Poesia, favela e Baixada - cultura e acesso (poema): mudanças entre as edições
(Um mural de poesias de pessoas periféricas da baixada com o recorte em São João de Meriti e que também pode conter fotos e localizações de espaços culturais na cidade.) |
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Dentro desse verbete vou trazer poesias que, a partir da escrevivência traduzam a realidade de um jovem negro periférico da | Poesia, favela e Baixada - cultura e acesso é um verbete que reúne poesias em torno da temática da realidade vivida por um jovem negro, periférico, da Baixada Fluminense. | ||
Aqui nesse espaço virtual espero construir um mural de poesias, fotos e localizações que coloquem espaços culturais da cidade em | Autoria: Alxgb13 | ||
==Sobre== | |||
Dentro desse verbete, vou trazer poesias que, a partir da escrevivência, traduzam a realidade de um jovem negro, periférico, da [[Movimento social lança minidocumentário sobre o Dia da Baixada|Baixada Fluminense]]. Eu falo de um território que é esquecido dentro da Baixada: [[São João de Meriti: Distopia Gera Utopia|São João de Meriti]]. Um território que muitas vezes não é conhecido pelos próprios moradores da Baixada. Esse município é [[Desigualdade nas metrópoles (boletim)|extremamente pobre]] na sua maioria, e o acesso à cultura é limitado dentro da cidade. Enquanto referências, temos a [https://casadaculturabaixada.org.br/ Casa da Cultura], que fica em frente à praça da prefeitura, e temos em construção o memorial do Marinheiro João Cândido, um herói nacional negro. Mas há um problema: o acesso à cultura está centralizado em apenas um ponto de um município de 35,216Km² e que contém incríveis 440.962 habitantes. O investimento em cultura, lazer e esporte se limita à construção de praças. | |||
Aqui, nesse espaço virtual, espero construir um mural de poesias, fotos e localizações que coloquem espaços culturais da cidade em evidência e que principalmente o jovem, negro, favelado de São João de Meriti tenha um espaço para a postagem e demonstração do que se produz nas favelas da Baixada. | |||
==Poesias== | |||
===Baixada cruel=== | |||
Um mundo sádico e violento, violência? Isso aqui é normal | |||
ando neurótico pelas esquinas | ando neurótico pelas esquinas | ||
me afogo nas drogas, fácil acesso a drogas | me afogo nas drogas, fácil acesso a drogas | ||
talvez entorpecendo minha mente a dor que eu sinto alivia | talvez entorpecendo minha mente a dor que eu sinto alivia | ||
a cada rua, a cada esquina, a cada situação que eu vejo, me situa e me deixa mais puto com a realidade | |||
ando olhando para o celular, como sempre o celular | a cada rua, a cada esquina, a cada situação que eu vejo, me situa e me deixa mais puto com a realidade | ||
me distraindo e enchendo minha mente de informação | |||
eu já nem penso em quem eu sou ou como estou | ando olhando para o celular, como sempre o celular | ||
me distraindo e enchendo minha mente de informação | |||
eu já nem penso em quem eu sou ou como estou | |||
e o meu povo tão alienado | e o meu povo tão alienado | ||
só para avisar, da barricada para cá o mundo é diferente | só para avisar, da barricada para cá o mundo é diferente | ||
o mundo tem outro sentido | |||
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outra rotação, outra formação, outra direção, sempre com contenção e jamais na infração. | outra rotação, outra formação, outra direção, sempre com contenção e jamais na infração. | ||
sigo firme e desconfiado, vivendo de trago em trago | sigo firme e desconfiado, vivendo de trago em trago | ||
olhando esse mundo de forma diferente | |||
me deixando intrigado com essa realidade | olhando esse mundo de forma diferente | ||
da conformidade com o inconformável | |||
me deixando intrigado com essa realidade | |||
da conformidade com o inconformável | |||
do medo velado e da fome insaciável | do medo velado e da fome insaciável | ||
sigo vivendo em um mundo instável em que ódio e felicidade andam lado a lado | |||
e sabe o que me deixa mais intrigado? | |||
com o menorzin no 12 ninguém está preocupado! | |||
=== eu até queria falar sobre amor === | |||
como pude ir pensando na volta? | |||
na revolta eu sigo por aí | |||
andando com rumo e sem direção | |||
ter na minha mente e corpo muita disposição | |||
e não me olhe assim pois a vida é engraçada | e não me olhe assim pois a vida é engraçada | ||
feitas de fases | |||
fases de agonia e alegria | feitas de fases | ||
várias covardias | |||
mundo cruel e sádico | fases de agonia e alegria | ||
ando batendo muita neurose | |||
mas eu não me atrapalho, não uso atalho | várias covardias | ||
apenas existo e | |||
qual amor maior, se não o meu | mundo cruel e sádico | ||
por que tanto amor pro mundo ? | |||
por que tantos amores confusos ? | ando batendo muita neurose | ||
relações sociais, caos social | |||
amores fatais, mentes fracas e corrompidas | mas eu não me atrapalho, não uso atalho | ||
ando, ando, ando e nunca chego | |||
falo, falo, falo e ninguém me escuta | apenas existo e | ||
talvez eu escreva para cegos | |||
ou fale para surdos | qual amor maior, se não o meu | ||
nesse mundo me sinto um rato | |||
ando sempre escaldado | por que tanto amor pro mundo? | ||
o mundo me abomina mas eu existo | |||
sempre querendo passar despercebido | por que tantos amores confusos? | ||
talvez vestindo a "marra" eles me respeitem | relações sociais, caos social | ||
me visto diferente e eu sou diferente | amores fatais, mentes fracas e corrompidas | ||
ando, ando, ando e nunca chego | |||
falo, falo, falo e ninguém me escuta | |||
talvez eu escreva para cegos | |||
ou fale para surdos | |||
nesse mundo me sinto um rato | |||
ando sempre escaldado | |||
o mundo me abomina mas eu existo | |||
sempre querendo passar despercebido | |||
pessoas pensam que eu sou metido | |||
talvez vestindo a "marra" eles me respeitem | |||
me julgam pois falo diferente, me visto diferente e eu sou diferente | |||
vejo o mundo de outro lugar | vejo o mundo de outro lugar | ||
aqui faz frio no verão | aqui faz frio no verão | ||
paz e guerra, amor e ódio | |||
paz e guerra, amor e ódio | |||
essa poesia era para falar de amor | essa poesia era para falar de amor | ||
me desculpe, mas é muito ódio acumulado. | me desculpe, mas é muito ódio acumulado. | ||
===coisa de preto=== | |||
me entorpecendo e tentando ficar inconsciente | |||
mas, conscientemente eu vivo a dura realidade. | |||
eu sou o povo daqui e represento o povo daqui. | eu sou o povo daqui e represento o povo daqui. | ||
é assim | é assim | ||
minha pele é igual um finin' de ouro | minha pele é igual um finin' de ouro | ||
reluz em qualquer lugar que eu chego | reluz em qualquer lugar que eu chego | ||
chama atenção | |||
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e sempre sobre tensão | e sempre sobre tensão | ||
vivo o meu dia normal, como se tudo aquilo fosse normal | vivo o meu dia normal, como se tudo aquilo fosse normal | ||
mas será que eu sou anormal? | |||
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sempre pensando e me torturando | sempre pensando e me torturando | ||
o que me difere dele? E por que o espanto? | o que me difere dele? E por que o espanto? | ||
mas é esse olhar, é aquele olhar que você conhece | |||
eu consigo enxergar, eu vejo | mas é esse olhar, é aquele olhar que você conhece | ||
no meios de todos olhares | |||
eu te enxergo e é assim que eu vivi e vivo | eu consigo enxergar, eu vejo | ||
espaços rejeitam minha pele, minha voz | |||
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eu te enxergo e é assim que eu vivi e vivo | |||
espaços rejeitam minha pele, minha voz | |||
eu falo preto, ando preto | eu falo preto, ando preto | ||
sou preto, me comunico preto | sou preto, me comunico preto | ||
tenho gíria de preto, ando igual preto | tenho gíria de preto, ando igual preto | ||
eu sou preto e carrego muitas coisas de preto | eu sou preto e carrego muitas coisas de preto | ||
minha mãe é branca e nem me entende | minha mãe é branca e nem me entende | ||
até hoje não esqueço | |||
até hoje não esqueço | |||
um branco achando que eu roubei uma banana | um branco achando que eu roubei uma banana | ||
tão novo eu nem entendia a crueldade daquele momento | tão novo eu nem entendia a crueldade daquele momento | ||
imagina desde cedo tanto sofrimento, só minha mãe enquanto exemplo | |||
sempre o risonho, sério | imagina desde cedo tanto sofrimento, só minha mãe enquanto exemplo | ||
neuroses que eu não sei explicar | |||
sempre o risonho, sério | |||
neuroses que eu não sei explicar | |||
talvez em algum momento eu consiga me expressar. | talvez em algum momento eu consiga me expressar. | ||
==Ver também== | |||
*[[Poesia de Esquina]] | |||
*[[Coletivo NósdaRUA]] | |||
*[[Celeste Estrela]] | |||
[[Categoria:Temática - Cultura]] | |||
[[Categoria:Poesia]] | |||
[[Categoria:Poemas]] | |||
[[Categoria:Relações étnico-raciais]] | |||
[[Categoria:Baixada Fluminense]] | |||
[[Categoria:São João de Meriti]] |
Edição atual tal como às 18h02min de 24 de abril de 2024
Poesia, favela e Baixada - cultura e acesso é um verbete que reúne poesias em torno da temática da realidade vivida por um jovem negro, periférico, da Baixada Fluminense.
Autoria: Alxgb13
Sobre[editar | editar código-fonte]
Dentro desse verbete, vou trazer poesias que, a partir da escrevivência, traduzam a realidade de um jovem negro, periférico, da Baixada Fluminense. Eu falo de um território que é esquecido dentro da Baixada: São João de Meriti. Um território que muitas vezes não é conhecido pelos próprios moradores da Baixada. Esse município é extremamente pobre na sua maioria, e o acesso à cultura é limitado dentro da cidade. Enquanto referências, temos a Casa da Cultura, que fica em frente à praça da prefeitura, e temos em construção o memorial do Marinheiro João Cândido, um herói nacional negro. Mas há um problema: o acesso à cultura está centralizado em apenas um ponto de um município de 35,216Km² e que contém incríveis 440.962 habitantes. O investimento em cultura, lazer e esporte se limita à construção de praças.
Aqui, nesse espaço virtual, espero construir um mural de poesias, fotos e localizações que coloquem espaços culturais da cidade em evidência e que principalmente o jovem, negro, favelado de São João de Meriti tenha um espaço para a postagem e demonstração do que se produz nas favelas da Baixada.
Poesias[editar | editar código-fonte]
Baixada cruel[editar | editar código-fonte]
Um mundo sádico e violento, violência? Isso aqui é normal
ando neurótico pelas esquinas
me afogo nas drogas, fácil acesso a drogas
talvez entorpecendo minha mente a dor que eu sinto alivia
a cada rua, a cada esquina, a cada situação que eu vejo, me situa e me deixa mais puto com a realidade
ando olhando para o celular, como sempre o celular
me distraindo e enchendo minha mente de informação
eu já nem penso em quem eu sou ou como estou
e o meu povo tão alienado
só para avisar, da barricada para cá o mundo é diferente
o mundo tem outro sentido
outra rotação, outra formação, outra direção, sempre com contenção e jamais na infração.
sigo firme e desconfiado, vivendo de trago em trago
olhando esse mundo de forma diferente
me deixando intrigado com essa realidade
da conformidade com o inconformável
do medo velado e da fome insaciável
sigo vivendo em um mundo instável em que ódio e felicidade andam lado a lado
e sabe o que me deixa mais intrigado?
com o menorzin no 12 ninguém está preocupado!
eu até queria falar sobre amor[editar | editar código-fonte]
como pude ir pensando na volta?
na revolta eu sigo por aí
andando com rumo e sem direção
ter na minha mente e corpo muita disposição
e não me olhe assim pois a vida é engraçada
feitas de fases
fases de agonia e alegria
várias covardias
mundo cruel e sádico
ando batendo muita neurose
mas eu não me atrapalho, não uso atalho
apenas existo e
qual amor maior, se não o meu
por que tanto amor pro mundo?
por que tantos amores confusos?
relações sociais, caos social
amores fatais, mentes fracas e corrompidas
ando, ando, ando e nunca chego
falo, falo, falo e ninguém me escuta
talvez eu escreva para cegos
ou fale para surdos
nesse mundo me sinto um rato
ando sempre escaldado
o mundo me abomina mas eu existo
sempre querendo passar despercebido
pessoas pensam que eu sou metido
talvez vestindo a "marra" eles me respeitem
me julgam pois falo diferente, me visto diferente e eu sou diferente
vejo o mundo de outro lugar
aqui faz frio no verão
paz e guerra, amor e ódio
essa poesia era para falar de amor
me desculpe, mas é muito ódio acumulado.
coisa de preto[editar | editar código-fonte]
me entorpecendo e tentando ficar inconsciente
mas, conscientemente eu vivo a dura realidade.
eu sou o povo daqui e represento o povo daqui.
é assim
minha pele é igual um finin' de ouro
reluz em qualquer lugar que eu chego
chama atenção
e sempre sobre tensão
vivo o meu dia normal, como se tudo aquilo fosse normal
mas será que eu sou anormal?
sempre pensando e me torturando
o que me difere dele? E por que o espanto?
mas é esse olhar, é aquele olhar que você conhece
eu consigo enxergar, eu vejo
no meios de todos olhares
eu te enxergo e é assim que eu vivi e vivo
espaços rejeitam minha pele, minha voz
eu falo preto, ando preto
sou preto, me comunico preto
tenho gíria de preto, ando igual preto
eu sou preto e carrego muitas coisas de preto
minha mãe é branca e nem me entende
até hoje não esqueço
um branco achando que eu roubei uma banana
tão novo eu nem entendia a crueldade daquele momento
imagina desde cedo tanto sofrimento, só minha mãe enquanto exemplo
sempre o risonho, sério
neuroses que eu não sei explicar
talvez em algum momento eu consiga me expressar.