
Deste modo, almeja-se apresentar o conceito de favela para além do paradigma da ausência, da falta, com ênfase nas expressões da questão social mas apresentar e trabalhar a potência deste território (Fernandes et al, 2018) e o seu processo de resistência. | |||
Durante a palestra, Lino ressalta que a morte existe como uma imagem de uma brincadeira íntima que vivem as pessoas pretas, periféricas e faveladas. Nesse sentido, quis fugir da temática comum e estigmatizada para fazer menção às travestis como a relação com o HIV, ou da violência e mortalidade, e optou, através da ocupação “Noite das Estrelas”, por falar de amor. | |||
=== Metodologia da pesquisa === | |||
Para a realização da pesquisa foi adotada a história oral para a produção de dados, privilegiando a narrativa da população LGBTQIA+ da Maré, sua memória e história, somada a análise de fotografias e observação das performances. No que tange ao método da história oral, Portelli (2010) nos ensina que a proposta é recolher a voz de um determinado grupo e amplificá-la à medida que a levamos para o espaço público, uma vez que até então essa voz estava restrita a um espaço limitado. Ressaltamos se tratar de uma metodologia muito utilizada para se trabalhar a memória, por permitir que grupos muitas vezes invisibilizados sejam ouvidos, humanizando histórias e preservando a memória coletiva de uma determinada comunidade. | |||
=== Obstáculos === | |||
*Andrade, J.; Lino, W. G.; Affonso, M. ; Lino, P. V. Amar na maré. Espaço Público Periódico: Piseagrama, v. 1, p. 10, 2021. | Dito isto, enfatizamos que Lino percebeu que diversos espaços de memória da Maré não tinham ou não queriam compartilhar os registros da época da Noite das Estrelas dos anos 80 e 90, sob a justificativa de que era uma época muito violenta para a comunidade LGBT. Pantera (uma das atrizes) e vizinhos, contudo, possuíam diversos registros em vídeo e foto, aos quais Lino teve acesso. Lino argumenta que “Noite das Estrelas” está ligada à história do Rio de Janeiro: “quando a gente fala de Rio de Janeiro e não fala de algo que durou 20 anos e arrastou multidões, a gente não sabe nada da história do Rio de Janeiro”, afirma o autor. Conforme destacou em sua fala, “a proposta é resgatar o protagonismo, o discurso deste grupo”, produzindo um espetáculo para conservação da memória, compartilhamento e preservação da cultura. Há, nesse sentido, uma perspectiva do sonho na Noite das Estrelas: como o sonho é matéria, e material de um vida que é infinita: “os nossos que se foram continuam vivos na gente”, diz Lino. | ||
*Lino, Wallace. Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas. Revista Museologia & Interdisciplinaridade, v. 1, p. 149-163, 2022. | |||
*FERNANDES, F., SILVA, J. de S., BARBOSA, Jorge. O paradigma da potência e a pedagogia da convivência. Revista periferias, R.J., 2018. Disponível em: <nowiki>https://revistaperiferias.org/materia/o-paradigma-da-potencia-e-a-pedagogia-da-convivencia/</nowiki> | === Conceitos utilizados === | ||
Por fim, para além do conceito de favela outros conceitos importantes também foram utilizados na produção dos textos. | |||
Entre eles, é possível mencionar o debate proposto sobre memória, englobando o conceito de memória coletiva para reconhecimento e construção de identidade; | |||
lugar de memória ao enfatizar como os diferentes processos de ocupação na Maré geraram obstáculos à constituição do bairro Maré enquanto lugar de memória, onde as diferentes identidades e as inúmeras memórias dos moradores pudessem encontrar ancoradouro; | |||
a interseccionalidade que embora seja uma discussão recente é extremamente necessária e parte das novas demandas que estão sendo apresentadas pela sociedade; | |||
e o esvaziamento da resistência, expressão usada por Lino para criticar a ideia de resistência que desconsidera o papel do desejo do grupo/pessoa que “resiste”. | |||
A criação da Maré está, para o autor, neste lugar, de um povo que quer ser livre, que não apenas “resiste”, mas que possui desejos e vontades legítimos. | |||
== Fontes == | |||
[https://entidademare.com/noite-das-estrelas/ Entidade Maré] | |||
[https://entidademare.com/quem-somos/ Sobre a Entidade Maré] | |||
[https://observatoriodefavelas.org.br/noite-das-estrelas-ilumina-as-ruas-da-nova-holanda/ Observatório de favelas] | |||
[https://www.youtube.com/watch?v=CDuyybvmQt4 Filme “Noite das Panteras”] | |||
[https://www.youtube.com/watch?v=KoVp55PUq-Y Antes da Noite Pesquisa] | |||
[https://www.redesdamare.org.br/br/info/1/cia-marginal Redes da Maré] | |||
== Bibliografia == | |||
*Andrade, J.; Lino, W. G.; Affonso, M. ; Lino, P. V. '''Amar na maré'''. Espaço Público Periódico: Piseagrama, v. 1, p. 10, 2021. | |||
*Lino, Wallace. '''Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas.''' Revista Museologia & Interdisciplinaridade, v. 1, p. 149-163, 2022. | |||
*FERNANDES, F., SILVA, J. de S., BARBOSA, Jorge. '''O paradigma da potência e a pedagogia da convivência'''. Revista periferias, R.J., 2018. Disponível em: <nowiki>https://revistaperiferias.org/materia/o-paradigma-da-potencia-e-a-pedagogia-da-convivencia/</nowiki> | |||
*PORTELLI, Alessandro. '''História Oral e Poder.''' Mnemosine, Vol.6, nº2, 2010, p.2-13. | |||
== Ver também == | |||
[[Grupo CASA - estudo sociais sobre moradia e cidade]] | |||
[[Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas]] | |||
[[Ser trans na favela (revista)]] |
Edição atual tal como às 18h51min de 27 de junho de 2024
Estudo relacionado ao trabalho: Clássicos e contemporâneos sobre favelas: Curso IESP-UERJ.
Autoria: Mariana Vieira e Isabela Maia
Aula aberta com participação de Wallace Lino
Resumo[editar | editar código-fonte]
Memorando da aula aberta “Amar na Maré, a revolta de uma multidão” promovida pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas” e ministrada pelo Walace Lino.
Sobre Walace Lino[editar | editar código-fonte]
Walace Lino, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Relações Étnico Raciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca.
Pesquisador, ator, diretor, dramaturgo e educador. Formado em licenciatura do teatro pela Escola de Teatro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é integrante da cia marginal, companhia reconhecida na cena artística contemporânea carioca, com uma trajetória marcada pelo compromisso político de levar a arte da favela para o resto da cidade, do país e até do mundo, desde 2005.
É ainda cofundador do Grupo Atiro, braço pedagógico da cia marginal que oferece aulas de teatro a moradores da Maré, e cocriador do projeto Entidade Maré, fundado em 2020 com objetivo de apresentar a memória cultural LGBTQIA+ na inscrição deste território e da cidade, no qual toda pesquisa se transforma ou resulta em um produto artístico.
Cria da Maré, bairro localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e formado por um conglomerado de 16 comunidades, teve seu território delimitado pelo Decreto nº 7.980/88. Atualmente é considerado um dos maiores conjuntos de favela do Brasil.
Trajetória de trabalhos de Walace Lino[editar | editar código-fonte]
2021 e 2022[editar | editar código-fonte]
O trabalho “Amar na Maré” e “Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas”, foram publicados nos anos de 2021 e 2022 respectivamente, pós pandemia do coronavírus que assolou o Brasil e o mundo, período em que o Brasil foi fortemente afetado pelos seus efeitos, em especial a cultura e territórios de favela.
2023[editar | editar código-fonte]
Em março de 2023 ministrou a aula “Amar na Maré, a revolta de uma multidão” para alunos e convidados do Programa de Pós-graduação em Sociologia do IESP-UERJ, inserida no programa da disciplina “Clássicos contemporâneos sobre favelas”, lecionada pela Prof. Palloma Valle Menezes
Objetivos dos textos[editar | editar código-fonte]
Ambos os textos produzidos por Walace Lino, versam sobre a ocupação-espetáculo.
No caso de “Noite das Estrelas” , possui como objetivo compartilhar a memória coletiva sobre a população LGBTQIA+ da Maré e assim transpor abismos territoriais e de gênero.
Argumentos utilizados pelo autor[editar | editar código-fonte]
Lino argumenta que o fato de ser morador da Maré faz com que a pesquisa sobre as narrativas LGBT não seja algo pontual em algum momento específico da vida, mas que o atravessa.
Deste modo, almeja-se apresentar o conceito de favela para além do paradigma da ausência, da falta, com ênfase nas expressões da questão social mas apresentar e trabalhar a potência deste território (Fernandes et al, 2018) e o seu processo de resistência.
Durante a palestra, Lino ressalta que a morte existe como uma imagem de uma brincadeira íntima que vivem as pessoas pretas, periféricas e faveladas. Nesse sentido, quis fugir da temática comum e estigmatizada para fazer menção às travestis como a relação com o HIV, ou da violência e mortalidade, e optou, através da ocupação “Noite das Estrelas”, por falar de amor.
Metodologia da pesquisa[editar | editar código-fonte]
Para a realização da pesquisa foi adotada a história oral para a produção de dados, privilegiando a narrativa da população LGBTQIA+ da Maré, sua memória e história, somada a análise de fotografias e observação das performances. No que tange ao método da história oral, Portelli (2010) nos ensina que a proposta é recolher a voz de um determinado grupo e amplificá-la à medida que a levamos para o espaço público, uma vez que até então essa voz estava restrita a um espaço limitado. Ressaltamos se tratar de uma metodologia muito utilizada para se trabalhar a memória, por permitir que grupos muitas vezes invisibilizados sejam ouvidos, humanizando histórias e preservando a memória coletiva de uma determinada comunidade.
Obstáculos[editar | editar código-fonte]
Dito isto, enfatizamos que Lino percebeu que diversos espaços de memória da Maré não tinham ou não queriam compartilhar os registros da época da Noite das Estrelas dos anos 80 e 90, sob a justificativa de que era uma época muito violenta para a comunidade LGBT. Pantera (uma das atrizes) e vizinhos, contudo, possuíam diversos registros em vídeo e foto, aos quais Lino teve acesso. Lino argumenta que “Noite das Estrelas” está ligada à história do Rio de Janeiro: “quando a gente fala de Rio de Janeiro e não fala de algo que durou 20 anos e arrastou multidões, a gente não sabe nada da história do Rio de Janeiro”, afirma o autor. Conforme destacou em sua fala, “a proposta é resgatar o protagonismo, o discurso deste grupo”, produzindo um espetáculo para conservação da memória, compartilhamento e preservação da cultura. Há, nesse sentido, uma perspectiva do sonho na Noite das Estrelas: como o sonho é matéria, e material de um vida que é infinita: “os nossos que se foram continuam vivos na gente”, diz Lino.
Conceitos utilizados[editar | editar código-fonte]
Por fim, para além do conceito de favela outros conceitos importantes também foram utilizados na produção dos textos.
Entre eles, é possível mencionar o debate proposto sobre memória, englobando o conceito de memória coletiva para reconhecimento e construção de identidade;
lugar de memória ao enfatizar como os diferentes processos de ocupação na Maré geraram obstáculos à constituição do bairro Maré enquanto lugar de memória, onde as diferentes identidades e as inúmeras memórias dos moradores pudessem encontrar ancoradouro;
a interseccionalidade que embora seja uma discussão recente é extremamente necessária e parte das novas demandas que estão sendo apresentadas pela sociedade;
e o esvaziamento da resistência, expressão usada por Lino para criticar a ideia de resistência que desconsidera o papel do desejo do grupo/pessoa que “resiste”.
A criação da Maré está, para o autor, neste lugar, de um povo que quer ser livre, que não apenas “resiste”, mas que possui desejos e vontades legítimos.
Fontes[editar | editar código-fonte]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Andrade, J.; Lino, W. G.; Affonso, M. ; Lino, P. V. Amar na maré. Espaço Público Periódico: Piseagrama, v. 1, p. 10, 2021.
- Lino, Wallace. Noite das Estrelas: uma explosão de amor das grafias cosmopoéticas negras LGBT+ faveladas. Revista Museologia & Interdisciplinaridade, v. 1, p. 149-163, 2022.
- FERNANDES, F., SILVA, J. de S., BARBOSA, Jorge. O paradigma da potência e a pedagogia da convivência. Revista periferias, R.J., 2018. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/o-paradigma-da-potencia-e-a-pedagogia-da-convivencia/
- PORTELLI, Alessandro. História Oral e Poder. Mnemosine, Vol.6, nº2, 2010, p.2-13.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Grupo CASA - estudo sociais sobre moradia e cidade