Cruzada São Sebastião
A Cruzada São Sebastião foi um órgão instituído pela Arquidiocese do Rio de Janeiro na década de 1950, inserido no rol de soluções institucionais e estatais para o problema da favela que despontava no cenário urbano carioca.
Autoria: Ana Carolina Canegal de Almeida Pozzana
História[editar | editar código-fonte]
Sob o comando do então bispo auxiliar do Rio, Dom Helder Câmara, a Cruzada tinha por objetivo o audacioso plano de urbanizar todas as favelas da cidade. Defendia, por sua vez, a transferência das famílias populares para moradias fixas, próximas às suas antigas habitações.
A iniciativa primava, também, pelo desenvolvimento de “uma ação educativa de humanização e cristianização no sentido comunitário, partindo da urbanização como condição mínima de vivência humana e elevação moral, intelectual, social e econômica” (Slob, 2002:27). Diferentemente de órgãos ligados à Arquidiocese e voltados ao mesmo público, como a Fundação Leão XIII, a Cruzada São Sebastião buscava reunir de forma mais concreta urbanização e pedagogia cristã (Burgos, 1998).
Experiência[editar | editar código-fonte]
Configurou-se como uma das experiências de urbanização de favelas mais inovadoras já registradas. Um importante contraponto à subsequente e dramática política estatal desenvolvida entre as décadas de 1960 e 1970, por meio da qual cerca de 100 mil pessoas que residiam na zona sul foram movidas para áreas periféricas, distantes do centro e praticamente desprovidas de oferta de serviços urbanos. Embora não tenha atingido seu intento na plenitude, a política capitaneada por Dom Helder foi capaz de construir seu primeiro e maior empreendimento: o conjunto habitacional Cruzada São Sebastião do Leblon ou Bairro São Sebastião no Leblon, zona sul carioca, região ocupada pelas camadas médias.
O projeto[editar | editar código-fonte]
O projeto, concluído em 1962, seguiu uma tendência arquitetônica de vanguarda no que tange à habitação popular, inspirado na arquitetura modernista europeia dos anos de 1920, especialmente no trabalho do urbanista francês Le Corbusier. As obras previram a construção de uma igreja, uma escola, um centro social e um mercado, além dos 10 blocos e seus 910 apartamentos entre quitinetes, quarto e sala e dois quartos (Slob, 2002). Mediante certos critérios estabelecidos pela Igreja, cerca de quatro mil dentre os nove mil moradores das favelas da Praia do Pinto e Ilha das Dragas, situadas no Leblon e no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, foram realocados no conjunto Cruzada São Sebastião. As famílias não selecionadas, por seu turno, permaneceram naquelas favelas até a sua extinção, sendo deslocadas, sobretudo, para os conjuntos habitacionais Cidade Alta e Nova Holanda, na zona norte; e Cidade de Deus, na zona oeste.
Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]
ALMEIDA, Ana Carolina Canegal de; BURGOS, Marcelo Baumann. Fronteiras Urbanas: interpretações sobre a relação entre Cruzada São Sebastião e Leblon. Rio de Janeiro, 2010. 126p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
BURGOS, Marcelo. Dos Parques Proletários ao Favela-Bairro: As Políticas Públicas nas Favelas do Rio de Janeiro. In Alba Zaluar & Marcos Alvito (orgs). Um Século de Favela, Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1998, p.25-60.
SLOB, Bart. Do barraco para o apartamento – a “humanização” e a “urbanização” de uma favela situada em um bairro nobre do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2002, trabalho de conclusão de curso Museu Nacional.