Clássicos e contemporâneos sobre favelas: Curso IESP-UERJ

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Visando debater o lugar das favelas no Rio de Janeiro, o presente curso - aplicado no ano de 2024 - estabelece diálogos entre estudos clássicos e contemporâneos produzidos sobre esses territórios, suas populações, sociabilidades, infraestruturas, mobilidades, formas de organização, histórias, memórias, potências, assim como seus problemas e dilemas.

Autoria: Palloma Menezes
Morro da Providência

Para cada bibliografia utilizada como base, acesse o material completo em cada verbete!

Objetivo

O objetivo do curso é debater como as favelas vêm sendo pensadas e repensadas ao longo do último século a partir da leitura de autoras e autores que vêm refletindo sobre esses territórios em diferentes décadas e a partir de variados enquadramentos. Mapearemos e analisaremos temas, enquadramentos teóricos, abordagens metodológicas, dilemas éticos e questões políticas envolvidas no processo de transformação das favelas em objeto de pesquisa.

Apoio Técnico

Pesquisadores: Norma Miranda e Gabriel Nunes

Coordenação: Palloma Menezes

Temas trabalhados

Amar na Maré: a revolta de uma multidão

WALLACE LINO

Aula aberta com participação de Wallace Lino

Bibliografia:

A história sociojurídica das favelas cariocas

RAFAEL SOARES

Aula aberta com participação de Rafael Gonçalves

Bibliografia complementar:

Política nas favelas

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

Espaço urbano e a questão étnico racial no Rio de Janeiro

Aula aberta com Mario Brum

MARIO BRUM

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

Entre remoção, urbanização e lutas nas favelas

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

Economia no cotidiano das favelas

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

A História vista da laje: as favelas e suas possibilidades de análise pelo olhar historiográfico

MAURO AMOROSO

Aula aberta com participação de Mauro Amoroso

Bibliografia:

Acumulação social da violência

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

Guerra, “pacificação” e militarização

Bibliografia:

Bibliografia complementar:

Maternidade Negra como ação política

Aula aberta com participação de Luciane Rocha.

Sobre Luciane Rocha

No dia 6 de junho de 2024, o Coletivo de pesquisa sobre violências, sociabilidades e mobilidades urbanas (BONDE), em parceria com o Dicionário de Favelas Marielle Franco, promoveu a aula aberta "Maternidade negra como ação política", ministrada pela docente convidada Luciane Rocha (Kennesaw State University - EUA).

Oferecida na Sala Olavo Brasil, na sede do Instituto, atividade fez parte do programa da disciplina "Clássicos e contemporâneos sobre favelas", lecionada pela Prof. Palloma Valle Menezes no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IESP-UERJ. Doutora em Antropologia Social pela Universidade do Texas em Austin (UT-Austin - EUA), com especialização em Antropologia da Diáspora Africana e certificação em Estudos de Gênero e da Mulher, Luciane de Oliveira Rocha é professora adjunta de Estudos Negros no Departamento de Estudos Interdisciplinares (ISD) na Universidade Estadual de Kennesaw.

Realizou estágio de Pós-Doutorado no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH/UFRJ), e é pesquisadora associada à Rede Transnacional de pesquisas sobre Maternidades destituídas, violadas e violentadas (REMA). Sua pesquisa se dedica aos seguintes tema: Teoria e Práxis dos Estudos Negros, Maternidade Negra, Violência do Estado e Antropologia das Emoções.

Sobre Marcia Jacintho

(Trecho transcrito)

Pelas palavras de Marcia Jacintho (...)

Márcia Jacinto é uma mãe negra, moradora de uma favela, que teve um filho em 2002, aos 16 anos, executado — não apenas pela polícia, mas pelo estado.

A partir desse momento, me tornei militante. Foi extremamente difícil descer da favela e dizer que não foi como disseram, desmantelando todo um álibi de um sistema que já está estruturado a nível nacional. Só mudam as comunidades, os nomes e os estados, porque os álibis são sempre os mesmos.

Hoje, mais do que nunca, participando de encontros nacionais e visitando vários estados, como fiz neste ano, posso afirmar que esse álibi de extermínio da nossa população negra no Brasil é uma realidade. E não falo apenas do Rio de Janeiro ou de São Paulo — é o Brasil inteiro. O racismo existe, assim como o extermínio dos pobres, especialmente os da favela.

Nós, mães, somos obrigadas a descer do morro e lutar. Eu voltei a estudar justamente para poder quebrar esses álibis e, assim, buscar justiça. Mas, para mim, justiça hoje tem um significado muito mais profundo. Ao estudar um pouco de direito, percebi que o direito do meu filho também estava em jogo. Ele estaria aqui hoje, ao lado da família, se a Constituição realmente valesse para nós, pobres, negros e moradores de favelas. Se nossas leis fossem aplicadas igualmente, muitos de nossos filhos estariam vivos. Por isso, não posso dizer que houve justiça, mas ao menos o caso não ficou completamente impune. Meu filho não foi simplesmente tachado como traficante, jogado à margem para garantir a impunidade dos responsáveis. Eles continuam matando, mas hoje nós, mulheres negras, estamos descendo e dizendo: "Não foi assim." Estamos mostrando à justiça, que afirma ser cega, que ela escolhe ser cega para os nossos casos, para nos fazer acreditar que a impunidade é a única realidade possível.

Eles tentam nos matar também emocionalmente. Muitas mães já morreram, outras desistiram, e algumas não conseguiram vir para a luta. Por isso, agradeço muito, Lu, pelo convite. Será uma oportunidade maravilhosa para compartilhar um pouco da dor que carregamos e da nossa luta constante para provar que a história não aconteceu do jeito que tentaram nos fazer acreditar.

Hoje, minha luta não é apenas por um filho inocente ou não. O que importa é: como essa morte aconteceu? Não importa de quem se trata. A verdade precisa ser revelada. Porque, se eu insisto em dizer que meu filho era inocente, acabo concordando que alguém envolvido merecia morrer. Para isso, existem a perícia, a polícia civil e a investigação. Mas sabemos que basta ser um negro da favela, morto ou "socorrido" envolto em um lençol, para que tudo seja arquivado sem questionamentos.

Eu, junto com outras mães, estamos aqui para dizer que lutamos pela vida. E a vida negra importa.

Clique aqui e assista a aula na íntegra!


Maternidade Negra como ação política

Bibliografia

Bibliografia complementar:

Documentário como ferramenta de luta - Etnografando violações de estado para fora da academia

Aula aberta com participação de Gizele Martins, Juliana Farias e Natasha Neri

Bibliografia:

Outras Referências Bibliográficas

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Ver também