São Paulo - onde nossas crianças estarão seguras do machismo?: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(Sem diferença)

Edição das 15h23min de 15 de agosto de 2023

Esse verbete faz parte do relatório "Máquina de moer gente preta: a responsabilidade da branquitude", produzido pela Rede de Observatórios da Segurança.
São Paulo - Proteção das crianças
São Paulo - Proteção das crianças

Apesar da nossa Constituição Federal prever garantias fundamentais do ECA, de tratados temáticos assinados e de todos os esforços multidimensionais ao longo dos anos, houve aumento de 15% no número de registros de violência contra crianças e adolescentes entre 2021 e 2022 em São Paulo.

Introdução

A proteção das crianças e dos adolescentes e a garantia de seus direitos resultam de uma série de mobilizações sociais e de normas elaboradas nos âmbitos internacional e nacional, que regulam, que trazem recomendações e fundamentam o mundo ideal. No Brasil, temos um conjunto de leis direcionadas a esse grupo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que dispõe: Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Pensando em uma federação, os municípios, estados e a própria União têm o compromisso de atuar para garantir políticas públicas que promovam proteção e cuidado às crianças e aos adolescentes, inclusive na conscientização deles e dos responsáveis em relação aos seus direitos e sobre como identificar tratamentos inadequados, abusos, e assim encontrar meios para denunciar.

Realidade Violenta

Apesar da nossa Constituição Federal prever garantias fundamentais do ECA, de tratados temáticos assinados e de todos os esforços multidimensionais ao longo dos anos, houve aumento de 15% no número de registros de violência contra crianças e adolescentes entre 2021 e 2022 em São Paulo.

A violência sexual e estupro lideram os casos e concentram 30% das ocorrências, sendo que em segundo lugar está a agressão física, com pouco mais que a metade, totalizando 18%. Pensando na autoria, 43% dos que exercem esse abuso da força física e psicológica são pais, padrastos, mães ou madrastas. Já para os crimes sexuais, esses mesmos protagonistas compõem 36%, enquanto conhecidos e outros familiares somam 31%. Ou seja, 68% dos criminosos que invadiram os corpos de crianças e adolescentes com finalidades sexuais – no estado de São Paulo – são pessoas do convívio, afeto e confiança das vítimas.

Os números revelam a realidade violenta em que parte dos brasileiros menores de 18 anos são submetidos. Afinal, de onde deveria vir o suporte e o amor, abusos acontecem e traumas são criados. Em março de 2021, um caso não excepcional expôs essa vulnerabilidade: um pai engravidou a filha de 12 anos. Esse caso registrado em Limeira, interior de São Paulo, confirmou que a grande maioria dos abusos acontecem em casa.

Outros eventos chamaram a atenção por terem ocorrido em espaços que supostamente abrigam pessoas de caráter inquestionável como a escola e a igreja. Embora sejam exceções, é inaceitável que líderes religiosos e professores utilizem do prestígio que a função social lhes confere para cometer abusos.

No final do ano passado, registramos casos de violência sexual cometidos por um professor e um pastor, fatos que se repetiram este ano. O professor de uma escola estadual, em Potirendaba, atualmente afastado de suas funções e denunciado na Polícia Civil e no Placon (Sistema do Programa Conviva que tem como principal MÁQUINA DE MOER GENTE PRETA: A responsabilidade da branquitude que tem como objetivo monitorar a rotina das escolas da rede estadual), cometeu assédio contra uma adolescente. O pastor de Fronteira, por sua vez, foi preso após abusar sexualmente de uma criança de seis anos que frequentava a igreja. O crime foi cometido na casa dos pais da vítima quando não estavam por perto.

Outro fenômeno que tem se tornado comum diz respeito aos crimes no ambiente virtual, desde a troca de mensagens com teor sexual, com imagens de nudez sendo enviadas e solicitadas às crianças e aos adolescentes, até a pornografia infantil.

Para se ter a dimensão do avanço desse assunto, a Polícia Federal, neste ano, deflagrou a Operação Abusou, que tinha por objetivo prender criminosos que produziam e vendiam conteúdo erótico-sexual envolvendo crianças e adolescentes em todo o país. Da capital aos interiores de São Paulo, dezenas de suspeitos foram presos, bem como seus computadores e HDs apreendidos. Diante da adversidade e da dimensão do problema aqui tratado, das diversas lacunas civilizatórias reforçadas pela reprodução de violência por pessoas que deveriam – em primeiro lugar – cuidar do seu semelhante, ainda mais em um contexto de formação e vulnerabilidade, faz-se urgente pensar em ferramentas efetivas para que crianças e adolescentes sejam assistidos. Também é necessário buscar compreender as realidades e as intervenções indicadas para esse grupo, para que, de forma combativa, a violência contra ele seja erradicada.

Por fim, embora essa seja uma ação do Estado, o trabalho de conscientização e apoio pode – idealmente – ser adotado por outras frentes e atores, como as contribuições da sociedade civil.

Ver também

·        Chacinas em favelas no Rio de Janeiro

·        Rede de Observatórios da Segurança

·        GENI (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos)

. Máquina de moer gente preta: a responsabilidade da branquitude (relatório)