InfoCria
A InfoCria é um coletivo de Educação Tecnológica Popular, que surge da necessidade de pessoas de comunidades periféricas participarem das discussões em torno das Tecnologias da Informação e Comunicação. Buscamos envolver, a partir de conceitos e métodos da Educação Popular, a construção de uma Educação Tecnológica que viabilize uma relação responsável com os poderes transformadores da computação e todo universo dos softwares, livres ou não.
Autoria: Rafael Ramires Baptista (Tecnorgânico)
História
Em 2019 - no bairro de Jardim Imbariê, Duque de Caxias, município da região da Baixada Fluminense, situado no estado do Rio de Janeiro -, um grupo de jovens em vulnerabilidade social se reúne, para a formação de um grupo chamado Akangatu, de apoio e incentivo ao estudo. O grupo se reunia semanalmente para compartilhar o que haviam estudado e estimular que as pessoas participantes continuassem estudando, fosse música, fotografia, programação no universo da computação, literatura, sociologia, eram diversos os temas de interesse dos integrantes. Para além dos encontros para estudo, o grupo se organizava em atividades sugeridas pelas próprias integrantes, envolvendo crochê, cineclube, caminhadas pelo bairro e outras dinâmicas. Com o tempo, o grupo se expandiu, convidando pessoas de outros territórios e mobilizando outras atividades, pensando no bem-estar físico, mental e até financeiro de quem participava.
Como forma de arrecadar recursos para custear o deslocamento de alguns integrantes, e a alimentação no espaço físico onde realizavam os encontros, foram pensados alguns pequenos empreendimentos, elaborados e executados pelas pessoas do grupo Akangatu. A InfoCria foi um desses projetos, inicialmente costurado para ser um modo de levantar fundos para manter o projeto principal Akangatu. InfoCria nasceu para realizar serviços de informática por encomenda. Os integrantes mais próximos das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) puxavam as tarefas iniciais, elaborando o que seriam os serviços e como eles aconteceriam, e também ensinariam os demais integrantes da Akangatu, interessados em aprender sobre os serviços oferecidos. Entre os serviços, muitos envolviam a manutenção do uso comum de computadores e notebooks, sendo a parte técnica e de configuração o carro chefe do grupo. No entanto, desde sua gênese, o grupo dedicou mais tempo em ensinar os integrantes do coletivo a aprender mais sobre como executar os serviços, do que o oferecimento ao público geral.
Esse movimento semeador, despertou outro interesse no grupo, o de compartilhar saberes digitais, de pensar metodologias e flexibilizar a linguagem no ensino de tecnologia. O grupo Akangatu era composto por pessoas distintas entre si, com trajetórias e objetivos plurais. Esse cenário foi fértil e essencial pra que a InfoCria olhasse para suas habilidades de ensino com lucidez e destreza em se adaptar. Não durando mais de um ano esse projeto de arrecadação, os integrantes da InfoCria já se reconheciam como uma força coletiva pelo que chamávamos na época de Autonomia Digital e Tecnológica. InfoCria passou a se dedicar a estudar sobre Exclusão Digital, ao perceber que os serviços que pretendiam ofertar, eram serviços porque boa parte da população de seu território não dominava habilidades digitais básicas, a exemplo do ato de escrever e enviar mensagens por aplicativos como WhatsApp, que parece simples, mas que muitas pessoas do bairro tinham dificuldade. Ao mesmo tempo que não sabiam utilizar dos aparelhos, as pessoas eram constantemente conduzidas ao uso de celulares e da participação em ambientes virtuais, mesmo que não sabendo ao certo como isso aconteceria. Esse uso compulsório das tecnologias, incutido socialmente, levou o grupo a perceber que não somente ensinar sobre tecnologia seria necessário, mas incidir politicamente, pensando uma metodologia educacional que não só alfabetizasse no uso das TICs, mas que também pudesse estimular a autonomia na busca por apropriação dessas ferramentas.
Passaram-se os anos e enquanto os integrantes do grupo também se alfabetizavam de outros assuntos, a prática da InfoCria também se modificou, levando sua atuação para outras dimensões. O que iniciou sendo exclusivamente para o bairro Jardim Imbariê, passou a ser levado para outras periferias e favelas do Rio de Janeiro. Realizamos oficinas em comunidades na Maré, no Muquiço em Guadalupe, na Rocinha, e continuamos a expandir as trocas entre as comunidades que criam seus modos de resistência.
Educação Tecnológica Popular
Parte do trabalho de incidência se dá através de oficinas, envolvendo a metodologia mista, com aspectos da Educação Popular e da Educação Tecnológica atuando juntas. Em todas as oficinas do coletivo, o conteúdo a ser aplicado é construído enquanto a oficina se desenrola, em um diálogo constante, entre InfoCria e o território. Existem os materiais preparados antecipadamente, fruto de um trabalho de pesquisa contínuo dos integrantes, para pensar como comunicar e ensinar sobre assuntos técnicos da computação, programação, mídias sociais, segurança digital e outras temáticas dessa órbita.
A Educação Tecnológica Popular é uma prática fundante do trabalho da InfoCria, e está em construção junto a outras metodologias já estabelecidas, que inspiram nossa atuação e são ferramentas presentes em todo o trabalho, algumas delas são: Cuidados Digitais da Rede Transfeminista; Sevirologia do Bonde da Gambiarra e a Educação Midiática do Instituto Palavra Aberta.
Alfabetização e Letramento Digital entram como referências para a construção do entendimento da Exclusão Digital, tendo em vista que o movimento de Inclusão Digital, promovido pelo Governo Federal em ações como a Casa Brasil e os Telecentros espalhados por todo território nacional, foram realizadas a partir da constatação da demanda de alfabetizar digitalmente a população brasileira.
Redes Sociais
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