O Alvorecer no Galo (poema)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 16h35min de 13 de junho de 2024 por Kita Pedroza (discussão | contribs) (Kita Pedroza moveu O Alvorecer no Galo (poesia) para O Alvorecer no Galo (poema): correção / tipologia do verbete, de acordo com o manual de CRIAÇÃO E EDIÇÃO DE VERBETES - PRIORIDADES)

O Alvorecer no Galo é um relato poético sobre a 21ª Semana dos Museus, evento ocorrido em maio de 2023 no Museu de Favela (MUF), no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (PPG), conjunto de favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Autoria: Marcos Vinícios de Souza[1][2].
21ª Semana dos Museus, no Museu de Favela, no Cantagalo. Foto Marcos Vinícios.
21ª Semana dos Museus, no Museu de Favela, no Cantagalo. Foto Marcos Vinícios.

Contexto

Com uma extensa programação, o MUF recebeu pessoas de toda a cidade para discutir a museologia social enquanto potência comunitária e a favela enquanto museu à céu aberto. Nesse sentido, a programação incluiu um tour pelo circuito de “casas-tela”, residências de favela que são em si obras de arte; a mostra Primeiros Olhares, na Creche Tia Elza, com fotografias feitas por pequenos alunos do PPG; um mutirão de plantio de novas mudas na horta comunitária; uma oficina de capoeira com o Mestre Tartaruga; e uma visita mediada por alunos de museologia da UNIRIO na Exposição Canudos no Museu de Favela, todas atividades em tom com os objetivos definidos nos movimentos de museologia social para a semana.

Através deste relato, em forma de poesia, o poeta, rapper e fotógrafo Marcos Vinícios, conta como foi estar no Cantagalo, no Museu de Favela, durante a 21ª Semana dos Museus.

Poesia

Hoje, mesmo sem o galo cantar, como diz o poeta

Se mantém a essência, nas paredes a história e na ponta da língua a vivência

Mesmo com tanta carência se vê nos olhos a sina de querer ser feliz

Favela raiz, mesmo sendo na parte Sul do mapa

Onde não se tem camadas, tudo se mistura como o arroz e feijão

Norte e Nordeste presente, tanto quanto quem é da gema

Aos pés do Cristo, que parece não olhar pra baixo, de tão alto que tá

Se vê lagoa, se vê floresta e também o mar

Quem garante a arqueologia do futuro é o Museu de Favela, não só nas Casas-Tela, ou contando sobre Canudos.

Pode ter certeza lhe asseguro que quem conhece gosta

Não dá pra dar um rolé com a Márcia e ficar sem entender minimamente os porquês dali

Tem muita coisa!

E não tem uma pessoa que não a conhece.

Ela faz lembrar a quem se esquece!

Mesmo com alguns problemas, mantemos a fé

Com o Cristo não vendo

Rezamos pra Oxalá que, mesmo vindo do lado de lá, olha por nós que estamos cá.

Museu a céu aberto, de pedra, concreto e tinta.

Que tinge a vida que tentam deixar vazia e incolor.

Terra fértil de artista, que não dependem da pista pra nada.

Descer, só pra nadar, porque o mar é público, herança de mãe Iemanjá

Mesmo com fome, se alimenta,

De mão de obra, arte e cultura.

Quem vem de fora explora, come, bebe e acha da hora.

Mas logo vai embora, não volta e acha que já conhece tudo.

Kaô só pra saudar meu pai Xangô.

E que Ele ouça nossas preces quando anoitece,

Com a certeza de um novo dia, que vem.

O alvorecer mais lindo do Rio é quando o Galo amanhece.

Ver também

  1. Sobre o poeta: Marcos Vinícios de Souza é cria do Morro do Fogueteiro, dançarino, fotógrafo, filmmaker, produtor e ator. Iniciou sua trajetória artística aos 15 anos com a dança. No audiovisual, participou da CriaAtivo Film School, permeando diversas formas de expressar e tem buscado registrar e contar a sua história e a dos que o cercam.
  2. Publicado originalmente no RioOnWatch.