Gírias

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco


O presente verbete reúne gírias a partir da contribuição de diferentes autores e autoras, de diferentes favelas.

Colabore contando também as gírias que você usa no seu dia a dia!

Autoria: Colaborativa
Museu de Favela - MUF, no Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, Rio de Janeiro.

Introdução[editar | editar código-fonte]

Autora: Sonia Fleury

As gírias são parte do processo de comunicação e se se caracterizam por serem rápidas, ágeis, pouco duradouras e cujo significado, na maioria das vezes, não se corresponde com o sentido literal da palavra. Ou seja, trata-se da atribuição de um novo significado a um significante já existente. Uma palavra, ou signo se compõe de significante e significado. O significante corresponde à imagem acústica e o significado ao conteúdo ou conceito atribuído. Enquanto o significante é formal e estático o significado é dinâmico. As gírias fazem parte desse movimento de inovação da língua falada. Anteriormente vistas com preconceito e associadas a grupos de marginais, as gírias passaram a ser objeto de estudo da sociolinguística, o ramo da linguística que estuda as relações entre a linguagem e a sociedade, a partir do trabalho pioneiro de Labov [1] sobre as variantes linguísticas. No Brasil, o estudo da língua falada foi bastante desenvolvido pelo linguista Ataliba T. Castilho [2] .

Assim foi possível identificar a dinâmica da língua falada, que varia com os territórios, faixa etária, grupos específicos e gênero etc. Em geral, as gírias têm origem em grupos mais fechados, servindo como parte da construção e afirmação de sua identidade, podendo ou não serem expandidas para outros grupos sociais com o passar do tempo, perdendo assim a sua marca de origem. Antes se atribuía a origem das gírias apenas aos grupo sociais de classes populares, mas, constatou-se que as elites também utilizam gírias e outros símbolos identitários. Por exemplo, os supremacistas brancos aparecem em vídeos tomando leite como marca de sua visão supremacista [3] .

As gírias, como forma de comunicação, vão muito além dos signos (significante+significado), pois elas traduzem diferentes valores e conteúdos de acordo com o contexto (ou grupo onde está sendo utilizada), o tom de voz (xingamento ou afetuoso), e a própria expressão corporal. Ou seja, elas fazem parte da riqueza e dinâmica da linguagem falada, que vai muito além da linguagem formal escrita.

As gírias[editar | editar código-fonte]

Ainda[editar | editar código-fonte]

Autoria: Yury Silva.

Termo utilizado para indicar uma certeza ou uma concordância do que foi dito e o seu uso em diversas situações se assemelha a expressão "papo-reto".

Exemplos de uso:

"Ainda paizão"

"Ainda chefão"

Alemão[editar | editar código-fonte]

Autoria: Reinaldo Lopes

Termo utilizado de maneira hostil e agressiva para levantar suspeitas e acusar alguém de estar envolvido com alguma organização criminosa rival[4].

Mas rival de quem? Provavelmente de quem o acusa ser “alemão”.

O termo ganhou força graças ao cinema norte-americano que retratou, em diversos filmes, o contexto da Segunda Guerra Mundial, onde os alemães eram os principais rivais e inimigos a serem combatidos e derrotados. Trazendo para a lógica dos embates territoriais entre as organizações criminosas brasileiras, os dois exércitos que se enfrentam apontam que os seus rivais, sejam eles quais forem, são “alemão”.

Arrego[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton[5].

É o termo utilizado para descrever um acordo ilícito de propina ou pagamento regular realizado entre membros de grupos armados ilegais (GAIs), especialmente aqueles envolvidos com o narcotráfico e agentes das forças policiais. Esse acordo visa facilitar ou permitir a continuidade das atividades ilegais em um determinado território, mediante a não intervenção ou colaboração dos policiais. O "arrego" pode incluir pagamentos em dinheiro, benefícios ou outras formas de compensação e é uma manifestação de corrupção. Alemão: é uma gíria amplamente utilizada por grupos armados ilegais (GAI) para referir-se a inimigos ou rivais, sendo frequentemente aplicada para descrever a polícia ou forças de segurança (ou grupos rivais, como a milícia).

Arrombado[editar | editar código-fonte]

Autoria: Léu + Coletivo Cine&Rock

Adjetivo

ar·rom·ba·do (particípio de arrombar)

1. Que se arrombou.

2. Que têm rombos.

3. Pessoa que cometeu um erro muito grande, que vacilou entre os amigos, 3. [Brasil: Rio de Janeiro, Informal] Que tem muita sorte. Um sortudo ou que tenha conquistado algo, muito bom.

Substantivo masculino

5. [Brasil: Rio de Janeiro,Tabuísmo] Homem que, numa relação sexual homossexual, é penetrado no sexo anal.

Aulas[editar | editar código-fonte]

Autoria: Victor Souza Rosa

Expressão muito utilizada pelos jovens que vivem em favelas e periferias do Rio de Janeiro. A gíria "Aulas" é usada para indicar que algo é muito bom. Exemplo: "Essa cervejinha está aulas".

Baque[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Refere-se à ação deliberada de causar prejuízos significativos às operações de uma organização criminosa, especialmente aquelas envolvidas no tráfico de drogas ou na posse de armamentos. Esse termo é comumente empregado para descrever situações em que indivíduos ou grupos rivais interferem nas atividades econômicas de uma facção, seja por meio da apreensão ou destruição de cargas de drogas e armamentos, seja pela tomada de controle de territórios e pontos de vendas de drogas (bocas de fumo). O objetivo por trás de um baque pode variar, incluindo a diminuição do poder de uma facção rival, retaliação ou tentativa de assumir o controle sobre recursos e territórios disputados.

Barca[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma gíria utilizada para descrever veículos de polícia, especificamente aqueles do modelo SUV ou Blazer, empregados em operações de patrulhamento ou intervenções em áreas urbanas, incluindo favelas e bairros.

Brabo[editar | editar código-fonte]

Autoria: Brota na Laje

Geralmente usado de forma positiva para indicar que alguém foi bom ou que aquela coisa é boa, bem feita, bem solucionada, bem sucedida. O adjetivo, brabo, é usado pelos adolescentes e jovens, dentro de suas conversas internas, com o intuito de diminuir a necessidade de explicação extensiva e descritiva do sujeito indicado.  Portanto, o  brabo aparece na linguagem de forma corriqueira no Borel, a fim de concentrar toda a explicação e uso de palavras e frases maiores relacionadas à coisa ou alguém.

Situações do adj. brabo:

“O corte tá brabo!”

“O moleque é brabo jogando."

“Ontem na festa foi brabo.”

Brota[editar | editar código-fonte]

Autoria: Daniel Teixeira.

A gíria "brota" é comumente utilizada para convidar ou chamar alguém a aparecer em um determinado local. Geralmente é usada de forma amigável e informal, sugerindo que a pessoa vá ao encontro do falante ou se junte a uma atividade ou grupo de amigos. Por exemplo, se alguém diz "Brota aqui em casa!", está convidando o interlocutor para ir até a sua residência.

Exemplos de uso:

"E aí, brota na festa daquela mina hoje. Eu não vou perder!"

"Você não vai acreditar em quem brotou aqui em casa hoje. Não sei como ele teve coragem."

Você tem certeza que vai brotar lá? Eu acho que ela não tá muito boa com a sua cara!"

Brotar[editar | editar código-fonte]

Autoria: Gabriel Ferreira Fernandes

Brotar se refere a aparecer ou surgir, de repente, em algum lugar. Quando alguém diz que vai "brotar" em um determinado local, significa que essa pessoa planeja aparecer lá sem aviso prévio ou de forma casual. A expressão toma como referência a metamorfoses das plantas. Que pode ser interpretar a expressão "brotar" como um modo de chegar nos lugares de forma espontânea, como as plantas brotam e crescem naturalmente em seu ambiente. Assim, ao usar essa gíria neste contexto, pode-se estar se referindo a uma forma de se locomover de maneira despreocupada, sem planejamento prévio, como se adaptando às circunstâncias, assim como as plantas se adaptam ao seu ambiente para crescer e se desenvolver.

Carro bicho[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão usada para referir-se a carros de luxo roubados que são utilizados por GAIs, especialmente em contextos de organizações criminosas dentro de favelas. Esses veículos, frequentemente ocupados por indivíduos armados, são empregados para locomoção rápida, rondas e demonstrações de poder dentro do território controlado pela facção. O uso do termo "bicho" pode evocar a ideia de algo feroz ou perigoso, refletindo tanto o status elevado desses carros de luxo quanto a natureza ameaçadora de suas funções quando empregados em atividades criminosas. A prática de utilizar "carros bicho" simboliza não apenas o exercício do controle territorial e a capacidade de mobilidade das organizações criminosas, mas também a apropriação de símbolos de status e riqueza para fins ilícitos.

Calica[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Designa mulheres que, embora não estejam diretamente envolvidas em atividades criminosas, são residentes de favelas e participam ativamente da vida comunitária, incluindo a frequência a eventos sociais como bailes funk. Essa expressão destaca a distinção entre a participação direta no tráfico de drogas e a associação cultural ou social com a comunidade da favela, ressaltando o papel dessas mulheres como integrantes ativas do tecido social de suas comunidades, independentemente de envolvimento direto com atividades ilícitas.

Caô[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão originária do vocabulário carioca, utilizada para indicar uma mentira, exagero, engano ou qualquer situação não verdadeira. Embora não esteja diretamente vinculada a grupos armados ou atividades ilegais, a gíria é amplamente adotada por moradores de favelas e por diferentes segmentos da sociedade brasileira para denotar desconfiança ou descrédito em relação a uma informação ou narrativa apresentada.

Carro da linguiça[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão que se refere a um grupo de extermínio formado por policiais, ex-policiais ou militares, conhecido por suas ações violentas e letais, faziam suas incursões como carros do tipo: camionete Blazer, Monza ou Gol branco, que se tornaram associados à sua presença e atividades. Este grupo ganhou notoriedade pelas consequências letais de suas ações, com as vítimas raramente sobrevivendo aos encontros, muitas vezes apresentando sinais evidentes de espancamento ou tortura.

Cracudo[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão pejorativa utilizada para referir-se a indivíduos que enfrentam sérios problemas de adicção, especificamente ao uso de crack. Este termo é frequentemente empregado de maneira estigmatizante, refletindo não apenas o estado de dependência química da pessoa, mas também associando-a a uma série de preconceitos e estereótipos negativos relacionados à pobreza, criminalidade e marginalização social.

Coió[editar | editar código-fonte]

Autoria: Rodolfo Viana

O termo “coió” – que, simplificadamente, pode ser entendido como sinônimo de homofobia – tem origem na linguagem conhecida como “pajubá”, uma fusão da língua portuguesa provenientes de diversos idiomas africanos. Trata-se de um linguajar informal, negro, ligado a religiões de matriz africana, como o candomblé – que, curiosamente, foi apropriado por parte da comunidade LGBT como um linguajar próprio. Contudo, se o “coió” guarda alguma relação com a cultura oral negra, é possível que a violência que o termo sinaliza também mantenha laços estreitos com a vivência negra.

Diz-se “não vá por aí que você pode tomar coió”, alertando para casos de agressões físicas; ou “corre, viado, que é coió!”, um grito de alarme quando se avista uma agressão física já em curso. Ou apenas se faz algum tipo de observação pejorativa sobre uma vestimenta, por exemplo, “todo mundo me olhava, tomei muito coió”.

Cria[editar | editar código-fonte]

Autoria: Só Cria - Pré-vestibular / Mateus Sousa

‎Ser cria é respeito
é ter Fé e ter raça
Ser cria é ter amor
no peito
Ser criar é respeitar
sua casa,
aqui é mulher
e criança primeiro
Vontade de vencer
nos tem
e se o mundo não ajuda nos dá nosso jeito!
Favelado mesmo!
Mas sabe como é, nem tudo é perfeito.
Todo dia o estado confunde  meu jeito, com o jeito de algum suspeito.
O bagulho é desse jeito mesmo
Eu sou o verbo, eu sou o sujeito
a mãe leva os filhos pra escola
No meio da tarde
o telefone toca
Sem tempo pra um último beijo
Só corpos largados no chão, não!
São crianças com a bala no peito
E o estado segue lavando as mãos, e a cor da bandeira se mantém a mesma
por aqui...
apenas camisas  ficaram vermelhas.

Dia após dia eu vejo a pista dizendo que quer isso mesmo
Não importa quantos inocentes morrem
Amanhã tá tudo de novo ao avesso
Não entendem que o gueto é um projeto
O medo é um projeto
Seu voto é um projeto
Meu.. ódio é um protesto
Não entendem só queremos paz, um pouco de terra e a família por perto.

Sentir segurança, planejar o futuro
Com espaço pra ser o que eu quero
Ser cria é saber disso tudo
É viver isso tudo

Ser cria, é ter coragem!
Pra bater de frente com o mundo, não importa a velocidade.

Derrame na boca[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão utilizada para descrever uma situação de prejuízo financeiro significativo para operações de tráfico de drogas, frequentemente resultante de apreensões realizadas em operações policiais. Este tipo de evento não apenas acarreta perdas materiais para os envolvidos no tráfico, como também pode afetar a dinâmica e o equilíbrio de poder dentro do cenário criminal local, impactando a distribuição e a disponibilidade de drogas na área afetada. A expressão reflete os desafios e riscos inerentes às operações de tráfico de drogas, especialmente em face das ações de repressão por parte das forças policiais ou grupos rivais.

Faixa rosa[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Refere-se às mulheres envolvidas em grupos armados ilegais, especificamente aquelas que portam fuzis. A "faixa" mencionada alude à bandoleira, uma alça ou cinta utilizada para carregar armas longas como fuzis, enquanto o "rosa" simboliza a associação ao gênero feminino. Esta expressão destaca o papel ativo de algumas mulheres em GAIs ou atividades criminosas, desafiando estereótipos de gênero e ressaltando sua participação direta em operações que envolvem o porte de armas de fogo.

Faixa preta[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão utilizada para descrever homens associados ao tráfico de drogas que portam fuzis. A "faixa" aqui também se refere à bandoleira usada para suportar a arma, enquanto "preta" evoca a cor associada às habilidades e periculosidade, similar ao grau de faixa preta nas artes marciais, simbolizando destreza, respeito e um alto nível de perigo. Este termo sublinha a presença e o papel dos homens armados dentro de organizações criminosas, associando sua imagem à de combatentes altamente capacitados e perigosos.

Ganso[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Usado no contexto policial e de segurança pública no Rio de Janeiro, é um termo coloquial utilizado para se referir a indivíduos envolvidos em atividades criminosas, especialmente aqueles associados ao assalto, tráfico de drogas, ou que possuam qualquer tipo de vínculo com organizações criminosas. O uso de apelidos como este por parte das forças de segurança pode variar regionalmente e reflete a linguagem informal adotada por esses profissionais para categorizar suspeitos ou indivíduos conhecidos por suas atividades ilícitas. O termo Ganso pode ser entendido, dentro desse contexto, como uma maneira de identificar e diferenciar indivíduos com base em suas supostas ações ou associações criminosas, sem necessariamente implicar uma característica específica ou única dessas pessoas. É uma expressão que se insere no jargão policial, contribuindo para a comunicação interna entre os agentes de segurança.

Golpe de estado[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Nesse contexto específico, descreve uma tentativa abrupta e muitas vezes violenta de alterar a liderança ou a estrutura (GAI) de poder dentro de uma comunidade ou favela, geralmente perpetrada por uma facção rival ou por membros insatisfeitos da mesma organização. Esse tipo de ação visa depor o líder atual ou a liderança dominante, com o propósito de instaurar um novo regime de controle, frequentemente acompanhado por mudanças nas dinâmicas das alianças e direcionamentos estratégicos da organização ou comunidade afetada. O golpe pode envolver assassinatos, ameaças, coerção, controle do território ou outras formas de violência e intimidação para alcançar seus objetivos.

Mana[editar | editar código-fonte]

Autoria: Teia de Solidariedade Zona Oeste
  1. Expressão que usada por mulheres negras mais jovens, jovens feministas, mulheres feministas, comunidade LGBTQIA+ , como diminutivo da palavra irmã. Assim como nos EUA, mulheres negras se chamam de "sista".
  2. Parceira; amiga; cúmplice; irmã de luta; companheira,
  3. Aquela que está nos mesmos rolés;

Mandado[editar | editar código-fonte]

Autoria: Instituto Entre o Céu e a Favela

Usado de forma pejorativa, fazendo referência a pessoas com personalidades ou ações negativas ou duvidosas.
Adjetivo usado comumente entre jovens e adultos dentro das comunicações e diálogos internos da favela.

Exemplo do uso da palavra:

“...essa mulher chegou falando demais aqui, ela está mandada...”

“...ele veio mandado, só ficou aqui p ouvir a conversar..."

“...chegou aqui mandadão falando outra coisa...”

Maria fuzil[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma gíria que identifica mulheres que desenvolvem relações afetivas ou românticas com membros de facções criminosas, particularmente aqueles envolvidos ativamente no tráfico de drogas e em atividades armadas. A expressão sugere uma atração não apenas pelo indivíduo mas também, de forma mais ampla, pelo estilo de vida perigoso e pela aura de poder que o envolvimento no tráfico pode conferir. Essa denominação reflete a complexidade das dinâmicas sociais e afetivas em ambientes marcados pela criminalidade e pelo conflito.

Mó paz[editar | editar código-fonte]

Autoria: Brota na Laje

Termo utilizado para indicar um estado de calma, sem agitações, tranquilo com a vida,  agraciado por Deus. A expressão comunica o bem estar, e sinaliza saúde em equilíbrio, sem confusão ou brigas. Usada frequentemente pelos jovens, também funciona como um sinal positivo, de concordar com algo.

Exemplos de uso:

“Mó paz"

"Mó paz irmão, pode crer”

“Ah, mó paz! Como é que nóis tá? Tranquilão com a vida, graças a Deus. Vou dar até um mergulho”.

Passar o Cerol[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão que faz alusão ao uso de cerol (uma mistura cortante de cola e vidro moído, tradicionalmente utilizada em linhas de pipa para cortar as de adversários) para descrever ações que resultam em "cortes" ou eliminações severas, simbolizando mortes ou ataques violentos. O termo sugere uma ação agressiva e letal, remetendo à capacidade do cerol de causar danos severos. Essa gíria é utilizada para indicar a intenção de infligir dano fatal ou realizar uma série de atos violentos com o objetivo de eliminar oponentes ou indivíduos marcados como alvos em contextos de rivalidade ou conflito.

Passar o Rodo[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão figurada utilizada em contextos específicos para indicar a execução de uma ação drástica de eliminação ou "limpeza", frequentemente referindo-se a uma série de mortes ou à remoção violenta de indivíduos considerados indesejáveis ou ameaçadores dentro de um determinado contexto ou território. A metáfora do "rodo", um utensílio de limpeza, é empregada para evocar a ideia de varrer ou eliminar completamente algo ou alguém, geralmente em um cenário de conflitos ou disputas entre grupos criminosos ou em operações de repressão.

Qual foi?[editar | editar código-fonte]

Autoria: Jhon Vital +  Coletivo Piracema Santa Cruz/RJ

Expressão interrogativa utilizada na cidade do Rio quando:

1. Se quer saber como ocorreu determinado evento.

Exemplo: "Qual foi daquela resenha, lá?

2. Quando se quer expressar descontentamento com determinada postura ou ação.

Exemplo: "Qual foi comédia? Tá me tirando?"

Suave[editar | editar código-fonte]

Autoria: Marginal

SUAVE
Adjetivo.
Significado: Leveza, sossegado, delicado, calmo, pouco intenso.
Aplicação: Suaves prestações.

SUAVE
Gíria.
Na favela: Ok, tudo certo, de acordo, combinado, sem estresse.
Aplicação: Suave, pô.

Tá de óculos?[editar | editar código-fonte]

Autoria: Hugo Oliveira

Se utiliza quando a pessoa não está entendendo ou boiando sobre um assunto.

Exemplo do uso: Pergunta-se sobre um assunto, entendeu? A pessoa responde, não... Responde-se: Pohh... Tá de óculos?

Tá tudo 2[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão utilizada por membros e afiliados do Comando Vermelho, para indicar que a situação está sob controle ou que não há problemas iminentes. A gíria reflete um código comunicacional interno, utilizado para transmitir mensagens de forma rápida entre os membros da organização.

Tá tudo 3[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma gíria adotada pelo Terceiro Comando, com um significado semelhante ao de "tá tudo 2", porém específico para essa organização. A expressão é usada para comunicar que as condições são favoráveis, pacíficas ou sem conflitos, evidenciando uma linguagem personalizada para a troca de informações entre seus membros e simpatizantes.

Tá tudo 5[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão utilizada por milícias para indicar que a situação está tranquila, sem complicações ou ameaças à segurança. As milícias, grupos armados que exercem controle sobre determinadas áreas, adotam essa gíria como parte de seu vocabulário específico para comunicar internamente que as operações estão ocorrendo sem contratempos e que o ambiente está seguro.

Tribunal do Tráfico[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma instância de julgamento estabelecida pelos GAI. Presidido pelo líder ou "Dono" do território controlado pela facção, esse "tribunal" opera com base na lógica de um escabinato, sendo formado por um júri de homens de confiança com conhecimento profundo dos mandamentos ou regras estabelecidas pelo grupo. A função desse tribunal é arbitrar disputas, julgar traições, infrações, outros delitos e problemas graves do cotidiano dentro da comunidade ou entre seus membros, aplicando punições que podem variar de acordo com a gravidade do caso julgado

Troia (Cavalo de)[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

Uma ação ilegal seja da polícia, milícia ou facção rival com objetivo de matar traficantes ou se apropriar de armas ou drogas, dando emboscadas em bocas de fumo, feita geralmente com carros ou caminhões descaracterizados.

X9[editar | editar código-fonte]

Autoria: Júlia Quirino Pereira Peyroton.

É uma expressão utilizada para referir-se ao traidor, informante da polícia ou de grupo rival, seja para as forças de segurança ou para grupos rivais. Revelando informações estratégicas ou sigilosas. Sugere uma quebra de confiança e lealdade, sendo considerado uma das maiores transgressões dentro do GAI.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1963.
  2. https://revistapesquisa.fapesp.br/ataliba-teixeira-de-castilho-o-linguista-libertario/
  3. https://noticiapreta.com.br/durante-live-bolsonaro-toma-copo-de-leite-simbolo-nazista-de-supremacia-racial/
  4. Dicionário Informal.
  5. QUIRINO, Júlia.* *Panóptico Criminal: a governança criminal do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. 2024. 173 f. Dissertação (Mestrado em  Estudos Estratégicos – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2024.