Sobrevivente do cárcere: mudanças entre as edições

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== Conceito ==
== Sobre ==
É frequente o uso dos termos "ex-presidiário", "ex-detento" e/ou "egresso do sistema" para fazer referência a pessoas que cumpriram algum tipo de penalidade judicial no [[Estudos sobre prisão: um balanço do estado da arte nas Ciências Sociais nos últimos vinte anos no Brasil (1997-2017) (resenha)|sistema prisional]] no Brasil. Mas, do ponto de vista de pessoas que já viveram em regime de privação de liberdade, a expressão “sobrevivente do cárcere” pode ser mais condizente para definir a sua história. Tratam-se de pessoas que sobreviveram, apesar de todas as agruras sofridas, de ter sido expostas a [[Laboratório de Estudos das Violências (LEVIS)|violências]] físicas e psicológicas, além de, não raro, passarem por situações de privação de direitos básicos assegurados pela [https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Constituição Federal].
É frequente o uso dos termos "ex-presidiário", "ex-detento" e/ou "egresso do sistema" para fazer referência a pessoas que cumpriram algum tipo de penalidade judicial no [[Estudos sobre prisão: um balanço do estado da arte nas Ciências Sociais nos últimos vinte anos no Brasil (1997-2017) (resenha)|sistema prisional]] no Brasil. Mas, do ponto de vista de pessoas que já viveram em regime de privação de liberdade, a expressão “sobrevivente do cárcere” pode ser mais condizente para definir a sua história. Tratam-se de pessoas que sobreviveram, apesar de todas as agruras sofridas, de ter sido expostas a [[Laboratório de Estudos das Violências (LEVIS)|violências]] físicas e psicológicas, além de, não raro, passarem por situações de privação de direitos básicos assegurados pela [https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Constituição Federal].
O termo "sobrevivente do cárcere" refere-se a indivíduos que, após passarem por longos períodos de encarceramento, conseguem retomar a vida em sociedade, ainda que com as marcas e os desafios psicológicos e sociais resultantes do tempo vivido em privação de liberdade. O conceito vem ganhando força, principalmente em estudos sobre o sistema prisional e suas consequências no processo de reintegração dos egressos no ambiente externo.
Um sobrevivente do cárcere carrega consigo uma série de traumas, tanto físicos quanto emocionais, que são consequências diretas da exposição a condições degradantes de vida, violência institucionalizada e, muitas vezes, à ausência de programas de reabilitação eficazes dentro do sistema carcerário. Além disso, a estigmatização social é uma barreira adicional enfrentada por esses indivíduos, uma vez que, mesmo após o cumprimento da pena, o rótulo de "ex-presidiário" frequentemente limita suas oportunidades de emprego e aceitação social<ref>Wacquant, L. (2001). ''As prisões da miséria''. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.</ref>.
O conceito também está associado à crítica ao sistema penal, que em muitos casos falha ao não fornecer condições adequadas para a recuperação dos indivíduos encarcerados. Em vez de promover a ressocialização, o sistema prisional muitas vezes exacerba as condições que levaram ao encarceramento, criando um ciclo de reincidência<ref>Azevedo, R. & Tavares, L. (2018). "Ressocialização ou Reincidência? Uma análise crítica do sistema prisional brasileiro". ''Revista Brasileira de Criminologia'', 24(2), 112-130</ref>.
Alguns pesquisadores argumentam que a experiência prisional, em vez de preparar o indivíduo para a reinserção social, acentua as desigualdades sociais e perpetua um ciclo de marginalização<ref>Fassin, D. (2017). ''Punir: Uma paixão contemporânea''. São Paulo: Boitempo Editorial.</ref>. Em diversos estudos, fica claro que as prisões acabam servindo mais como locais de exclusão social do que de recuperação e transformação, sendo os "sobreviventes do cárcere" aqueles que conseguem, apesar dessas dificuldades, reconstruir suas vidas fora das grades<ref>Santos, M. P. (2019). "Sobreviventes do cárcere: os desafios da reinserção social pós-encarceramento". ''Revista de Direitos Humanos e Justiça Criminal'', 9(1), 45-58.</ref>.
Por isso, a expressão "sobrevivente do cárcere" carrega em si uma reflexão profunda sobre as falhas e contradições do sistema de justiça penal e sobre a resiliência dos indivíduos que, mesmo após a experiência do encarceramento, buscam sua reintegração e dignidade.
== Vídeos sobre o assunto ==
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== Ver também ==
== Ver também ==

Edição das 09h56min de 11 de setembro de 2024

Sobrevivente do cárcere é uma expressão usada para fazer referência a uma pessoa egressa do sistema prisional brasileiro.

Autoria: Joyce Gravano

Sobre

É frequente o uso dos termos "ex-presidiário", "ex-detento" e/ou "egresso do sistema" para fazer referência a pessoas que cumpriram algum tipo de penalidade judicial no sistema prisional no Brasil. Mas, do ponto de vista de pessoas que já viveram em regime de privação de liberdade, a expressão “sobrevivente do cárcere” pode ser mais condizente para definir a sua história. Tratam-se de pessoas que sobreviveram, apesar de todas as agruras sofridas, de ter sido expostas a violências físicas e psicológicas, além de, não raro, passarem por situações de privação de direitos básicos assegurados pela Constituição Federal.

O termo "sobrevivente do cárcere" refere-se a indivíduos que, após passarem por longos períodos de encarceramento, conseguem retomar a vida em sociedade, ainda que com as marcas e os desafios psicológicos e sociais resultantes do tempo vivido em privação de liberdade. O conceito vem ganhando força, principalmente em estudos sobre o sistema prisional e suas consequências no processo de reintegração dos egressos no ambiente externo.

Um sobrevivente do cárcere carrega consigo uma série de traumas, tanto físicos quanto emocionais, que são consequências diretas da exposição a condições degradantes de vida, violência institucionalizada e, muitas vezes, à ausência de programas de reabilitação eficazes dentro do sistema carcerário. Além disso, a estigmatização social é uma barreira adicional enfrentada por esses indivíduos, uma vez que, mesmo após o cumprimento da pena, o rótulo de "ex-presidiário" frequentemente limita suas oportunidades de emprego e aceitação social[1].

O conceito também está associado à crítica ao sistema penal, que em muitos casos falha ao não fornecer condições adequadas para a recuperação dos indivíduos encarcerados. Em vez de promover a ressocialização, o sistema prisional muitas vezes exacerba as condições que levaram ao encarceramento, criando um ciclo de reincidência[2].

Alguns pesquisadores argumentam que a experiência prisional, em vez de preparar o indivíduo para a reinserção social, acentua as desigualdades sociais e perpetua um ciclo de marginalização[3]. Em diversos estudos, fica claro que as prisões acabam servindo mais como locais de exclusão social do que de recuperação e transformação, sendo os "sobreviventes do cárcere" aqueles que conseguem, apesar dessas dificuldades, reconstruir suas vidas fora das grades[4].

Por isso, a expressão "sobrevivente do cárcere" carrega em si uma reflexão profunda sobre as falhas e contradições do sistema de justiça penal e sobre a resiliência dos indivíduos que, mesmo após a experiência do encarceramento, buscam sua reintegração e dignidade.

Vídeos sobre o assunto

Ver também

  1. Wacquant, L. (2001). As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
  2. Azevedo, R. & Tavares, L. (2018). "Ressocialização ou Reincidência? Uma análise crítica do sistema prisional brasileiro". Revista Brasileira de Criminologia, 24(2), 112-130
  3. Fassin, D. (2017). Punir: Uma paixão contemporânea. São Paulo: Boitempo Editorial.
  4. Santos, M. P. (2019). "Sobreviventes do cárcere: os desafios da reinserção social pós-encarceramento". Revista de Direitos Humanos e Justiça Criminal, 9(1), 45-58.