Psicologia Favelada (livro): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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[[File:Psicologia Favelada.jpg|thumb|right|Capa do livro]]'''[[Psicologia Favelada (livro)|Psicologia Favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em Psicologia]]''' é um livro escrito pela Psicóloga e Professora Mariana Alves Gonçalves.  Lançado em 2019 no Brasil pela Mórula Editorial, com revisão de Marília Gonçalves e conta com 252 páginas.
Autoria: Mariana Alves Gonçalves


[[File:Psicologia Favelada.jpg|thumb|right|Capa do livro]]O livro '''Psicologia Favelada - ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em Psicologia''' é um livro escrito pela Psicóloga e Professora Mariana Alves Gonçalves e lançado pela Mórula Editorial. Mariana é Doutora em Psicologia pela UFRJ, com uma trajetória marcada pela inquietação com a Psicologia e suas inserções pelas questões comunitárias e sociais. Atualmente é pesquisadora e professora universitária e continua na luta por outras psicologias possíveis.  '''Psicologia Favelada''' foi lançado em 2019 no Brasil, com revisão de Marília Gonçalves e conta com 252 páginas. 
== Biografia da autora ==
Mariana é Doutora em Psicologia pela UFRJ, com uma trajetória marcada pela inquietação com a Psicologia e suas inserções pelas questões comunitárias e sociais. Atualmente é pesquisadora e professora universitária e continua na luta por outras psicologias possíveis. 


= Sobre o livro =
== Sobre o livro ==
<p style="text-align: justify;">As reflexões propostas no livro não&nbsp;fornecem um arsenal teórico psicológico dirigido para a favela tal como foi&nbsp;outrora dirigido para a doença mental, para os problemas do trabalho ou da&nbsp;educação. É a própria objetividade psicológica que é questionada.&nbsp;Diferentemente, um movimento primordial anima este texto, um movimento&nbsp;que opera uma inversão de perspectiva. E o faz de maneira provocativa:&nbsp;em lugar de produzir uma psicologia da favela, proclama a produção de uma&nbsp;psicologia&nbsp;''favelada''.</p> <p style="text-align: justify;">Mariana narra como seu percurso na formação em Psicologia, aliada&nbsp;tanto à pesquisa como ao trabalho no território, a levou a identificar que&nbsp;alguns pressupostos difundidos entre as teorias psicológicas e difusamente&nbsp;presentes nas aulas dos curso de graduação se articulam com certa perspectiva&nbsp;elitista e produzem em seu desdobramento profissionalizante uma elite&nbsp;intelectual e profissional cujas ações precisavam ser analisadas para que esta&nbsp;inversão fosse produzida.</p> <p style="text-align: justify;">Três caminhos foram explorados neste livro.&nbsp;O primeiro se vale da inversão mencionada para analisar o plano da&nbsp;formação, da ordenação conceitual e do exercício da profissão. A análise&nbsp;dos projetos comunitários da psicologia, de sua história e de seus investimentos&nbsp;delineia um cenário de amplas capturas e algumas insurgências. Se&nbsp;o projeto “comunitário” parece ao leitor desavisado ou ao estudante ávido&nbsp;de participação social a garantia de uma ação humanizante da psicologia,&nbsp;descobrimos capturas conceituais sobre o termo comunidade que mantém&nbsp;o especialismo e o individualismo. Descobrimos algumas lutas pelo domínio&nbsp;acadêmico da, assim chamada, etiqueta “Psicologia comunitária”. As análises&nbsp;sobre o projeto comunitário, sobre a noção de comunidade, sobre a prática&nbsp;profissional voltada à transformação social e sobre a própria Psicologia&nbsp;Comunitária nos mostram onde encontrar a luta que importa.</p> <p style="text-align: justify;">Propor uma psicologia favelada emana certamente de experiências da&nbsp;autora em favelas no Rio de Janeiro. O próprio termo “favela” necessita,&nbsp;entrementes, ser detalhado. Suas histórias, seus narradores, as elaborações&nbsp;conceituais em torno da “favela” revelaram não apenas um pouco mais das&nbsp;favelas mas também o lugar de verdade em que se situa frequentemente o&nbsp;discurso acadêmico e as ações do Estado. Falar sobre a favela exige também&nbsp;ouvir a favela, exige mais uma volta do parafuso, isto é, exige falar''&nbsp;com''&nbsp;a favela.&nbsp;Inversão metodológica, a favela não constitui objeto de investigação, mas&nbsp;a referência da perspectiva, o ponto problematizador da psicologia. Além&nbsp;disso, as narrativas dos processos de lutas e resistências ali presentes fortalecem&nbsp;o protagonismo da favela, destituem os discursos que concebem as&nbsp;favelas essencialmente como lugar da falta e da violência.</p> <p style="text-align: justify;">As experiências da autora em favelas materializam a difícil tarefa de atuar&nbsp;no plano da subjetivação. Recusado o especialismo psicológico, analisada a&nbsp;relação dialética da favela com a cidade, conhecidas algumas das lutas, foi&nbsp;preciso expor experiências situadas do encontro entre psicologia e favela.&nbsp;Abandonar o essencialismo de categorias e perspectivas centrais da psicologia hegemônica não significa abandonar a psicologia. Há uma traição neste ato, mas daquela que se recusa a manter um estado de coisas desumanizador.&nbsp;Humanizar a favela como psicóloga é também humanizar a psicologia.</p> <p style="text-align: justify;">Este livro constitui uma afirmação da psicologia, um alento para a&nbsp;insurgência acadêmica, para a desacomodação conceitual e profissional de&nbsp;psicólogas e psicólogos. Leitura rica e fortalecedora para todas e todos que&nbsp;pretendem conhecer a atuar em comunidades, o livro também se apresenta&nbsp;como material necessário para a formação em Psicologia. É próprio à andadura&nbsp;acadêmica lidar com a diversidade, se valer dos conflitos conceituais&nbsp;e de experiências inovadoras para transformar suas teorias e suas práticas.&nbsp;Os cursos de psicologia terão certamente muito a ganhar com esta Psicologia&nbsp;favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em psicologia.</p> <p style="text-align: justify;">[Fragmentos do prefácio, escrito pelo também Psicólogo e professor da UFRJ,&nbsp;Francisco Teixeira Portugal]</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p>  
<p style="text-align: justify;">As reflexões propostas no livro não&nbsp;fornecem um arsenal teórico psicológico dirigido para a favela tal como foi&nbsp;outrora dirigido para a doença mental, para os problemas do trabalho ou da&nbsp;educação. É a própria objetividade psicológica que é questionada.&nbsp;Diferentemente, um movimento primordial anima este texto, um movimento&nbsp;que opera uma inversão de perspectiva. E o faz de maneira provocativa:&nbsp;em lugar de produzir uma psicologia da favela, proclama a produção de uma&nbsp;psicologia&nbsp;''favelada''.</p> <p style="text-align: justify;">Mariana narra como seu percurso na formação em Psicologia, aliada&nbsp;tanto à pesquisa como ao trabalho no território, a levou a identificar que&nbsp;alguns pressupostos difundidos entre as teorias psicológicas e difusamente&nbsp;presentes nas aulas dos curso de graduação se articulam com certa perspectiva&nbsp;elitista e produzem em seu desdobramento profissionalizante uma elite&nbsp;intelectual e profissional cujas ações precisavam ser analisadas para que esta&nbsp;inversão fosse produzida.</p> <p style="text-align: justify;">Três caminhos foram explorados neste livro.&nbsp;O primeiro se vale da inversão mencionada para analisar o plano da&nbsp;formação, da ordenação conceitual e do exercício da profissão. A análise&nbsp;dos projetos comunitários da psicologia, de sua história e de seus investimentos&nbsp;delineia um cenário de amplas capturas e algumas insurgências. Se&nbsp;o projeto “comunitário” parece ao leitor desavisado ou ao estudante ávido&nbsp;de participação social a garantia de uma ação humanizante da psicologia,&nbsp;descobrimos capturas conceituais sobre o termo comunidade que mantém&nbsp;o especialismo e o individualismo. Descobrimos algumas lutas pelo domínio&nbsp;acadêmico da, assim chamada, etiqueta “Psicologia comunitária”. As análises&nbsp;sobre o projeto comunitário, sobre a noção de comunidade, sobre a prática&nbsp;profissional voltada à transformação social e sobre a própria Psicologia&nbsp;Comunitária nos mostram onde encontrar a luta que importa.</p> <p style="text-align: justify;">Propor uma psicologia favelada emana certamente de experiências da&nbsp;autora em favelas no Rio de Janeiro. O próprio termo “favela” necessita,&nbsp;entrementes, ser detalhado. Suas histórias, seus narradores, as elaborações&nbsp;conceituais em torno da “favela” revelaram não apenas um pouco mais das&nbsp;favelas mas também o lugar de verdade em que se situa frequentemente o&nbsp;discurso acadêmico e as ações do Estado. Falar sobre a favela exige também&nbsp;ouvir a favela, exige mais uma volta do parafuso, isto é, exige falar''&nbsp;com''&nbsp;a favela.&nbsp;Inversão metodológica, a favela não constitui objeto de investigação, mas&nbsp;a referência da perspectiva, o ponto problematizador da psicologia. Além&nbsp;disso, as narrativas dos processos de lutas e resistências ali presentes fortalecem&nbsp;o protagonismo da favela, destituem os discursos que concebem as&nbsp;favelas essencialmente como lugar da falta e da violência.</p> <p style="text-align: justify;">As experiências da autora em favelas materializam a difícil tarefa de atuar&nbsp;no plano da subjetivação. Recusado o especialismo psicológico, analisada a&nbsp;relação dialética da favela com a cidade, conhecidas algumas das lutas, foi&nbsp;preciso expor experiências situadas do encontro entre psicologia e favela.&nbsp;Abandonar o essencialismo de categorias e perspectivas centrais da psicologia hegemônica não significa abandonar a psicologia. Há uma traição neste ato, mas daquela que se recusa a manter um estado de coisas desumanizador.&nbsp;Humanizar a favela como psicóloga é também humanizar a psicologia.</p> <p style="text-align: justify;">Este livro constitui uma afirmação da psicologia, um alento para a&nbsp;insurgência acadêmica, para a desacomodação conceitual e profissional de&nbsp;psicólogas e psicólogos. Leitura rica e fortalecedora para todas e todos que&nbsp;pretendem conhecer a atuar em comunidades, o livro também se apresenta&nbsp;como material necessário para a formação em Psicologia. É próprio à andadura&nbsp;acadêmica lidar com a diversidade, se valer dos conflitos conceituais&nbsp;e de experiências inovadoras para transformar suas teorias e suas práticas.&nbsp;Os cursos de psicologia terão certamente muito a ganhar com esta Psicologia&nbsp;favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em psicologia.</p> <p style="text-align: justify;">[Fragmentos do prefácio, escrito pelo também Psicólogo e professor da UFRJ,&nbsp;Francisco Teixeira Portugal]&nbsp;</p>
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Edição atual tal como às 11h00min de 26 de setembro de 2023

Capa do livro

Psicologia Favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em Psicologia é um livro escrito pela Psicóloga e Professora Mariana Alves Gonçalves. Lançado em 2019 no Brasil pela Mórula Editorial, com revisão de Marília Gonçalves e conta com 252 páginas.

Autoria: Mariana Alves Gonçalves

Biografia da autora[editar | editar código-fonte]

Mariana é Doutora em Psicologia pela UFRJ, com uma trajetória marcada pela inquietação com a Psicologia e suas inserções pelas questões comunitárias e sociais. Atualmente é pesquisadora e professora universitária e continua na luta por outras psicologias possíveis. 

Sobre o livro[editar | editar código-fonte]

As reflexões propostas no livro não fornecem um arsenal teórico psicológico dirigido para a favela tal como foi outrora dirigido para a doença mental, para os problemas do trabalho ou da educação. É a própria objetividade psicológica que é questionada. Diferentemente, um movimento primordial anima este texto, um movimento que opera uma inversão de perspectiva. E o faz de maneira provocativa: em lugar de produzir uma psicologia da favela, proclama a produção de uma psicologia favelada.

Mariana narra como seu percurso na formação em Psicologia, aliada tanto à pesquisa como ao trabalho no território, a levou a identificar que alguns pressupostos difundidos entre as teorias psicológicas e difusamente presentes nas aulas dos curso de graduação se articulam com certa perspectiva elitista e produzem em seu desdobramento profissionalizante uma elite intelectual e profissional cujas ações precisavam ser analisadas para que esta inversão fosse produzida.

Três caminhos foram explorados neste livro. O primeiro se vale da inversão mencionada para analisar o plano da formação, da ordenação conceitual e do exercício da profissão. A análise dos projetos comunitários da psicologia, de sua história e de seus investimentos delineia um cenário de amplas capturas e algumas insurgências. Se o projeto “comunitário” parece ao leitor desavisado ou ao estudante ávido de participação social a garantia de uma ação humanizante da psicologia, descobrimos capturas conceituais sobre o termo comunidade que mantém o especialismo e o individualismo. Descobrimos algumas lutas pelo domínio acadêmico da, assim chamada, etiqueta “Psicologia comunitária”. As análises sobre o projeto comunitário, sobre a noção de comunidade, sobre a prática profissional voltada à transformação social e sobre a própria Psicologia Comunitária nos mostram onde encontrar a luta que importa.

Propor uma psicologia favelada emana certamente de experiências da autora em favelas no Rio de Janeiro. O próprio termo “favela” necessita, entrementes, ser detalhado. Suas histórias, seus narradores, as elaborações conceituais em torno da “favela” revelaram não apenas um pouco mais das favelas mas também o lugar de verdade em que se situa frequentemente o discurso acadêmico e as ações do Estado. Falar sobre a favela exige também ouvir a favela, exige mais uma volta do parafuso, isto é, exige falar com a favela. Inversão metodológica, a favela não constitui objeto de investigação, mas a referência da perspectiva, o ponto problematizador da psicologia. Além disso, as narrativas dos processos de lutas e resistências ali presentes fortalecem o protagonismo da favela, destituem os discursos que concebem as favelas essencialmente como lugar da falta e da violência.

As experiências da autora em favelas materializam a difícil tarefa de atuar no plano da subjetivação. Recusado o especialismo psicológico, analisada a relação dialética da favela com a cidade, conhecidas algumas das lutas, foi preciso expor experiências situadas do encontro entre psicologia e favela. Abandonar o essencialismo de categorias e perspectivas centrais da psicologia hegemônica não significa abandonar a psicologia. Há uma traição neste ato, mas daquela que se recusa a manter um estado de coisas desumanizador. Humanizar a favela como psicóloga é também humanizar a psicologia.

Este livro constitui uma afirmação da psicologia, um alento para a insurgência acadêmica, para a desacomodação conceitual e profissional de psicólogas e psicólogos. Leitura rica e fortalecedora para todas e todos que pretendem conhecer a atuar em comunidades, o livro também se apresenta como material necessário para a formação em Psicologia. É próprio à andadura acadêmica lidar com a diversidade, se valer dos conflitos conceituais e de experiências inovadoras para transformar suas teorias e suas práticas. Os cursos de psicologia terão certamente muito a ganhar com esta Psicologia favelada: ensaios sobre a construção de uma perspectiva popular em psicologia.

[Fragmentos do prefácio, escrito pelo também Psicólogo e professor da UFRJ, Francisco Teixeira Portugal] 

Veja também[editar | editar código-fonte]

Mais livros[editar | editar código-fonte]