Coletivo Fotografia Periferia e Memória

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Coletivo formado por pessoas que fotografam e/ou atuam para a criação, difusão e valorização de uma cultura visual diversa, reconhecedora de valores, saberes, histórias, direitos e suas violações relativos a espaços populares urbanos, bem como a expressões de povos originários e tradições culturais brasileiras.

Autoria: Coletivo Fotografia, Periferia e Memória
Fotografias da exposição Outras Marés, na itinerância realizada por ocasião do evento 'Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país', promovido pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco, em março de 2023, na Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz (RJ).
Fotografias da exposição Outras Marés, na itinerância realizada por ocasião do evento 'Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país', promovido pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco, em março de 2023, na Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz (RJ).  

Sobre[editar | editar código-fonte]

Produzimos e divulgamos trabalhos artísticos - documentais sobre os lugares que amamos, vivemos e atuamos, com a certeza de que esses registros irão se tornar a memória visual dos nossos territórios. Seguimos guardando a memória das festas populares e das lutas sociais, disputando narrativas para que não se tenha uma visão única, hegemônica e quase sempre preconceituosa sobre tudo o que é de origem popular. A fotografia em que acreditamos se faz nos encontros, de forma compartilhada, junta e misturada de dentro do nosso centro que, para muitos de nós, são as periferias.

História[editar | editar código-fonte]

O coletivo Fotografia Periferia e Memória (FPM) foi criado em agosto de 2015, a partir de um convite de Sandra Baruki, integrante da equipe técnica do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Fundação Nacional de Artes (Funarte) desde 1986, onde atua como coordenadora na área de preservação e conservação de acervos fotográficos, para que fosse oferecida uma oficina sobre fotografia popular, como parte da programação do FotoRio daquele ano.

O curso, que recebeu o nome de Fotografia, Periferia e Memória, foi organizado por Dante Gastaldoni[1] e contou com a colaboração de Tatiana Altberg[2], João Roberto Ripper[3] e Ratão Diniz[4]. A boa receptividade da iniciativa, justificou outro convite da Funarte, para o oferecimento, naquele mesmo ano, de 11 oficinas de fotografia nas regiões Norte e Nordeste do país. Para dar conta da tarefa, fotógrafas e fotógrafos - que reconhecem o seu fazer fotográfico como parte da "fotografia popular", expressão coletiva e polissêmica - foram convidados a integrar o grupo, consolidando, assim, o trabalho coletivo como base de ação.

Atuação[editar | editar código-fonte]

Nos anos subsequentes, o Coletivo FPM, com formações distintas, apresentou-se em mais de 30 cidades de 13 estados brasileiros, construindo parcerias importantes, em especial com o Sesc Paraty e o Retrato Espaço Cultural, criado e gerenciado pela fotógrafa Nana Moraes. Em 2017, a convite do Sesc Paraty, foi oferecida a oficina “Fotografia documental e olhar autoral”, com 120 horas-aula, distribuídas ao longo de sete semanas. A parceria se renovou em 2021, durante a pandemia, com a série de seis vídeos “A presença da máscara nas festas populares do Brasil – um passeio fotográfico com Ratão Diniz” e o curso “Fotografia Periferia e Memória”, composto por 21 vídeos, que culminou com a exposição Outras Marés, exibida inicialmente no Sesc Santa Rita, em Paraty (2021), seguindo em itinerância pelo Retrato Espaço Cultural (2022) e pela Fiocruz (2023), por ocasião do evento “MARIELLE VIVE! Favelas na Reconstrução do País”, realizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco em 13 de março de 2023, na Biblioteca de Manguinhos, integrada ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz.

Esses conjuntos de vídeos gerados inspiraram a criação de duas disciplinas eletivas sobre Fotografia Popular, oferecidas pelo professor Dante Gastaldoni, na Escola de Comunicação da UFRJ em 2021 e 2022. Uma delas, Fotografia e Festas Populares, é totalmente centrada na obra de Ratão Diniz; a outra, Fotografia, Periferia e Memória, foi ancorada na produção do Coletivo FPM, sendo tema de TCC defendido em julho de 2023 pela aluna Fernanda Mendes.

Por sugestão de Nana Moraes, em 2022, durante a exibição de Outras Marés no Retrato Espaço Cultural, foi desenvolvida a ação A Fotografia Popular Ocupa o Retrato, com o oferecimento de oficinas e a venda de fotos, tanto da exposição, como através da Feira de Fotografia Popular. Também em 2022, a convite do Sesc Paraty, o Coletivo FPM participou do Paraty em Foco (com palestra e projeção) e da concepção e produção da revista “A fotografia popular por ela mesma”, lançada na Feira de Literatura de Paraty em 2022, com lançamentos também em 2023, no Retrato Espaço Cultural e no Festival de Fotografia de Tiradentes.

Integrantes[editar | editar código-fonte]

A maioria dos integrantes do FPM concilia a trajetória de trabalho individual com a atuação no coletivo. Fazem parte do coletivo, em sua atual formação: Ana Mendes, AF Rodrigues, Aline Oliveira, Dante Gastaldoni, Elisângela Leite, Erika Tambke, Fábio Caffé, Fernanda Dias, Jaqueline Félix, Joana Mazza, João Roberto Ripper, Kita Pedroza, Léo Lima, Luiz Baltar, Marina S. Alves, Meysa Medeiros, Monara Barreto, Nay Jinknss, Ratão Diniz, Renan Otto, Rovena Rosa, Samuel Macedo, Tatiana Altberg, Tay Winter, Thais Alvarenga, Thaís Rocha, Thiago Ripper, Vitória Corrêia e Wanderson Santos.

Exposição Outras Marés[editar | editar código-fonte]

Parte do coletivo FPM na abertura da mostra Outras Marés, no evento Evento Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país, realizado pelo Dicionário Marielle Franco em março de Fiocruz 2023. Autor: desconhecido.
Parte do coletivo FPM na abertura da mostra Outras Marés, no evento Marielle Vive! Favelas na reconstrução do país, realizado pelo Dicionário Marielle Franco em 13-03-2023. Foto: Equipe Dicionário MF.

Composta por fotografias de integrantes do coletivo Fotografia, Periferia e Memória, a exposição Outras Marés foi exibida inicialmente no Sesc Santa Rita, em Paraty (2021), seguindo em itinerância pelo Retrato Espaço Cultural (2022) e pela Fiocruz (2023), por ocasião do evento “MARIELLE VIVE! Favelas na Reconstrução do País”, realizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco em 13 de março de 2023, na Biblioteca de Manguinhos, integrada ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz.

Apresentação da exposição Outras Marés, realizada na Biblioteca de Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz:

OUTRAS MARÉS

Ao contrário do significado geralmente atribuído às marés, entendidas como movimentos repetitivos e previsíveis, as fotografias de Outras Marés pretendem sugerir transcendência, superação e mudança. Sabemos que as marés dependem do sol, da lua, do movimento gravitacional e acabam sendo reflexos de uma verdadeira conspiração cósmica, para garantir que cada litoral tenha a sua própria maré, imutável, num indo e vindo infinito, como bem definiu o poeta.

Já no contexto que estamos privilegiando, as marés são múltiplas e mutantes. Se imaginarmos um percurso imagético começando lá no conjunto de favelas da Maré, berço da Escola de Fotógrafos Populares, projeto visionário criado em 2004 por João Roberto Ripper, até chegarmos ao acolhimento com que a Fundação Oswaldo Cruz está nos recebendo, aqui na Biblioteca de Manguinhos, teremos atravessado diversas marés, a começar pelo projeto Maré das Artes e pelo ciclo de palestras Fotografia Periferia e Memória, ambos oferecidos pelo Sesc Paraty em formato on-line ao longo de 2021, que resultaram nas fotografias da exposição Outras Marés, apresentada no Sesc Santa Rita entre dezembro daquele ano a março de 2022, seguindo em itinerância pelo Retrato Espaço Cultural, ao longo do ano passado, e reaparecendo agora, para nosso orgulho, no evento Marielle Vive! Favelas na Reconstrução do País promovido pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco. Diante de nossos olhos, desfilam depoimentos visuais sobre as periferias, aqui entendidas em seu sentido mais amplo, não como espaços geograficamente demarcados, mas pelo viés político de territórios que estão à margem das decisões financeiras e de boa parte das políticas públicas. Vistas assim, de dentro para fora, e permeadas por cumplicidade e afeto, as favelas e as populações tradicionais se mostram pela pujança de sua arte e pela luta de sua gente para sobreviver com dignidade, na contramão da abordagem estigmatizada – e, não raro, depreciativa – com que essas localidades costumam ser representadas. Diante dessa constatação, surge a esperança de estarmos ao sabor de uma nova maré, que há de varrer desigualdades e semear utopias.

Texto: Dante Gastaldoni, curador.

Expositores: AF Rodrigues, Elisângela Leite, Fábio Caffé, Léo Lima, Luiz Baltar, Meysa Medeiros, Monara Barreto, Ratão Diniz, Thais Alvarenga, Thiago Ripper e Wanderson Santos

Os autores e as autoras das fotos expostas, além do curador, integram o Coletivo Fotografia Periferia e Memória, também composto por: Ana Mendes, Erika Tambke, Évlen Lauer, Fernanda Dias, Jaqueline Félix, Joana Mazza, João Roberto Ripper, Kita Pedroza, Nay Jinknss, Renan Otto, Rovena Rosa, Tay Winter e Thais Rocha

Fotografias da mostra[editar | editar código-fonte]

Outras Marés já foi exibida em três ocasiões e espaços diferentes no Rio de Janeiro - passando por Paraty, no interior do estado, pelo bairro da Glória (região central da cidade) e pela Biblioteca da Fiocruz em Maguinhos (na zona norte). A seguir, apresentamos uma imagem de cada autor/autora da exposição.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Série “A presença da máscara nas festas populares do Brasil”

Ciclo de palestras “Fotografia Periferia e Memória”

Vídeo da Exposição Outras Marés - Sesc Paraty

Matéria sobre a exposição Outras Marés no Evento MARIELLE VIVE! Favelas na Reconstrução do País

Contatos[editar | editar código-fonte]

Instagram @coletivofpm

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. Dante Gastaldoni (nascido em 1950) é pai de Daniel e Diego, carioca, botafoguense e professor de fotografia desde 1976. Jornalista e cientista social formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com mestrado em Fotografia no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF, atuou como professor no Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF (1980/2016), foi coordenador acadêmico da Escola de Fotógrafos Populares (2005/2012) e leciona Fotografia na Escola de Comunicação da UFRJ desde 1983. Em 2015, participou da criação do coletivo Fotografia, Periferia e Memória. Fonte: Revista A Fotografia Popular por Ela Mesma
  2. Tatiana Altberg nasceu no Rio de Janeiro em 1974 e iniciou sua produção artística no começo dos anos 1990. É artista visual, com ampla experiência em projetos ligados a fotografia, design e educação. Em 2003, criou o Mão na Lata, em parceria com a OSCIP Redes da Maré, para jovens das comunidades da Maré, com participação, até hoje, em exposições, seminários e publicações. Em 2005, publicou o livro de fotografias Sí por Cuba (Cosac Naify), resultado de sua viagem a Cuba. Participou da Residência Artística Setor Público (RASP) em 2018, publicando, como resultado dessa experiência, o livro Quem eu acordei hoje? (Automatica Edições, 2019). Em 2020/2021, realizou a ação A Maré de Casa, em colaboração com Raquel Tamaio e em parceira com a Redes da Maré e o People’s Palace Project. Fonte: Coleção ArteBra
  3. Com cerca de 50 anos de carreira, João Roberto Ripper ocupa lugar de destaque na fotografia documental humanitária no Brasil e no mundo. Nos anos 90, trabalhou ao lado do Ministério Público e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) denunciando focos de trabalho análogo à escravidão em minas de carvão no interior do país e fotografou durante duas décadas a triste saga dos índios Guarani Kaiowá em busca de direitos básicos. Hoje, Ripper é visto como inspirador de novos olhares sobre as favelas cariocas, por ser um dos principais fundadores do programa Imagens do Povo, do qual faz parte a Escola de Fotografia Popular, que forma profissionais, prioritariamente moradores de favelas e periferias, em fotografia a partir da perspectiva dos Direitos Humanos. Nos últimos anos, tem percorrido o Brasil e o mundo ministrando a oficina Bem querer, onde ensina os princípios da comunicação popular e fala sobre o método de trabalho que guia a sua prática - a fotografia compartilhada -, onde as pessoas fotografadas ajudam a editar o material final. João Ripper tem dois livros lançados: Imagens Humanas e Retrato Escravo. Fonte: Imagens Humanas
  4. Fotógrafo formado pela Escola de Fotógrafos Populares e até o ano de 2014 foi integrante da agência Imagens do Povo, fundada na favela da Maré pelo fotodocumentarista João Roberto Ripper. Ao completar 10 anos de carreira, Ratão lançou seu primeiro livro “Em Foto” (Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2014) e, de lá para cá, tem se consolidado como um dos mais importantes fotodocumentaristas do nosso país, com um trabalho que transita entre os grafiteiros, as favelas e a cultura popular. Em paralelo com a documentação dos Bate-Bolas (RJ), Ratão Diniz tem demonstrado particular interesse em fotografar festas populares que se caracterizam pelo uso de máscaras. Fonte: Ratão Diniz