Preserve Morro Santana (projeto)
Preserve Morro Santana é um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizado na zona leste de Porto Alegre e coordenado pelo Professor Alexandre Magalhães.
Autoria: Alexandre Magalhães.
Sobre
“Preserve Morro Santana” é um projeto que visa, através da troca de saberes e de maneira interdisciplinar, estimular a organização comunitária em defesa da preservação ambiental e histórica do Morro Santana, comunidade periférica da Zona Leste de Porto Alegre. O ponto de partida para sua realização é o fato de que os moradores desta localidade enfrentam diferentes desafios relacionados à problemas socioambientais provocados pela expansão da fronteira imobiliária da região e pelos riscos causados por eventos climáticos. Pode-se observar também o desmatamento de áreas de mata nativa para a instalação de grandes empreendimentos, além do aumento de focos de acúmulo de lixo, poluição de nascentes e proliferação de doenças como resultado do acesso precário ao abastecimento de água, saneamento básico e coleta seletiva.
A questão ambiental na contemporaneidade é tema central nos debates acadêmicos, políticos, econômicos e sociais. Afinal, questões como a escassez de recursos naturais, a poluição global, as mudanças climáticas, a perda de fontes de água doce, a erosão da biodiversidade agrícola e silvestre, a degradação de solos e a acelerada desapropriação da vida das populações tradicionais são grandes problemas que ameaçam o futuro da vida no planeta (FLOSS; ILGENFRITZ; BARROS, 2020, p. 5). Nas palavras de Alberto Acosta (2016, p. 66): “[...] hoje em dia tudo indica que o crescimento material infinito poderá culminar em suicídio coletivo.”
Ao longo do tempo, a paisagem do Morro Santana foi se transformando, de maneira que seu ecossistema de campos, florestas e nascentes atualmente é diretamente impactado pela dinâmica urbana, ao mesmo que exerce uma influência sobre ela. Resulta desse processo uma complexa configuração do território, situado numa região de expansão da fronteira imobiliária, contornado por importantes avenidas e habitado por dezenas de milhares de habitantes (SILVA, 2021). Grande parte destes moradores se situa nas vilas que contornam o morro, outra parcela da população reside em áreas com maior infraestrutura urbana, onde geralmente estão localizados condomínios habitacionais verticais e horizontais.
Muitas vezes, esse convívio produz “polos de tensão e fricção” (TELLES, 2015, p. 23) que consequentemente irão exercer influência nas definições ou categorizações a respeito do que se entende por Morro Santana. Essas linhas que delimitam o “morro” (no sentido estrito do termo), variam justamente porque elas são decorrentes dessas disputas e jogos de poder, que determinam o que está “dentro” e o que está “fora” de cada categorização.
Tendo em vista tal configuração, esta é uma ação de extensão que se pretende inter-transdisciplinar e que busca articular coletivos e organizações comunitárias, práticas sustentáveis e de memória. A partir de projetos específicos, esse programa contempla um conjunto variado de intervenções interconectadas dimensionadas da seguinte forma: divulgação e discussão com os moradores acerca dos objetivos e propostas dos projetos; realização de oficinas de formação e capacitação a respeito de questões relacionadas às condições socioambientais e históricas da região. Concomitantemente, estabelecer uma aproximação com as escolas públicas locais com o objetivo de construir protocolos de educação ambiental.
Numa terceira fase, estruturar e realizar ecotrilhas conduzidas pelos próprios moradores. Simultaneamente, elaborar formas de intervenção no sentido da gestão de resíduos produzidos localmente (lixo, esgoto sanitário). Numa quarta fase, através da convergência dos elementos antecessores, propor dinâmicas no intuito de alcançar a saúde mental.
O projeto atua coletivamente a partir de diferentes parcerias: com os coletivos locais Retomada indígena Gãh Ré, Mães da Periferia, Resistência Popular Comunitária, Visão Periférica e com diferentes lideranças comunitárias; com outros projetos e instâncias da UFRGS, como o Viveiros Comunitários, Projeto Horta e o Diretório Acadêmico do Curso de Biologia (DAIB), Programa de Pós-Graduação em Sociologia; além disso, buscamos nos articular com as escolas locais através de diferentes atividades, como “rodas de conversa” e debates. Compreendemos que articulações como essas proporcionam a ampliação da rede de atuação e mobilização no referido território.
Ações
Desde 2021, o Preserve ajudou a construir ou participamos de diferentes frentes de ações, que dizem respeito aos eixos de organização do programa, que serão resumidas adiante:
- Durante este período, houve participação em algumas atividades acadêmicas relacionadas à educação e questões socioambientais, tais como: o "I Seminário Estadual de História e Educação - Educação para as Relações Étnico Raciais", realizado na UniRitter, Campus FAPA; da Semana Acadêmica 2023 do curso de Biologia da UFRGS, integrando a Mesa Redonda "Coletivos Ambientalistas e Reivindicações Atuais". Estes debates são espaços fundamentais de troca com outras iniciativas parecidas com a do Preserve.
- Apoio à Retomada Gãh Ré tanto em sua manutenção cotidiana, a partir da colaboração em campanhas de doações, realizações de ecotrilhas, bem como na defesa de sua permanência e reconhecimento ao seu direito àquela terra por meio da elaboração da nota técnica que embasou a atuação do Ministério Público Federal. Além disso, contribuímos na articulação de apoios e na divulgação dos acontecimentos mais significativos neste quase um ano de retomada.
- O Programa seguiu com a realização das ecotrilhas, uma das principais atividades definidas pela nossa proposta. É importante lembrar que elas não surgiram com o Preserve, mas por meio do coletivo Visão Periférica, que desde 2014 realizou diversas ecotrilhas, interrompendo-as durante a pandemia de covid-19. Essa atividade tem como objetivo fundamental fazer (re)conhecer o Morro Santana em suas dimensões socioambientais e históricas, bem como estabelecer maior aproximação da população local e do restante da cidade com a diversidade ambiental e histórica da localidade. As ecotrilhas assumem um papel importante de pensar a cidade de Porto Alegre desde a perspectiva de seus territórios periféricos. Desde 2022, foram realizadas 8 ecotrilhas em parceria com a Retomada, com o DA Biologia (DAIB) da UFRGS, escolas públicas e outras em conjunto com moradores locais, abertas aos demais cidadãos da cidade. Importante destacar como, nestes anos de existência do programa de extensão, é possível observar como, crescentemente, os moradores do Morro Santana estão se engajando cada vez mais na organização e realização dessas atividades. A divulgação é feita normalmente via página no Instagram (@preservemorrosantana) e Facebook e, recentemente, tivemos o reconhecimento dessa iniciativa por meio de matérias veiculadas através do GZH e da TV Pampa, além dos canais de divulgação da própria universidade.
- Destaca-se também a organização de duas edições do “Curso de Formação de Condutores Locais”, que foi desenvolvido para proporcionar aos moradores capacitação para a condução de ecotrilhas na região e a construção do turismo de base comunitária.
- Outro eixo importante do programa são as atividades junto às escolas públicas do território, buscando trabalhar a educação socioambiental e o racismo ambiental, bem como a questão da memória comunitária. As experiências dentro e fora da sala de aula transitam entre as diversas áreas de conhecimento (história, geografia, biologia, sociologia…) e as questões étnico-raciais são trabalhadas de forma transversal, com o resgate histórico e crítico a respeito da formação colonial da região, com a participação de lideranças comunitárias negras e indígenas. Entre março de 2021 e junho de 2023, foi possível realizar atividades com três escolas públicas da região, além de estabelecer contato com outras instituições públicas de ensino básico, onde posteriormente poderão ser realizadas novas parcerias: a) EMEF Professora Ana Íris do Amaral: a partir do vínculo já estabelecido entre um integrante do Preserve, que estagiava na escola, no final de 2021 realizamos uma primeira atividade de forma pontual. Após reuniões de planejamento, em 2022 começamos um trabalho mais contínuo em parceria com o Projeto Horta, também da UFRGS, buscando a reconstrução de uma horta escolar junto às turmas do quarto ano; b) EMEF Pepita de Leão: no início de 2022 fomos procurados por professores da referida escola, que nos solicitaram a realização de uma ecotrilha com seus estudantes para que pudessem conhecer a nascente do Arroio Passo das Pedras, o mesmo que dá nome ao bairro onde se situa a instituição de ensino. Num primeiro momento, realizamos uma conversa com os estudantes das turmas que iriam fazer a caminhada no Morro Santana com o objetivo de contar a história da região e também sobre o programa de extensão. Alguns dias depois, os alunos tiveram a oportunidade de participar da referida ecotrilha e conhecer alguns marcos históricos importantes; c) EEEF Salgado Filho Salgado Filho: em março de 2023, em referência ao Dia Mundial da Água, realizamos uma oficina sobre esse tema na escola, junto às turmas do 6° ao 9° ano, com a participação de Letícia Nascimento, fundadora do Coletivo Mães da Periferia. Alguns dias depois, realizamos uma oficina de muralismo com estes mesmos estudantes, ocasião em que foi grafitada no muro da escola uma combinação dos desenhos feitos por elas e eles. Mais tarde, neste mesmo dia, foi feita uma roda de conversa com a presença dos mais velhos, entre elas a cacica Iracema Gah Té e a Prof. Tania Silva.
- Ressalta-se o papel fundamental das redes sociais do projeto, que se transformou numa plataforma não apenas de divulgação de suas atividades e demais informações, mas também de debates importantes.
Vídeo sobre o projeto
Redes Sociais
Ver também
Retomada Gãh Ré