Dicionário de Favelas Marielle Franco - reflexões
Página destinada a reflexões e repercussões relacionadas ao Dicionário de Favelas Marielle Franco. Trabalhos e materiais incluídos: trabalhos de conclusão de curso, artigos acadêmicos, matérias em jornais ou revistas e artigos de opinião, produzidos sobre ou a partir do projeto e seus(as) pesquisadores(as).
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.
Trabalhos de conclusão de curso[editar | editar código-fonte]
Dicionário de Favelas Marielle Franco: análise e apresentação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica[editar | editar código-fonte]
Autor: Thiago Ferreira Oliveira
Resumo: O objetivo deste trabalho foi "avaliar a estrutura conceitual da plataforma e mediante a análise propor a possibilidade de um modelo de sistematização conceitual e terminológica, utilizando os parâmetros da linguagem documentária e vocabulário controlado como métodos de padronização. Como objetivos específicos: trazer à tona os significados sobre favelas, desde a sua origem nominal quanto aos aspectos atuais; apresentar as dinâmicas teóricas sobre a organização e representação do conhecimento; buscar dados bibliográficos sobre os sistemas de organização do conhecimento e por conseguinte, levantar informações sobre a linguagem documentária, vocabulário controlado e tesauros; Mediante a coleta de um conjunto de verbetes, avaliar as possibilidades de melhorias no que tange os aspectos de classificação da informação. A abordagem metodológica deste estudo é qualitativa, do tipo descritiva e explicativa. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, o método da pesquisa terminológica e da análise facetada. Constatou-se que a partir dos desdobramentos apresentados na coleta de dados por meio das fichas terminológicas, há um caminho possível para a implementação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica para a Wikifavelas, resultando em uma melhor classificação das informações propiciando uma recuperação informacional efetiva. O Dicionário de Favelas Marielle Franco dispõe de um acervo cultural riquíssimo sobre assuntos relacionados às favelas, sendo assim, mediante a grande quantidade informacional, os usos dos mecanismos apresentados neste trabalho tornam-se essenciais."
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Artigos acadêmicos[editar | editar código-fonte]
Painéis comunitários: a disputa pela verdade da pandemia nas favelas cariocas[editar | editar código-fonte]
Autores: Palloma Valle Menezes, Alexandre Almeida de Magalhães e Caíque Azael Ferreira da Silva.
Resumo: O presente artigo descreve e analisa a experiência dos painéis comunitários de mapeamento da Covid-19 organizados por moradores de favelas da cidade do Rio de Janeiro. Tais painéis são dispositivos que quantificam a extensão e intensidade da pandemia nesses territórios, apresentando arranjos diversos que envolvem dados produzidos por moradores, serviços de saúde ou órgãos públicos. Mobilizados a partir da inconsistência ou falta de informações sistematizadas sobre a pandemia em seus territórios, os painéis operam uma disputa pela verdade da pandemia nas favelas, num contexto de desvalorização das políticas de combate ao vírus e negacionismo. A tensão produzida com os painéis chama a atenção para a existência de tais territórios no tecido urbano e as relações que o poder público sustenta em cada local. Para compreender esse processo, partiremos de dados compilados pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco, notícias de jornal, sites dos coletivos promotores desses painéis, bem como falas públicas de moradores dessas localidades.
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Memória como direito à cidade: Dicionário de Favelas Marielle Franco[editar | editar código-fonte]
Autoras: Sonia Fleury e Palloma Menezes.
Resumo: O artigo apresenta e discute a experiência do projeto “Dicionário de Favelas Marielle Franco”, criado a partir da colaboração de um grupo heterogêneo de pessoas–pesquisadores, moradores de favelas e grupos ativistas –e que tem por objetivo incentivar uma ampla articulação do conhecimento (acadêmico ou não) produzido sobre as favelas, que muitas vezes se encontra disperso ou hierarquizado em determinada área de conhecimento. Ao reunir os conhecimentos produzidos acerca das favelas por meio de uma plataforma Wiki própria, colaborativa e de construção coletiva, o dicionário busca a difusão de outras narrativas acerca destes territórios e suas populações buscando valorizar suas memórias e experiências.
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Pandemia nas favelas: entre carências e potências[editar | editar código-fonte]
Autoras: Sonia Fleury e Palloma Menezes.
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Wikifavelas - Dicionário de Favelas Marielle Franco: um modelo de sistematização Wiki na Organização e Representação da Informação[editar | editar código-fonte]
Autores: Thiago Ferreira Oliveira, Amanda Mendes Silva, Mariana Macedo e Fernanda Carolina Pegoraro Novaes
Resumo: Os sistemas wikis são plataformas que visam facilitar o acesso informacional de forma rápida e com aspectos bem estruturados, com isso, uma análise dos elementos bibliográficos e conceituais sobre a perspectiva da Organização, Representação da Informação e do Conhecimento se faz necessário. O Dicionário de Favelas Marielle Franco - Wikifavelas, é uma plataforma virtual e colaborativa, criada para a veiculação, preservação e produção de informações, documentos representações de conhecimentos acerca das periferias e favelas do Brasil. Nota-se que a Ciência da Informação bem como a Biblioteconomia podem contribuir efetivamente para o melhoramento da recuperação, preservação e elaboração de métodos facilitadores para este sistema. Uma parametrização com a Organização do Conhecimento (OC) e os Sistemas de Organização do Conhecimento contribuem para um direcionamento profícuo acerca do assunto abordado.
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Deslocando enquadramentos: coletivos de favelas em ação na pandemia[editar | editar código-fonte]
Autores: Alexandre Magalhães, Palloma Menezes e Sonia Fleury
Resumo: Este artigo descreve e analisa as múltiplas ações que moradores de favelas do Rio de Janeiro, através de suas organizações e coletivos, estão realizando no sentido de enfrentar os efeitos do novo coronavírus nesses territórios. Propomos pensar esse processo de articulação e mobilização no contexto pandêmico como produzindo deslocamentos dos sentidos historicamente atribuídos aos habitantes dessas localidades. Com isso, buscamos compreender como ações voltadas para doação de alimentos, comunicação comunitária, produção local de painéis informativos e outras iniciativas compõem um conjunto multifacetado de experiências que, de alguma forma, reivindicam e expressam as variadas potências de vida existentes nesses territórios.
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Dicionário de Favelas Marielle Franco e a Descolonização do Conhecimento[editar | editar código-fonte]
Autores: Sonia Fleury, Clara Polycarpo, Marcelo Fornazin, Palloma Menezes.
Resumo: Historicamente, as favelas são consideradas pelos poderes públicos, setores da imprensa e camadas médias e altas da sociedade carioca a partir de definições a priori negativas. Tais definições ajudam a moldar políticas direcionadas a esses territórios e suas populações. Contudo, um conjunto variado de atores coletivos insiste em questionar tais formulações e a produção da violência que reproduzem.
Em uma iniciativa conjunta de acadêmicos e moradores de favelas, foi lançado o Dicionário de Favelas Marielle Franco, uma plataforma on-line com licença creative commons, visando reunir falas de moradores, lideranças e intelectuais, em uma construção coletiva que tem por objetivo incentivar uma ampla articulação do conhecimento produzido sobre as favelas, muitas vezes disperso e hierarquizado. O Dicionário busca a difusão de diferentes narrativas acerca destes territórios e suas populações, efetivando o direito à cidade como um direito de cidadania, fugindo da construção do “favelado” apenas como objeto de conhecimento, por parte dos intelectuais que almejam meramente falar pelo outro.
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El desafío de la descolonización del conocimiento: el Diccionario de favelas Marielle Franco[editar | editar código-fonte]
Autores: Sonia Fleury, Clara Polycarpo, Marcelo Fornazin, Palloma Menezes.
Resumo: Los sectores dominantes de la sociedad describen las favelas a partir de de-finiciones negativas a priori, que han sido cuestionadas por diversos actores colectivos. A partir de una iniciativa conjunta de la comunidad académica y quienes residen en las favelas, se crea el Diccionario de Favelas Marielle Franco como una plataforma en línea que, a través de la construcción colectiva del conocimiento, busca difundir diferentes narrativas sobre estos territorios y sus poblaciones. En este artículo, discutimos cómo se produjeron los acuerdos y divergencias entre el conocimiento de la comunidad aca-démica, activistas y habitantes de barrios marginalizados; y presentamos la trayectoria de la construcción del Diccionario, que busca superar tensiones y así incorporar otros lenguajes y registros capaces de sustentar las producciones y memorias de las favelas.
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The challenge of decolonizing knowledge: the Marielle Franco Favela Dictionary[editar | editar código-fonte]
Autores: Sonia Fleury, Clara Polycarpo, Marcelo Fornazin, Palloma Menezes.
Resumo: Dominant social groups describe favelas based on negative stereotypes, which are increasingly being challenged by various collective actors. Originating from a collaborative effort carried out by academics and favela residents, the Marielle Franco Favela Dictionary is an online platform that aims to spread alternative narratives regarding these territories and their populations through collective knowledge building. This article discusses the common ground and points of contention regarding the different forms of knowledge held by academics, activists, and favela residents. Furthermore, we reconstruct the trajectory of the Dictionary’s creation, and in so doing overcome certain tensions and incorporate other languages and registers able to support the production of memory in favelas
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(Re)enquadrando a pandemia através do discurso: reflexões a partir das favelas do Rio de Janeiro[editar | editar código-fonte]
Autores: Sonia Fleury, Clara Polycarpo.
Resumo: A grave crise sanitária, econômica e humanitária provocada pela pandemia de Covid-19 no Brasil, e as ações (e omissões) governamentais, levaram ao aprofundamento de desigualdades estruturais, atingindo ainda mais as populações já vulnerabilizadas, como moradores(as) de favelas e periferias. Neste trabalho, questionamos o enquadramento dado à pandemia e à favela em 2020, a partir da análise de diferentes discursos reproduzidos pela mídia comercial e pela mídia comunitária e coletados pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco na seção “Coronavírus nas Favelas”. Por meio da análise de discurso e seu processo interativo, nosso objetivo é acompanhar o envolvimento de diferentes atores na construção de políticas e de subjetividades, problematizando a arena política – e a própria política – nas favelas e periferias durante a pandemia.
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Matérias e artigos de opinião[editar | editar código-fonte]
- 08/04/19 - Maré de Notícias Online: Dicionário de Favelas Marielle Franco será lançado quarta-feira, 10, na Fiocruz;
- 08/04/19 - Brasil de Fato: Fiocruz lança plataforma para organizar conhecimento sobre favelas do país;
- 08/04/19 - Rede Brasil Atual: Fiocruz lança plataforma para organizar conhecimento sobre favelas do país;
- 15/04/19 - Extra: Dicionário colaborativo reúne informações sobre a história e o cotidiano de favelas;
- 16/04/19 - R7: Fiocruz lança WikiFavelas, Dicionário de Favelas Marielle Franco;
- 16/04/19 - G1: Fiocruz lança 'WikiFavelas', o Dicionário de Favelas Marielle Franco;
- 16/04/19 - Outra Saúde: Newsletter do dia;
- 16/04/19 - Correio do Povo: "WikiFavelas", a enciclopédia virtual das comunidades do Rio de Janeiro;
- 16/04/19 - Correio Braziliense: Conheça o 'WikiFavelas', a enciclopédia virtual das comunidades;
- 02/05/19 - Revista Galileu: Dicionário online reúne conhecimento produzido em favelas;
- 13/10/19 - Tilt/UOL: O que é coió e passinho? Wikipédia da quebrada explica esses e mais termos;
- 23/03/20 - Icict: Dicionário de Favelas traz informações para o enfrentamento ao coronavírus;
- 25/03/20 - Outras Palavras: Periferias e Pandemia: Plano de Emergência, já!;
- 01/04/20 - EcoDebate: Coronavírus nas favelas: ‘É difícil falar sobre perigo quando há naturalização do risco de vida’;
- 02/04/20 - Jornal do Comércio: O SUS invisível;
- 03/04/20 - Outras Mídias: Se burocratizam a ajuda, a favela não janta;
- 05/04/20 - Asdb Notícias: 'Favelas contra o Coronavírus' informa e mobiliza moradores;
- 06/04/20 - Carnegie Endowment for International Peace: Lessons From Brazil’s Poor to Fight the Coronavirus;
- 18/04/20 - Folha de SP: Saiba como ajudar a população mais vulnerável durante o isolamento social;
- 05/05/20 - O São Gonçalo: A solidão das superpopulosas favelas no combate à maior crise sanitária do século;
- 08/05/20 - Le Monde: « On est habitués à être négligés par l’Etat » : la mobilisation des favelas du Brésil face au Covid-19;
- 16/05/20 - G1: Se ligue nos links;
- 28/05/20 - Brasil de Fato: Dicionário de Favelas Marielle Franco completa um ano com dados sobre coronavírus;
- 16/06/20 - Medscape: COVID-19 in Brazil: A Pandemic Amid Pandemonium;
- 23/06/20 - KAOSENLARED: Brasil. Las luchas sociales en el país de la pandemia: ¿señales de reorganización?;
- 13/08/20 - CONASS: Comunicação sobre coronavírus nas favelas está na pauta do Centro de Estudos do Icict;
- 17/08/20 - Maré de Notícias Online: A pluralidade das favelas em um dicionário;
- 18/08/20 - UOL: 'Bolsonaro busca o eleitorado da esquerda', avalia cientista política;
- 08/12/20 - Brasil de Fato: Mil dias sem Marielle: um grito por justiça que não se cala;
- 20/01/21 - Folha de SP: Vacinação e esquizofrenia;
- 05/02/21 - CONASS: Novo Federalismo no Brasil? Tensões em Tempos de Pandemia de COVID-19, é tema de pesquisa da Fiocruz;
- 18/02/21 - Politize!: Como funcionam os serviços de proteção social no Brasil?
Artigos em jornais ou revistas[editar | editar código-fonte]
Marielle vive![editar | editar código-fonte]
Autora: Sonia Fleury, para o blog Outras Palavras
Publicado 14/03/2022
Já são quatro anos sem o sorriso, a ousadia, a garra na defesa da justiça social, a luta para transformar costumes repressivos e poderes podres por meio de políticas inclusivas; quatro anos sem Marielle Franco, assassinada brutalmente em 14/3/2018, juntamente com seu motorista Anderson Gomes. O fato de até agora não se saber quem foram os mandantes do seu assassinato é um poderoso analisador de como funcionam as instituições brasileiras em favor de pessoas e grupos criminosos que se consideram intocáveis e inimputáveis, corrompendo agentes públicos, retirando de suas funções aqueles que cumprem o dever de buscar a verdade nas investigações, eliminando provas e ameaçando testemunhas.
O silêncio culposo[editar | editar código-fonte]
Trata-se de um caso exemplar que revela a existência de redes de matadores e bandidos com peculiar proximidade junto a grupos que disputam o domínio da política no Rio de Janeiro e no país, atuando no subsolo das instituições republicanas. Tais rizomas, redes políticas de ilegalismos, incluem matadores profissionais como o ex-PM Ronnie Lessa, reconhecido como uma máquina de matar, atuante na guerra de bicheiros e que, apesar de seus modestos rendimentos, tornou-se vizinho do presidente em um condomínio na praia da Barra da Tijuca. Indiciado como assassino de Marielle, juntamente com Élcio Vieira Queiroz, em sua posse foi encontrado um arsenal com 117 fuzis que estavam sendo montados. A rede de ilegalismos inclui também integrantes de quadrilhas ligadas ao tráfico internacional e extravios de armas das polícias e forças armadas, milicianos como o ex-capitão do BOPE Adriano Nóbrega, líder do Escritório do Crime, praticantes de extorsões, grilagens e homicídios. Quando estava preso, Adriano foi agraciado com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, pelo parlamentar Flávio Bolsonaro, que também contratou seus familiares como assessores parlamentares. Adriano terminou assassinado em 2020, após expressar temores de que seria vítima de uma “queima de arquivos”.
Passados tanto anos e apesar de, à época, o Rio de Janeiro estar sob intervenção militar, comandada pelo general do Exército Walter Braga Neto – atual ministro da Defesa e cotado para ser vice-presidente na chapa com Jair Bolsonaro – até hoje não há respostas para 14 perguntas elencadas pelo Instituto Marielle Franco, relativas a:
– o CRIME: mandante e motivação do crime; relação da clonagem do carro com o Escritório do Crime; extravio das munições e armas usadas no crime; autoria do desligamento das câmeras no percurso.
– a INVESTIGAÇÃO: falta de coordenação das instâncias estadual e federal; não envio, pelo Google, de dados solicitados pelo MPRJ e Polícia Civil; inúmeras trocas no comando da Delegacia de Homicídios responsável pelo caso; tentativas de fraude; troca do superintende da Polícia Federal que apura interferências na investigação; alteração do depoimento do porteiro do condomínio onde moravam Jair Bolsonaro e Ronnie Lessa (um dos assassinos).
– a ATUAÇÃO ÓRGÃOS EXTERNOS: não foram enviadas informações demandadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas e não foram implementadas as recomendações da Comissão Externa no âmbito do Congresso Nacional em 2018.
O silenciamento culposo é acompanhado por ações que perpetram a violência tanto de forma simbólica, como a quebra da placa homenageando Marielle pelo deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) – preso por ataques ao STF e apoiado como possível candidato ao Senado pela família Bolsonaro –, como por meio do extermínio e repressão a jovens negros nas favelas, como a chacina do Jacarezinho e as prisões arbitrárias de “elementos suspeitos” por estarem, segundo as palavras do delegado, “na hora errada no lugar errado”, como padarias ou shoppings. Só em 2021 a PM matou, no Rio de Janeiro, 109 pessoas a mais que em 2020.
O símbolo[editar | editar código-fonte]
É preciso nos indagarmos o que levou às ruas milhares de pessoas, predominantemente jovens, para prantear a vereadora assassinada, em uma cena que se repetiu em várias cidades, países e datas, desde o assassinato, entoando palavras de ordem como “Marielle presente, virou semente!”.
Marielle foi eleita vereadora da cidade do Rio de Janeiro em 2016, aos 37 anos, com 46.502 votos, sendo a quinta parlamentar mais votada neste pleito. Ao apresentar-se como mulher, negra, mãe, socióloga, cria da favela da Maré, defensora dos direitos humanos e da população LGBTIA+, Marielle sintetizava uma trajetória pessoal e coletiva de lutas e conquistas da população de favelas e periferias e dos movimentos identitários.
Tendo sido mãe aos 19 anos, não fugiu das estatísticas sobre gravidez de adolescentes nas favelas, provocando a interrupção de seus estudos, só posteriormente, voltando a estudar no pré-vestibular comunitário no Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM). Ingressou em 2002 no curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica PUC/RJ, obtendo uma bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni). Em 2014 tornou-se mestre em Administração Pública da Universidade Federal Fluminense, com a dissertação intitulada “UPP- A redução da favela a três letras”. Seu trabalho conclui que o Estado brasileiro aplica sobre as favelas “uma política voltada para a repressão e controle dos pobres a partir do discurso da insegurança social” sendo que “a marca mais importante deste quadro é o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo” (Franco, 2014)1.
Sua trajetória nos fala muito do processo de transformações sociais que vêm ocorrendo no país, em especial em favelas e periferias, que foi identificado por Tiaraju D’Andrea (2020)2 como a emergência do sujeito e sujeitas periféricos. Trata-se de um processo de subjetivação, fruto de complexos processos sociais, que levaram os próprios moradores das favelas e periferias, a partir da atuação em coletivos culturais e a entrada de jovens da periferia na Universidade, a significar de forma potente e positiva sua identidade e pertencimento à periferia. Em meio à crescente violência decorrente da guerra às drogas, moradores das favelas, como a família de Marielle, Dona Marinete e Seu Toninho, buscam dar a seus filhos melhores condições de vida e a educação que não puderem ter por serem filhos de imigrantes nordestinos, primeiros moradores da Favela da Maré.
O ingresso de jovens favelados e periféricos nas universidades é fruto da insurgência da juventude ao lugar de exclusão que a sociedade lhes designa, em um ambiente de individualismo e competitividade, no qual as promessas de sucesso pelo empreendedorismo terminam por culpabilizar aqueles que não o atingem. Frente à hegemonia dos valores neoliberais, é importante reconhecer na emergência e proliferação nas periferias dos Coletivos Culturais uma face da disputa contra-hegemônica que resgata a importância do comum, do coletivo, da cultura, da memória, do pertencimento, como formas de destronar o sacralizado individualismo.
As iniciativas para organização e promoção de cursos pré-vestibulares comunitários, centros culturais, museus como o Museu da Maré, têm sido cruciais neste processo de democratização do acesso ao ensino superior, juntamente com o conjunto de políticas públicas como as cotas e formas de financiamento estudantil – Prouni, Fies – que alteraram a composição elitista da Universidade brasileira. Desde 2019, a maioria dos alunos das federais é negra e veio de escolas públicas. Além de possibilitar maior mobilidade social com o ingresso de pessoas com menor nível de renda, propiciou o desbranqueamento da educação superior, com o esforço de grupos como o Educafro para superar a exclusão de jovens negros por meio da negação do acesso à educação de qualidade.
Marielle tornou-se símbolo das lutas identitárias de mulheres, negros, população LGBTIA+, que hoje tocam os corações e mentes de jovens de todos os estratos sociais. Longe da visão simplista, que vê as lutas identitárias como uma falsa consciência que impede de problematizar a luta de classes, a atuação de Marielle como parlamentar e ativista de direitos humanos junto aos movimentos sociais sempre vinculou as diferentes formas de exploração à reprodução da dominação e da exclusão social. Esses novos sujeitos rompem a divisão liberal entre o cidadão como dimensão pública e o indivíduo como dimensão privada, introduzindo questões anteriormente consideradas privadas no debate sobre justiça e direitos sociais (Fleury, 2018)
A luta por diversidade busca mostrar que o universal se compõe de infinitos particulares, sendo que só a consciência crítica os torna politicamente equivalentes, mas não iguais e uniformes. As diferenciações de gênero, raça e habilidades são mais vinculadas à classe do que à etnicidade, já que concernem a relações de poder, alocação de recurso e discursos hegemônicos, nos ensina Young (2000)3.
A tentativa de calar a voz de Marielle por meio de seu assassinato nos remete à questão colocada por Spivack (2014)4 sobre se pode o subalterno falar. A resposta pode ser encontrada na afirmação de Laclau e Mouffe5 (1985) de que a estratégia para uma hegemonia socialista por meio de uma democracia radical busca identificar as condições discursivas nas quais as relações de subordinação se tornam uma relação de opressão, constituindo-se em lugar de antagonismo. A violência brutal do assassinato demonstra a potência da ação de Marielle, ao juntar tantas vozes na sua voz em prol da justiça social.
A semente[editar | editar código-fonte]
O lema da campanha de Marielle “eu sou porque nós somos”, inspirado no conceito africano Ubuntu, anunciava sua candidatura como uma construção coletiva que se materializou na Mandata Marielle Franco. As mandatas são uma nova forma de compor um gabinete, através de um mandato coletivo, fruto da crescente participação popular na disputa da representação democrática. Se antes os movimentos sociais e identitários tinham sua atuação predominantemente concentrada na mobilização e organização da ação coletiva de reivindicação e denúncia, recentemente, proliferam no país a ocupação nas assembleias legislativas de representações populares e/ou de grupos discriminados e excluídos das esferas de poder. A pouca sensibilidade dos partidos políticos tradicionais às transformações e demandas sociais não impediram que partidos mais à esquerda abrissem espaço para essas candidaturas.
As mandatas são uma inovação no exercício da representação, que é fruto da experiência coletivista nas lutas populares e dos movimentos sociais. Apesar de a legislação eleitoral só permitir a postulação de uma candidata, o arranjo criado pela mandata possibilita o exercício conjunto da representação. Trata-se do “pé na porta” inicial, expressão frequentemente usada por Marielle, no exercício da política como representação. A proliferação das mandatas mostra que é uma inovação que veio para ficar.
Outras transformações se impõem no exercício da representação, tradicionalmente exercida por homens brancos ou nem tão brancos, circulando com seus ternos escuros em Câmaras Legislativas com poltronas estofadas e mobiliário barroco de madeira escura que pretende dar pompa e seriedade ao trabalho dos legisladores. A simples presença de mulheres negras, trans, homossexuais, com seus corpos envoltos em panos coloridos, já transtorna este cenário da encenação do poder. Essas parlamentares são frequentemente submetidas a situações de discriminação, intolerância e violência, como descreve a deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ) em entrevista ao Blog do CEE/Fiocruz.
Mônica Francisco utiliza o termo hackear para identificar em sua prática legislativa as formas de infiltração nas estruturas de poder. Trata-se de uma longa tradição que também pode ser identificada pelo termo forjar, utilizado por Elizabeth Campos, por referência à resistência de Tereza de Benguela, que transformava as balas e objetos de ferro lançados contra sua comunidade em panelas e objetos de trabalho e defesa.
Nas primeiras eleições após o assassinato de Marielle, três mulheres negras provenientes da mandata de Marielle foram eleitas deputadas estaduais, pelo PSOL, no Rio de Janeiro: Dani Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco. Além delas, foram eleitas pelo PSOL Erica Maluginho, para a ALESP e Benny Briolly, para a Câmara de Vereadoras de Niterói, sendo as primeiras mulheres negras e trans das casas. Em Joinville, a primeira vereadora negra eleita pelo PT foi Ana Lúcia Martins. Foram ainda eleitas, pelo PSOL, as deputadas federais Taliria Petrone, pelo Rio de Janeiro, e Áurea Carolina, por Minas Gerais. São sementes que frutificaram e aumentaram como nunca a participação de mulheres negras na representação política. Mesmo assim, as parlamentares são constantemente submetidas a situações de ataques racistas e homofóbicos, violências simbólicas e ameaças de morte, mostrando como estamos distantes da democratização do poder político em uma sociedade em que o racismo, o patriarcalismo e a homofobia estruturam o domínio de classe.
1 FRANCO, Marielle. “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro”. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2014
2 D’ANDREA, Tiaraju- Contribuições para a definição dos conceitos de periferia e sujeitas e sujeitos periféricos. NOVOS ESTUD. ❙❙ CEBRAP ❙❙ SÃO PAULO ❙❙ V39n01 ❙❙ 19-36 ❙❙ JAN.–ABR. 2020
3 YOUNG, Iris Marion. Inclusion and Democracy. New York: Oxford University; 2000
4 SPIVACK, Gayatri. Pode o subalterno Falar? Belo Horizonte, Editora UFMG, 2014
5 . LACLAU, Ernest, MOUFFE, Chantal. Hegemony and Socialist Strategy: Towards a Radical Democratic Politics. London: Verso; 1985
A construção singular do Dicionário de Favelas[editar | editar código-fonte]
Autora: Sonia Fleury, para o blog Outras Palavras
Entrevista para Marcha | Tradução: Vitor Costa
Publicado 20/04/2022
O Dicionário de Favelas “Marielle Franco”, uma iniciativa conjunta da comunidade acadêmica e dos moradores de favelas, é uma plataforma online que busca oferecer outras narrativas sobre os territórios e pessoas que habitam os bairros populares do Brasil, fora do olhar estigmatizante da mídia hegemônica.
Baseado no formato Wikipedia, o Dicionário foi criado em 2014 para oferecer “acesso público para a produção e circulação de conhecimento sobre favelas e periferias”. Produto de uma articulação entre universidades, instituições e grupos organizados dos bairros periféricos do Brasil, o Dicionário busca estimular e permitir a coleta e construção coletiva de conhecimento, com papel preponderante dos moradores das favelas. O site argentino Marcha entrevistou a ideóloga do projeto, Sonia Fleury, doutora em Ciências Sociais, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e integrante do Conselho Editorial do Dicionário.
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Como surgiu a iniciativa de fazer o Dicionário e o que mudou entre a ideia original de 2014 e sua versão atual?
Sonia Fleury – Eu venho de outra área, minha especialidade é em políticas públicas de saúde e políticas sociais. Me envolvi muito na construção de programas universais de Proteção Social no Brasil e na América Latina. Além disso, estive muito envolvida com a Universidade Nacional de Lanús (UNLa), onde publicamos um artigo sobre o Dicionário na revista Salud Coletiva, publicação científica de acesso aberto editada pelo Instituto de Saúde Coletiva da Faculdade.
O esforço que estávamos fazendo não era ruim, mas era limitado. Era preciso construir um “cidadão”, e não apenas uma construção legal e institucional. Então resolvi entrar mais em contato com as periferias onde percebi, desde o primeiro momento, que havia uma juventude muito mais envolvida em criar coisas, quase uma forma de rebeldia contra a exclusão que sempre viveram. Ao mesmo tempo, aprendi que o conhecimento sobre as favelas era escasso e concentrado na universidade, porque a própria política pública negava a existência desses bairros. Se você olhasse nos mapas do Rio de Janeiro há alguns anos, onde deveriam estar as favelas havia apenas árvores.
Suas lutas, sua resistência, suas lideranças, a história de sua própria cultura política, a organização dos bairros, são temas muito pouco conhecidos. Há o conhecimento da própria comunidade e também de pesquisadores que estudam o assunto, mas que em geral não são tão acessíveis. Além disso, há uma hierarquização entre o saber popular e o universitário. Então, todos esses problemas me estimularam a procurar um instrumento de última geração, uma plataforma wiki. Porque, apesar de usarmos a tecnologia deles, nós não queríamos fazer isso dentro da própria Wikipédia, porque temos princípios políticos diferentes. Na Wikipédia existe um artigo único, o que significa que existe um consenso implícito. Nós sabemos que existem divergências e queríamos expressá-las. Então, se você quiser escrever sobre a história das favelas, pode fazê-lo e todas as opiniões são refletidas, gerando debate.
Um dos problemas que surgiram foi que, inicialmente, a plataforma era apenas para escrever artigos. E as pessoas que vivem nas favelas, embora tenham uma capacidade de reflexão muito aguçada sobre sua realidade e sua situação política, não estão disponíveis para escrever sobre isso. Primeiro, porque a escrita é um habitus de classe, os estudantes universitários são treinados para isso, mas os moradores das favelas não são. Além disso, as organizações de bairro não concebem que os militantes das favelas devem parar sua atividade para escrever. Então tivemos que mudar a plataforma e adicionar outros recursos, principalmente multimídia, e outras formas de expressão típicas dos jovens, como música hip hop, funk, poesia, fotos.
Como a chegada de Jair Bolsonaro à presidência impactou o desenvolvimento do Dicionário?
A chegada de Bolsonaro teve várias implicações. Eu, por exemplo, trabalhei na Fundação Getúlio Vargas, instituição que forma empreendedores. Com um regime mais autoritário no país, as instituições começaram a expulsar pessoas inconvenientes, como eu, que toleravam há 30 anos. De lá fomos para a Fundação Oswaldo Cruz, uma instituição que tem um compromisso social muito mais definido e que tem uma longa relação com as favelas de seu entorno.
Então, por um lado, Bolsonaro era uma ameaça à continuidade do projeto, mas, por outro, acabamos em uma instituição muito mais identificada ideológica, política e socialmente com a proposta. Isso também se refletiu na aceitação do projeto pelas lideranças do bairro. Por ter surgido da Fundação Getúlio Vargas, embora não me identificasse com a ideologia daquela instituição, havia certo receio e desconfiança por parte das lideranças locais por ser uma fundação ligada à direita e aos empresários.
Há problemas que vão além de Bolsonaro. O racismo é um componente estrutural das relações de poder no Brasil. Isso não mudou, não é nem mais nem menos do que antes. Pode ser mais ou menos explícito dependendo do momento político. Se existe um governo misógino, muito próximo das milícias e da polícia, que domina parte do poder institucional no Rio de Janeiro e parte das favelas, é muito mais arriscado para a população desses setores, principalmente as mulheres. Além disso, houve a liberalização da compra de armas pesadas, o que acaba sendo um mecanismo legal para que milicianos e narcotraficantes tenham acesso a essas armas.
Precisamente, falando em violência paramilitar e policial, há indícios claros de que integrantes desses setores tenham participado do feminicídio de Marielle Franco em 2018. Além do fato de ela ter nascido e morado em uma favela, por que a escolheram para nomear o Dicionário?
Inicialmente, o projeto foi chamado de “Dicionário Carioca de Favelas”, e Marielle foi uma das pessoas que apoiou fortemente a ideia desde o início. Quando a convidei para escrever, ela imediatamente deu sua contribuição. Um dos artigos do Dicionário foi iniciado por ela. Após seu assassinato, o grupo político que a acompanhava terminou de escrevê-lo.
Resolvemos homenagear Marielle porque ela representou muito em pouco tempo. Tornou-se um símbolo muito forte da necessidade de novas formas de fazer política e novos slogans. Ela era uma mulher da favela, ela era negra, ela era lésbica. Defendeu todas aquelas populações marginalizadas pelo sistema. Foi votado por muitos dos jovens da cidade, e não apenas das favelas. Quando ela foi morta, houve manifestações por todo o Rio de Janeiro e outras cidades do Brasil. Foi uma pessoa que fez política de cidadania: junto com o povo, junto com os movimentos juvenis. Isso ameaçava os poderes do Estado.
A entrada de mulheres da favela na política é um fenômeno novo. Antes, os movimentos de bairro eram muito antiestatais, como os movimentos sociais em geral. Há uma mudança mais recente no sentido de que passam a disputar essa arena de representação. Mas com um impulso bem diferente, na forma das mandatas, que são grupos em que uma candidata é eleita, mas todas participam da representação. Matar Marielle foi uma tentativa de impedir que aquela voz saísse. Mas aquelas mulheres que eram do seu grupo, que eram negras e das favelas, foram eleitas para o Legislativo para dar continuidade ao seu legado. Houve uma reprodução e aumento da participação desses grupos.
Presumimos que a voz de Marielle não poderia ser silenciada. O Dicionário é um compromisso com sua voz, com suas bandeiras: defendemos o povo das favelas, a população negra, a juventude, o coletivo LGTBIQ+. Abrimos um espaço para que sua voz circule pela cidade. É por isso que o nomeamos em sua homenagem.
No artigo publicado na revista da Universidade Nacional de Lanús vocês afirmam que o Dicionário não é suficiente para gerar uma mudança na subjetividade do sujeito da favela. O que poderia efetivamente ser a força motriz dessa transformação?
Há um autor originário de uma favela de São Paulo, Tiarajú Pablo D’Andrea, que criou um conceito muito interessante que é o de “sujeito periférico”. A discussão do processo de subjetivação dos moradores das favelas está acontecendo; o Dicionário não vai criar isso, somos parte de algo que está em andamento. A proposta do autor é que antes os partidos de esquerda ou grupos eclesiásticos de base iam para esses bairros para organizar as pessoas a partir de um conceito de carência, de necessidades insatisfeitas. O que D’Andrea diz é que esta abordagem não aumenta a autoestima de ninguém: colocar-se como pobre, como carente. No novo processo de subjetivação que está em curso, aquele jovem da favela que antes tinha medo de dizer onde morava quando procurava um emprego ou quando se candidatava, hoje não vive dessa forma. Agora gera para ele um certo orgulho.
É através da cultura, da poesia, da dança, do teatro, da música, como o hip hop ou o funk, que essas pessoas começaram a se manifestar de um lado não da falta, mas do poder. Hoje os jovens são empoderados, como pessoas que possuem uma identidade positiva. Este é um processo muito recente de construção de uma cidadania insurgente e coletiva. Essas novas formas de organização serão um desafio para as eleições presidenciais deste ano, especialmente para Lula. Porque ele se baseava no trabalho formal, organizado, sindical, uma forma mais tradicional. Mas há alguns anos, o Movimento dos Sem Terra ganhou muita força e apareceu como um ator político muito importante. Também o Movimento dos Sem-teto, organizado a partir da falta de moradia popular. São sujeitos políticos com os quais ele precisará se articular para governar.
Mas nas favelas também há grupos muito reacionários ligados a Bolsonaro, os evangélicos/pentecostais, que cresceram enormemente em todas as periferias. Então, você tem aquele grupo de jovens mais insurgente e outro mais tradicionalista, que vê uma proposta religiosa que também os valoriza como pessoas, que tira deles o estigma da marginalidade. Essa vai ser a grande disputa das eleições. Bolsonaro vai ter muito apoio dos chefes dessas igrejas, que são como uma máfia e que têm, no Brasil, um projeto político próprio.
* Especialista em assuntos latino-americanos, foi consultor da CEPAL e assessor estratégico do governo do Chile (2014-2018). Hoje, trabalha em assuntos humanitários para questões de imigração.