Chumbada

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
A favela da Chumbada vista em duas vertentes

Chumbada é uma comunidade localizada no município de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Está situada entre os bairros de Mutondo e Galo Branco e seu território abrange diversas localidades, incluindo Nova Cidade, Bairro Antonina, São Miguel e Estrela do Norte. Um destaque da comunidade de Chumbada é o rapper conhecido como "PL Quest", cujo nome verdadeiro é Paulo Lourenço. Ele ganhou reconhecimento por sua música intitulada "Chumbada", que acumula mais de 5 milhões de visualizações no YouTube.

Autoria: ThiagoCMR[1], Renato S.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Chumbada é uma comunidade localizada no município de São Gonçalo, situada entre os bairros de Mutondo e Galo Branco, tanto que fica entre os dois bairros, além de fazer divisa com os bairros Nova Cidade, Bairro Antonina, São Miguel e Estrela do Norte. A favela da Chumbada terá o seu surgimento por volta de 1940, pois, com o advento da crise citricultora, o município de São Gonçalo vai passar por um processo de loteamento no início do século XX, em que muitas fazendas em São Gonçalo irão lotear as suas terras, não muito diferente do que acontece com a Chumbada. Contudo, o nome Chumbada, segundo relatos de alguns moradores, foi dado pela coexistência, antes do ano de 1950, de uma fábrica de Chumbo que existia no local; porém, grande parte dos entrevistados (moradores mais antigos) disse desconhecer a origem do nome, chegando mesmo a relatar que o nome Chumbada viria de uma antiga fazenda - aliás, os moradores não nos deram uma data exata quanto a sua origem de fato. Mas, para quem não conhece a sua história, já assimilaria de imediato que o nome Chumbada é devido à existência do tráfico de drogas na localidade, sobre a qual, constantemente, são noticiados casos de violência. Os leitores que desconhecem a sua história assimilariam o nome da favela ao “chumbo” dos projéteis das armas de fogo ou dos tiroteios. Isso nos levou a buscar conhecer as memórias dos moradores da localidade, portanto, procuramos os mais antigos para relatar a história da favela. Em alguns momentos, estes divergiam os discursos, em outros, convergiam, exigindo um esforço para não perder o sentido real da origem do que hoje é a favela da Chumbada.

O lugar hoje conhecido como Chumbada era uma fazenda com a criação de gado, plantação de laranjas, criação de outros animais, plantação de alface e plantações de árvores frutíferas, contudo, na outra parte da fazenda em direção ao Mutundo, predominava uma vegetação densa e fechada, existindo frutas de diversos tipos. No lugar, existiam pouquíssimas casas, sobre as quais um dos entrevistados relatou que havia no máximo 5 moradias e uma mansão deteriorada, já abandonada provavelmente pelo dono da fazenda. O dono da fazenda era conhecido como “Badenes”, este era médico e morava na cidade do Rio de Janeiro, no bairro Flamengo, deixando por conta dos filhos, conhecidos como Pago e Creuzo, o cuidado das terras. Quando perguntado sobre a compra das terras, o morador disse ter negociado com um responsável imobiliário chamado Nelson, muito amigo de Badenes; Nelson ficava responsável pelos tramites com os compradores, isto já na década de 1960. A prova do relato pode ser corroborada com um lugar conhecido na favela chamado “Pago”, um dos nomes do filho de Badenes. Hoje, esse lugar é ocupado pelo conjunto habitacional Minha Casa, Minha Vida, construído no governo Dilma Roussef.

É interessante notar que, devido ao seu terreno ser acidentado, a Chumbada obtêm duas vertentes (vias de acesso) - uma voltada para Rua Guilherme dos Santos Andrade e a outra vertente voltada para a rodovia Dr. Nilo Peçanha, onde se encontram os bairros São Miguel e Nova Cidade. Com uma vegetação mais densa, os moradores da vertente voltada para o Galo Branco, na década de 70, davam privilégios aos transportes que passavam na Rua Guilherme dos Santos Andrade. Então, essa vertente voltada para o Galo Branco e Mutondo passou por um processo de melhorias. A vegetação densa no alto do morro dificultava a travessia por aqueles moradores que moravam próximos à rodovia Guilherme dos Santos Andrade, no entanto, o acesso aos transportes na rua Dr. Nilo Peçanha ficava bastante longínquo, demandando muito tempo; os moradores dependiam muito mais dos transportes rodoviários do que do ferroviário, que passava nessa época em Nova Cidade. Com o crescimento populacional na região, foram colocadas linhas de ônibus da empresa chamada Renascença, na rodovia Guilherme dos Santos Andrade, que logo depois foi comprada pela Viação Galo Branco que iniciava o processo de abertura de rodovias para a circulação de ônibus. Como existia uma vegetação ainda muito densa no bairro Mutondo, um meio de aumentar o trajeto dos ônibus foi abrir caminhos com tratores devastando toda a vegetação, trabalho realizado pela então Viação Galo Branco, desejando aumentar a quantidade de passageiros transportados.

Tempos atuais[editar | editar código-fonte]

Como vimos na história da favela da Chumbada, o tráfico de drogas existia desde a década de 1960, no entanto, era pouco expressivo o seu poder bélico, o que garantia uma maior efetivação nas incursões policiais, mas, com o passar do tempo, a partir da virada dos anos 70 e 80 do século passado, houve um aumento do poder bélico, que significou o aumento no controle territorial das favelas por grupos de traficantes. A maconha passa agora a ser vendida junto à cocaína, ocorrendo assim um aumento na arrecadação de capital, o que potencializou o narcotráfico.

Mas é na década de 90 que a favela da Chumbada irá ganhar destaque no cenário gonçalense e um dos requisitos para isso foi a realização dos antigos bailes funks. A favela, então, fica famosa no espaço gonçalense, especialmente por realizar tais eventos. Somam-se a isso outros meios que levaram a favela a ser conhecida, a exemplo das músicas tocadas nas rádios levando o nome da Chumbada ou citações da favela em letras de músicas. Tais ações davam à favela da Chumbada um destaque no cenário municipal e metropolitano. Este acontecimento cada vez mais aumentou a atração de pessoas “de fora” para a comunidade, onde eram realizados os bailes funks, consequentemente, aproximando as pessoas do espaço favelado.

Desta maneira, a favela da Chumbada, no início de sua formação, teria indícios de um lugar tranquilo e pacato, porém, essa realidade começou a mudar. Na década de 1960, já existia a presença do tráfico de drogas na Chumbada, assim, por via das dúvidas, em uma das entrevistas, um morador disse ter sido um dos primeiros integrantes da venda de drogas na localidade; este mesmo relatou possuir, na época, algumas armas de fogo, como o revólver calibre 38, para realizar a compra do material bélico. Segundo o morador, era necessário à venda de drogas como a maconha. Tal fato pode ser corroborado quando os reclames de moradores do bairro Galo Branco se referiam à segurança na localidade, pedindo, por exemplo, um posto policial. Uma reportagem, noticiada em 05/03/1963 no Jornal O São Gonçalo, pode comprovar que essa região já passava por um período instável quanto à segurança.

Tal acontecimento fortaleceu o tráfico de drogas na favela, que passou a lucrar com a venda de drogas no varejo e se tornou robusto belicamente, dominando o território de forma mais eficaz. Com o passar do tempo, os noticiários de casos de violência na comunidade aumentaram e passaram a ser notícias já esperadas nas páginas dos jornais. Em especial, houve um momento em que a favela da Chumbada passou a ter mais destaque no cenário gonçalense, em relação aos casos de violência: este fato foi quando ocorreram desavenças entre os líderes do tráfico local, surgindo a partir daí, futuros conflitos, levando às mortes de muitas pessoas. Deste modo, mediante as divergências constantes, houve mudanças em relação às facções criminosas locais: no início, o lugar era dominado pelo C.V. (Comando vermelho) e mudou para o A.D.A (Amigos dos Amigos). Assim, a favela passou por várias instabilidades a partir das alterações territoriais, intensificadas com os constantes “golpes de estado”, trazendo muita insegurança para os moradores com as guerras sucessivas. Este fator foi o ponto chave para a favela se tornar um barril de pólvora.

Os moradores ficam em meio à guerra; os medos, em época de disputas territoriais, ocasionam o pavor e o toque de recolher, tornando a vida na favela muito mais difícil. Reportagens, como veremos, narram como estava a favela no período do conflito no ano de 2009, com a ocorrência muitas mortes.

Os corpos de pelo menos seis vítimas da guerra de traficantes no Morro da Chumbada, no Mutondo, em São Gonçalo, podem estar enterrados numa área abandonada do cemitério São Miguel, cujos fundos margeia a favela”. (Jornal O São Gonçalo 04/10/2009, enviado por Celso Brito 19:38:56)

A guerra na favela vem acontecendo, principalmente, desde as mudanças de facções: anteriormente, eram C.V. (Comando Vermelho) e, com a morte de um líder do morro, acabou acontecendo um “golpe de estado” e mudando para a facção A.D.A (Amigos dos Amigos). A facção A.D.A acabou dominando, por um período, o território da favela (em torno de 8 anos), mas perdeu o seu território no início de 2013 para o T.C.P. (Terceiro Comando Puro). Este comando durou pouco tempo, em torno de 6 meses, perdendo, no ano de 2013, o mesmo território para o C.V.

Sobre a experiência de vida em Chumbada, o rapper PL Quest, que viveu desde pequeno na favela, destacou aprendizados e problemas, em entrevista ao jornal Meia Hora[2]. "Se eu tivesse que falar uma coisa só, seria difícil. Mas a parada que eu mais aprendi foi saber dividir com os meus crias no dia a dia". Já a falta de saneamento básico é o problema que chama mais sua atenção: "O esgoto é a céu aberto em várias partes da favela. A comunidade tinha que ser asfaltada em vários lugares que é muito difícil de passar. Prejudica demais", resume. E, acima de tudo, diz que quer, por meio da música, "mostrar que favela não é só tráfico".

Mapa satélite da Chumbada

Origens do Bairro Galo Branco[editar | editar código-fonte]

A história do bairro Galo Branco está intrinsecamente ligada ao sucesso e à popularidade de um comerciante local cujo nome permanece desconhecido. Esse fazendeiro foi um dos primeiros proprietários e residentes da região, sendo proprietário de um comércio localizado na Rua São Pedro, em Niterói, conhecido como "Casa de Ferragens Galo Branco". Para chegar à localidade, agora conhecida como Chumbada, os moradores locais passaram a usar a porteira de sua propriedade como ponto de referência, que ficou conhecida como o "Homem do Galo Branco". Em um gesto marcante, o comerciante decidiu adornar a porteira com uma estátua de um galo de louça na cor branca, tornando-se um símbolo para aqueles que procuravam sua fazenda ou que seguiam para propriedades vizinhas. Foi assim que o bairro Galo Branco teve origem.

O Rapper PL Quest e a Comunidade de Chumbada[editar | editar código-fonte]

Um destaque notável da comunidade de Chumbada é o rapper conhecido como "PL Quest", cujo nome verdadeiro é Paulo Lourenço. Ele ganhou reconhecimento por sua música intitulada "Chumbada", que acumula mais de 5 milhões de visualizações no YouTube. PL Quest faz parte da nova geração do rap, um gênero musical em constante crescimento no Brasil. Em suas palavras, ele compartilhou suas experiências de infância na Chumbada em uma entrevista ao jornal MEIA HORA[2], enfatizando a importância de seus pais diante das dificuldades:

"Para aqueles que vivem em favelas, nada é fácil. O estado e o sistema muitas vezes não olham para nós da mesma maneira que olham para as áreas urbanas. As favelas frequentemente são negligenciadas. Graças a Deus, meus pais trabalharam incansavelmente para garantir que nunca passássemos fome. Eles forneceram o apoio de que eu precisava. Embora nunca tenhamos tido luxo, nunca passamos fome. Houve momentos em que nossa refeição era composta apenas de arroz e ovos por três dias."

Paulo também compartilhou as principais dificuldades que enfrentou ao crescer na comunidade, incluindo a escassez de serviços básicos, como transporte e saúde:

"Na comunidade, enfrentamos desafios consideráveis, como transporte precário e acesso limitado à assistência médica. Chegar a um pronto-socorro é especialmente difícil. Além disso, o estigma social é uma realidade. Quando mencionamos de onde viemos, algumas pessoas não entendem ou têm preconceitos. Isso torna a busca por emprego ainda mais complicada devido à dificuldade de acesso ao transporte público. Muitos empregadores relutam em pagar múltiplas passagens para candidatos que vivem em favelas."

Links externos[editar | editar código-fonte]

PL Quest "CHUMBADA"

Referências[editar | editar código-fonte]

1) Texto retirado da monografia de conclusão de curso para a faculdade UERJ.

NOTA WIKIFAVELAS: necessita citar a fonte de informação da monografia - autor/a, título do trabalho e identificação do curso de graduação. Se possível, informar o link para acessar o trabalho.

2) Wikipedia

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. Fontes de informação: 1) Texto retirado da monografia de conclusão de curso para a faculdade UERJ. 2) Wikipedia
  2. 2,0 2,1 Jornal Meia Hora