Rio das Pedras

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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O verbete aborda a história e características de Rio das Pedras, uma favela na zona oeste do Rio de Janeiro. Destaca seu crescimento relacionado à demanda por mão de obra na região, sua economia local, o famoso baile do Castelo das Pedras e a presença de milícias que controlam a área e mantêm o tráfico de drogas afastado.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Fontes de informação do verbete: ver seção Fontes e Referências. 

História[editar | editar código-fonte]

Rio das Pedras. Foto Fábio Costa.

Embora o desenvolvimento das favelas do Rio não possa ser atribuído a um único fio condutor, muitas delas cresceram como resultado de determinados projetos de construção, urbanização, ciclos de trabalho ou a expansão de uma área: a Vila Autódromo se desenvolveu em razão da necessidade de moradia para os trabalhadores que estavam construindo a nova pista de corrida, enquanto que a Favela do Metrô atendeu aos trabalhadores que estavam construindo a estação de metrô do Maracanã. Rio das Pedras não é exceção, cresceu junto com a Barra da Tijuca nos anos 70 e 80, à medida que aumentava a demanda por mão de obra na região.

Rio das Pedras recebeu esse nome em razão de um rio que começa na Floresta da Tijuca e corre inteiramente através da favela. Há 30 anos, o rio era limpo o suficiente para crianças brincarem, pessoas tomarem banho e lavarem suas roupas. Atualmente, a favela enfrenta a mesma batalha de saneamento que tantas outras comunidades do Rio. Seu rio se parece mais com um grande esgoto a céu aberto revestido de concreto até encontrar a Lagoa da Tijuca.

Historicamente atraindo trabalhadores vindos do nordeste, hoje muitos dos habitantes de Rio das Pedras são migrantes que, antes mesmo de chegarem, conheciam um parente ou um amigo que já morava na comunidade e recomendava o local. O status da área como uma comunidade de migrantes ainda permanece, com mais nordestinos chegando através de uma viagem de três dias de ônibus, feita pela companhia Itapemirim, saindo direto do Ceará para Rio das Pedras. A geração original de migrantes foi responsável por tecer a cultura local, que define a comunidade atualmente.

A cultura nordestina em Rio das Pedras é palpável quando se visitam as pequenas lojas que ocupam as ruas da favela. Entre os locais mais populares estão as granjas (onde você pode escolher o seu frango), as Casas do Norte (lojas que só comercializam produtos nordestinos) e comerciantes de rua vendendo tapioca.

As noites são marcada por eventos culturais nordestinos, como forró e serestas comandada por tecladistas solo, além de shows de bandas e artistas nordestinos, levando os moradores do Rio das Pedras a mais perto da sua cultura de origem.

Rio das Pedras vem crescendo ano após ano, com diversos locais. Há 10 anos atrás, tinha somente seis colégios e uma clínica da família, em 2019, esse número se expandiu, são cinco colégios municipais, uma creche municipal, um colégio estadual, duas clínicas da família, e dois EDIs. Tirando o comércio, e casas que vão crescendo dentro da comunidade.

Urbanização[editar | editar código-fonte]

Fonte SABREN-PCRJ-IPP.

Segundo o Censo IBGE de 2010, eram aproximadamente 63 mil moradores, estabelecidos em uma área de 90 hectares de terra em expansão, aos fundos da Barra da Tijuca [3]

Rio das Pedras pode ser dividida em duas partes principais: uma área norte mais consolidada e uma área sul com infraestrutura mais recente e, por consequência, mais precária. Mas para os moradores as principais divisões dentro de Rio das Pedras são as sub-comunidades conhecidas como Areal 1, Areal 2, Areinha, Casinhas, Pinheiro e Pantanal. As ruas principais são a Rua Nova, Rua Velha e Engenheiro.

Existe um antigo conjunto de prédios da construtora Delfim que está abandonado desde a década de 1980, chegou até a ser invadido em 1991 pelos moradores mas, foram removidos pela Polícia e Defesa Civil.

O bairro recebeu as obras do programa Favela Bairro entre os anos de 1998 e 2002. Foram construídos em um terreno de 416.556m² completamente urbanizado, 32 edifícios de 4 pavimentos com 4 apartamentos por andar, juntamente com quadras esportivas e pequenas praças.

Apesar das obras recebidas, o bairro é bastante afetado com alagamentos e inundações nas ruas principais em dias de chuva.

Economia[editar | editar código-fonte]

A economia local de Rio das Pedras prospera, atuando como ponto central não só para favelas menores da região, como Muzema, mas indo além. Com muitos moradores proprietários de comércios, trabalhando nos negócios locais e gastando dinheiro na própria favela, o dinheiro continua circulando dentro da comunidade num círculo virtuoso de desenvolvimento. Desse modo, alguns moradores dizem que, muito embora o Brasil esteja atravessando uma crise econômica, ela não afetou Rio das Pedras com tanta força como em outros lugares.

Castelo das Pedras[editar | editar código-fonte]

Baile no Castelo das Pedras.

Rio das Pedras ficou conhecida historicamente por um ponto principal, o famoso baile do Castelo das Pedras, que foi criado em 1993 e foi um dos pilares para que a cultura do funk fosse desenvolvida, saindo do morro para o asfalto, contando com presenças de diversos artistas e jogadores.

Em 2018, o Castelo fechou e a edificação foi demolida no início de 2020. Ainda não se sabe o que será feito no local que, atualmente, ainda possui os escombros da demolição.

Até hoje o Castelo é usado como referência para identificar a região.

Hoje, a maior casa de show do Rio das Pedras, e um dos pontos mais conhecidos é o Espaço Terraço, que é uma casa de shows construída no alto de uma loja, no qual artistas renomados no cenário musical se apresentam todo fim de semana.

Cotidiano[editar | editar código-fonte]

Filmagem mostrando um pouco do cotidiano da comunidade de Rio das Pedras.


Milícias[editar | editar código-fonte]

Rio das Pedras foi o local de uma das primeiras milícias no Estado do Rio, e permanece livre das facções de tráfico de drogas. Se desenvolvendo ao longo dos anos 80, moradores já haviam observado traficantes tomando o controle em outras favelas, e por isso ao construir Rio das Pedras já estavam cientes e cautelosos sobre o que o tráfico poderia fazer a uma comunidade como aquela. O objetivo original das milícias no Rio era, assim, conter o tráfico de drogas nas favelas, na ausência de medidas de segurança formal adequadas. No caso de Rio das Pedras, os moradores são obrigados a pagar uma taxa de proteção para a milícia, o que tem mantido o tráfico de drogas longe da comunidade. Mas, à medida que as milícias se expandiam, elas também começaram a ser associadas a severas restrições das liberdades individuais dos moradores, fomentando a corrupção e sua particularmente perniciosa forma de violência.

Fotos[editar | editar código-fonte]

A ocupação da região de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, começou nos anos 70, especialmente por conta da migração de nordestinos. Foto Jorge Peter, Agência O Globo.jpg
Em 1997, moradores incendiaram carros em protesto contra a falta de saneamento básico, uma das mazelas tradicionais das favelas cariocas. Foto Custódio Coimbra, Agência O Globo.
Obras do Favela-Bairro em Rio das Pedras.
Prédios do Favela-Bairro.
Campo de futebol e outras construções fruto do Favela-Bairro.
Rio das Pedras. Foto Custodio Coimbra, O Globo.

Fontes e Referências[editar | editar código-fonte]

ANF. Disponível em: Rio das Pedras tem coisa boa sim!

Jorge Mario Jáuregui: Atelier Metropolitano. Disponível em: Favela-Bairro em Rio das Pedras.

O Globo. Disponível em: Em foco: A favela de Rio das Pedras.

RioOnWatch. Disponível em: Rio das Pedras: Uma Visão Geral da Movimentada Favela da Zona Oeste.

Wikifavelas. Disponível em: Lista de Favelas do Rio de Janeiro.