Passinho

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

O “Passinho”, também conhecido como “Passinho do menor da favela” ou “Passinho foda”, é um estilo de dança que tem origem nos bailes funks cariocas e se destaca pelas coreografias com movimentos corporais acelerados que mesclam elementos de outras expressões culturais como frevo, samba, hip-hop e capoeira. Em 2018, o Passinho foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro e cerca de seis anos depois, em 2024, foi sancionado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A valorização e reconhecimento do Passinho é reflexo de sua contribuição para desconstruir e ressignificar os imaginários e representações sociais que incidem sobre favelas e comunidades periféricas[1].

Autoria: Tainá Farias

Dos Bailes para as redes[editar | editar código-fonte]

O Passinho começou a circular no início dos anos 2000 nos bailes funks realizados no Jacarezinho, bairro da zona norte do município do Rio de Janeiro. Os jovens costumavam se reunir para dançar em roda, competindo em duelos e batalhas, onde cada um ia mostrando as suas coreografias. De acordo com Cebolinha[2], um dos precursores do passinho, no começo a dança era livre e cada um dançava a sua maneira dentro do ritmo das batidas do funk, depois que a dança começou a ser mais padronizada com os famosos passos sequenciados.

Com o tempo, os “relíquias”[3], como são chamados os primeiros dançarinos de Passinho, passaram a se reunir para competições informais em outras favelas e bairros periféricos da cidade, um dos locais mais conhecidos era uma pequena rua perto do Madureira Shopping, no subúrbio carioca, onde passistas se encontravam todos os sábados para dançar. Contudo, foi apenas no ano de 2008 que o movimento começou a ganhar popularidade, quando o bailarino Beiçola publicou no Youtube o vídeo “Passinho Foda”. A gravação motivou outros jovens a filmarem e disponibilizarem seus passos na internet, dessa forma a disputa que antes era travada nos bailes passou a acontecer também nas redes online, através da contabilização de visualizações, curtidas e comentários [4].

A circulação dos vídeos dentro e fora do Brasil trouxe frutos como a realização, em 2011, do primeiro evento oficial de passinho. Com quase 200 inscritos, a “Batalha do Passinho”, organizada pelo professor Julio Ludemir e pelo músico Rafael Nike no Sesc Tijuca, foi tão bem sucedida que foi reproduzida em outras comunidades do Rio de Janeiro, além de servir de inspiração para o documentário Batalha do Passinho, dirigido por Emilio Domingos.

Com a popularidade, um grupo de dançarinos das competições de passinho foram convidados para participar, em 2012, da cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos de Londres. Também estiveram presentes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Lincoln Center, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Em 2016 o Passinho tomou conta da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Graças ao seu potencial de transformação social, de valorização e empoderamento de uma juventude favelada e periférica que historicamente têm sua cultura e corpos estigmatizados e sujeitos à violências, a dança do Passinho conquistou em 2017 o título de Patrimônio Imaterial do povo carioca. Segundo o Projeto de Lei nº 390/2017, de autoria da parlamentar Verônica Lima, “A Dança do Passinho é responsável por amenizar a tensão entre diferentes favelas, uma vez que os dançarinos têm a capacidade de ultrapassar barreiras que separam territórios comandados por traficantes rivais”. Além disso, o texto reconhece o movimento enquanto ferramenta educacional. Em 2024, foi sancionado um novo Projeto de Lei nº 10.289/2024, na esfera estadual, que declarou a expressão artística do Passinho como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro[5].

Estilos de Passinho:[editar | editar código-fonte]

Com a disseminação do Passinho pelas regiões do país, a dança foi adquirindo diferentes características que incorporam as práticas cotidianas de cada localidade. Seguem abaixo algumas vertentes do Passinho:

  • Passinho do Romano – Popularizou-se em 2014, quando um morador da Vila Romano, na zona leste de São Paulo, criou o passo enquanto tentava dançar black music.



  • Passinho dos Maloka – O estilo surgiu nas periferias de Recife, Pernambuco, e possui influências do brega-funk.



  • Passinho de BH ou Passinho Malado – O nome “Malado” que dá título a esse estilo é uma gíria para algo muito legal. A dança oriunda de Belo Horizonte, Minas Gerais, se destaca por se inspirar nos bailes charme dos anos 1980.


  1. OLIVEIRA, Hugo Silva de. Vem ni mim que eu sou Passinho: A Dança Passinho na confluência entre: Redes Sociais, Arte e Cidade. 2017. Dissertação de Mestrado em Cultura e Territorialidade, do Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense. Niterói.
  2. A história e a cena do passinho
  3. FERNANDES, Cíntia Sanmartin; DE OLIVEIRA, Hugo Silva; BARROSO, Flávia Magalhães. Os Relíquias do Passinho: táticas e performances do corpo que dança. Esferas, n. 19, p. 44-53, 2020.
  4. [Rabisca e Publica: juventudes e estratégias de visibilidade social e midiática. Editora Appris, 2020.]
  5. Passinho é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio

Ver também[editar | editar código-fonte]