Geração Cidadã de Dados
A Geração Cidadã de Dados (GCD) representa um fenômeno global relacionado à crescente discussão e participação de cidadãos na coleta e interpretação de dados para influenciar no debate público e provocar mudanças concretas que possam melhorar a qualidade de vida. Essa abordagem transcende fronteiras e, para além dos estudos desenvolvidos no Brasil, há um incentivo direto voltado para indivíduos, em diferentes partes do mundo, envolverem-se ativamente na produção de informações relevantes para desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em escala transnacional. De acordo com quem atua nessas frentes de trabalho e pesquisa, no contexto brasileiro, a GCD é descrita como um conjunto de metodologias e ações práticas, realizadas por diferentes organizações, coletivos e instituições de modo colaborativo, muitos deles oriundos de favelas e periferias, visando contribuir para a transformação social.
Autoria: Cristina Pedroza de Faria (Kita Pedroza), Thiago Ferreira, Rafael Ramires Baptista (Tecnorgânico), Renata Gracie, Paulo Mota (Polinho Mota). Fotografias gentilmente cedidas para o verbete e de uso autorizado.
Esse verbete está sendo elaborado de forma conjunta por pessoas que atuam com GCD e/ou colaboram com a sua realização. As experiências em relação ao tema são plurais e abrangem muitas iniciativas de estudos, levantamentos e metodologias, muitos deles não abarcados aqui. Encorajamos todas as contribuições que possam enriquecê-lo.
Sobre o conceito[editar | editar código-fonte]
A Geração Cidadã de Dados vem se ampliando, no Brasil, a partir de frentes expandidas de atuação, impulsionada por práticas que abrangem a participação engajada de pessoas baseadas em regiões consideradas periféricas que se mobilizam em prol de suas comunidades e da realização de estudos que possam melhorar condições de vida em locais diversos. Em processo de construção, a definição dessa prática vem ganhando contornos próprios no contexto brasileiro e se consolidando por meio de experiências diversas espalhadas por diferentes regiões do país. Em um espaço de tempo relativamente curto e com recursos ainda escassos, muitas experiências já se acumulam.
Existente em outros lugares do mundo, esse tipo de atividade inspira pesquisadores, movimentos e outros atores sociais em favor de melhorias relativas à qualidade de vida, mas ocorre de forma diferenciada em cada lugar, uma vez que cada contexto social possui suas particularidades. A ideia principal trata de organizar e inventariar informações - reconhecer, coletar, armazenar, sistematizar, analisar -, além de divulgar relatórios que permitam apoiar ações de incidência política para cobrar dos gestores medidas mais adequadas às realidades dos diferentes territórios ou fazer uso aplicado à mudança de contextos sociais. Os objetivos perpassam a garantia de direitos para populações submetidas a situações degradantes de vida. Cresce impulsionada pela intenção (e necessidade) de esses grupos se apropriarem (ou re-apropriarem) de dados sobre as próprias realidades vivenciadas para poder transformá-las, efetivamente.
No contexto brasileiro, a concepção de Geração Cidadã de Dados (com essa nomenclatura específica) vem se fortalecendo em tempos recentes, associada à experiência prática. Por aqui, o conceito abarca alguns consensos, fruto de debates existentes ao menos desde 2016[1], ainda que comporte interpretações saudavelmente diferenciadas. De acordo com quem atua nessas frentes de trabalho e pesquisa, a GCD é descrita como um conjunto de metodologias e ações práticas, realizadas por diferentes organizações, coletivos e instituições de modo colaborativo, visando contribuir para a transformação social. Mas isso não é tudo.
Algumas organizações, movimentos e coletivos situados em contextos periféricos e favelados vêm trabalhando de maneira sistemática, nos últimos anos, com essa forma de fazer pesquisa, além de estabelecer parcerias com fundações, institutos, organizações sem fins lucrativos e outras instituições de ensino e pesquisa. São os casos do Data_labe, LabJaca, Casa Fluminense, Instituto Fogo Cruzado, Fala Roça, Redes da Maré, Instituto Raízes em Movimento, Rede Conexões Periféricas, Rede Favela Sustentável, Observatório do Marajó, entre outros, no Rio de Janeiro, além de diversas iniciativas pelo Brasil afora. Nesse contexto, jovens moradores de favelas e outras quebradas se especializam, cada vez mais, em diferentes áreas de conhecimento - de filosofia, relações internacionais e ciências sociais, aos cursos de tecnologia da informação, estatística e ciências de dados, passando por comunicação e biblioteconomia. Formação acadêmica, experiência profissional, conhecimentos científicos e empíricos se unem a saberes tradicionais nas lutas por direitos.
Conforme documento-guia[2] disponibilizado pelo Data_labe (organização que se define como “laboratório que promove a democratização do conhecimento por meio da geração, análise e divulgação de dados, com foco em raça, gênero e território a partir do Complexo da Maré – RJ”), geração cidadã de dados é “um conjunto de ações que possibilitam aos cidadãos, gerar, recolher e utilizar dados para benefícios de suas comunidades ou coletivos”. De autoria de Paulo Mota (Polinho Mota) e Gilberto Vieira, o texto indica alguns passos para desenvolver um trabalho com GCD.
Em 2017, o texto "Mas o que é geração cidadã de dados?[3]" já sugeria princípios essenciais para singularizar e diferenciar a GCD de outras formas de coleta e tratamento de dados. Escrito por Fábio Silva, afirma que geração cidadã de dados é “toda coleta de dados feita de maneira coletiva, que tenha uma função ativista e objetiva, em formato aberto e público, em que os usuários estejam conscientes do propósito dos dados”. Em resumo, sua base se assenta em quatro pilares: é uma prática “coletiva; aberta; a partir da perspectiva de participação política; e consciente”. Esse artigo publicado pelo Data_labe, sediado no conjunto de favelas da Maré, já citava como “alternativas à escassez de informação” algumas iniciativas como Defezap, Fogo Cruzado e Cocôzap, projetos pioneiros voltados para mapear, respectivamente, agressões e abusos do Estado, tiroteios nos centros urbanos e seus impactos, além do saneamento básico em favelas e periferias.
O fazer político associado a esses levantamentos de dados foi enfatizado também por Gilberto Vieira, co-fundador do Data_labe. Em "Geração Cidadã de Dados: um fazer político" (2018)[4], ele complementou: “No bojo dos debates internacionais, viemos trabalhando com o conceito de Geração Cidadã de Dados no qual a produção independente de bases estruturadas de informações representa uma frente ativa de acesso ao debate público e à formulação de políticas. É ação direta e cidadã em um campo negligente, racista, elitista e machista”.
Em outro artigo publicado recentemente, "Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções[5]" (2023), integrantes das equipes do Data_labe e da Casa Fluminense, acrescentaram ao seu entendimento sobre a GCD a ideia de ser “uma nova camada na militância de nossas vidas e organizações”, fazendo referência não só à prática diferenciada da pesquisa associada ao engajamento político como ao marco temporal de uma nova geração de pessoas que reconhece o valor simbólico, histórico e estratégico de seus modos de vida e se apropria de métodos para estruturá-los em forma de dados (qualitativos e/ou quantitativos). Assim, estão surgindo novas bases de dados - abertas -, que fortalecem perspectivas descentralizadas de narrar o mundo, estão sendo criados acervos e repositórios para armazená-los, ou seja, está ganhando corpo uma ferramenta poderosa na luta por direitos.
E se já estava evidente a forma ineficaz como, não raro, o poder público lida com dados relativos a regiões faveladas, periferias e assentamentos informais, a eclosão da Covid-19, em 2019, escancarou ainda mais essa realidade espalhada por todo o país. Conforme a ementa do Seminário que teve como tema 'Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’' (realizado pelo Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz), “a pandemia de Covid-19 deixou transparecer um grave problema nas favelas do Rio de Janeiro: a falta de dados sobre quem vive nelas. As subnotificações encobriram a gravidade da situação e dificultaram o enfrentamento da doença durante o período mais crítico”. Essa situação impulsionou ainda mais o engajamento de movimentos e moradores na coleta de dados e na produção de diagnósticos mais condizentes com as realidades que vivenciavam. Diferentes coletivos, associações, veículos jornalísticos de favelas e comunicadores comunitários se mobilizaram para mapear casos no seu entorno, mesmo com recursos escassos.
Vale lembrar que o levantamento de dados brasileiros relativos à Covid-19, tornando-os acessíveis, ocorreu também nas áreas ditas formais, já que, no período inicial da pandemia estendido por longo tempo, o Ministério da Saúde não estava sistematizando os casos e os óbitos. Diante dessa situação, a organização não governamental Brasil.IO (Repositório de dados públicos disponibilizados em formato acessível) começou a levantar estes dados de interesse público a partir de consultas junto às secretarias estaduais de saúde no Brasil. A John Hopkins University, que fez o levantamento mais utilizado em todo o mundo, continuou utilizando estes dados posteriormente e o Monitora Covid-19, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz, também os utilizou quando o Ministério da Saúde passou pelo apagão de dados, ao ter seus os sistemas computacionais invadidos por hackers. Veja mais sobre o assunto AQUI.
Escutando quem faz[editar | editar código-fonte]
(...) E esse povo é capaz de reconstruir toda a fauna e flora desse lugar onde quase não existem mais bichos e plantas… conseguem ver a a floresta e invocar o nome de todos os insetos, os répteis, os pássaros, os animais peçonhentos, as plantas..." e " Qualquer estudioso ficaria admirado com esse inventário e com a maneira que eles são capazes de restituir a essa terra a presença de seres que já foram extintos: os Maxakali estão ali representando todo esse gradiente de vida. Ailton Krenak (Krenak, p. 35, 2022)[6]
Meu bisavô dominava toda a cadeia produtiva da cana, do plantar até fazer açúcar. Minha tia-avó, Mãe Joana, detinha todo o saber da lavoura do algodão: plantava, colhia, fiava, tecia, tingia e fazia a roupa. Tio Norberto plantava cana e entregava a rapadura pronta, e fazia o engenho e o carro de boi. Então nós, pretos, tínhamos um poder enorme, um saber extraordinário. Nego Bispo, em entrevista ao Outras Palavras.[7]
À sua maneira, muitas pessoas pesquisadoras, professoras, fundadoras de coletivos, articuladoras de movimentos locais, representantes de povos originários, populações tradicionais etc também corroboram a importância da incidência política na GCD, ou seja, a aplicação dos dados para a efetivação da garantia de direitos.
Seguem vozes participantes desse movimento, trazendo as suas contribuições sobre o tema, de acordo com suas experiências.
“Dados cidadãos são aqueles que possibilitam aos cidadãos gerarem, recolherem e utilizarem dados para benefício de suas comunidades e coletivos”, explica Polinho Mota, coordenador de dados no Data_labe e doutorando em Epidemiologia e Ciência de Dados Populacionais (UFRJ).
“A geração cidadã de dados, pra gente, são dados que de, algum modo, servem para fortalecer a garantia de direitos para moradores do meu território; não só do meu, mas de todos os territórios esquecidos pela gestão pública, lugares com subnotificação, ou sem informação sobre as violações dos direitos básicos, como saneamento básico, energia elétrica, acesso a emprego, educação e tantas outras coisas que desconhecemos em dados ou reportagens, mas que conseguimos - a olho nu - ver e, ao mesmo tempo, vivenciar na pele esses descasos da gestão pública. Mas quando levamos esses problemas como denúncia, a nossa palavra não é suficiente. Apresentar os dados funciona como ferramenta de validação pras nossas vivências”. Tecnorgânico (R. Ramires), co-fundador do coletivo InfoCria. Graduado em Tecnologias Educacionais (Estácio de Sá) e pós-graduando em Computação Aplicada à Educação (USP).
“O que é geração cidadã de dados pra gente? É como que a gente constrói, desenvolve e apropria metodologias para gerar dados de forma cidadã, coletiva, com objetivo de transformação das nossas próprias comunidades”. Clara Sacco, co-fundadora e coordenadora do Data_labe. Graduada em Estudos de Mídia (UFF).
“A ideia de geração cidadã de dados é que a gente tenha grupos de periferias comunidades e favelas que são marginalizados, historicamente olhados pela academia como objetos de pesquisa, que esses grupos passem a ser protagonistas no processo de geração de dados, de conhecimento e se empoderem a partir desses dados. A intenção é poder reivindicar mudanças, pautar políticas públicas, pautar intervenções nos seus territórios a partir das suas prioridades, a partir dos seus entendimentos que vieram através desses dados coletados comunitariamente, coletivamente.” Fala de Kayo Moura, no seminário do ICICT/Fiocruz, com o tema "Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’” (15/09/23). Kayo é analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca, Laboratório de pesquisas e narrativas sobre favelas e periferias. Graduado em Relações Internacionais (PUC-Rio), graduando em Estatística (Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE) e mestrando em Ciência Política (IESP/UERJ).
“Acredito que (a GCD)seja uma prática antiga, mas que não havia sido conceituada, apesar de espontaneamente muitos povos já possivelmente a realizarem. O levantamento de dados nem sempre precisa de legitimação de instituições para corresponder à realidade; uma anotação num papel de pão, feita por quem vive aquela realidade, pode e deveria servir como base de dados para acolher as experiências daquele indivíduo. Sendo assim, não duvido que esse movimento possa ter acontecido em comunidades tradicionais, aconteça em comunidades quilombolas e outras comunidades autogeridas[8]. Na minha comunidade, essa ação sempre foi realizada pelas associações de moradores - levantar quantos moradores não têm acesso a água, quantos não têm ou possuem redes elétricas estáveis, isso tudo era feito manualmente, em planilhas de papel, que serviam para os interesses das próprias associações”. Tecnorgânico (R. Ramires)
“Não se tem uma data marcada oficialmente para essa prática, estudos norte americanos apontam para o início do século XXI como um marco dessa prática, mas ainda dentro do escopo de ciência cidadã”. Polinho Mota (Paulo Mota)[9]
Eventos e estudos no cenário da GCD[editar | editar código-fonte]
Ações conjuntas e estudos envolvendo metodologias relacionadas à geração de dados vêm ganhando maior escala no Brasil. Para se ter uma ideia, apenas em 2023 foram realizados ao menos quatro eventos dedicados ao tema da GCD e assuntos correlatos, organizados por grupos do Rio de Janeiro e São Paulo. O I Seminário de Geração Cidadã De Dados, promovido pelo Data_labe e Casa Fluminense, reuniu pesquisadores e participantes de cerca de 20 organizações e movimentos (Data_labe, Casa Fluminense, Visão Coop, Lab Jaca, Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA)/IESP-UERJ, OCA/IPP, Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (TTRJ), Censo da Providência, Iniciativa Pipa, Movimentos, Agenda Realengo, Observatório do Marajó, CESeC, Lavits, Plantaformas, De olho na Maré, Gênero e Número, Fogo Cruzado, InfoCria).
No mesmo ano, o tema foi debatido, em dos seminários do Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz), denominado "Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’”, com as presenças de Renata Gracie (Tecnologista em Geoprocessamento e Coordenadora do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (LIS/ICICT/Fiocruz) e Kayo Moura (analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca).
Já o Dicionário de Favelas Marielle Franco organizou o Ciclo de debates Produção de Conhecimentos e Memórias em Favelas e Periferias, em parceria com o BONDE (IESP-UERJ), o CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), o Grupo Casa (IESP-UERJ), a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), o Instituto Raízes em Movimento e o Radar Saúde Favela (Fiocruz).
O Museu das Favelas, baseado em São Paulo, realizou o I Seminário de Pesquisa Favela é o Centro, organizado pelo CRIA – Centro de Referência, Pesquisa e Biblioteca. Teve como objetivo “reunir pesquisadores e institutos de pesquisa para debaterem os mais recentes estudos e publicações que tratem das favelas e periferias brasileiras”.
Antes de apresentar exemplos de estudos realizados com uso das metodologias da geração cidadã de dados, acreditamos ser importante situar brevemente o que são dados, afinal. Lembrando que não é nossa intenção aprofundar essa questão extensa por aqui, seguem alguns entendimentos sobre o assunto. Para Fábio Silva, dados são “um conjunto de informações sistematizadas e estruturadas que respondem a um determinado interesse ou objetivo. Mesmo de maneira inconsciente, estamos gerando dados o tempo todo pelos nossos celulares” . Já Renata Gracie pondera: “Penso que dados são casos, óbitos, população, domicílios com solução de esgotamento por fossa... Quando transformamos estes dados levantados, de diferentes maneiras, transformamos em indicadores, que são informações passíveis de ser interpretadas, pois não estamos deixando de ponderar população ou número de domicílios; estamos utilizando, por exemplo, taxa de incidência de alguma doença, taxa de mortalidade de uma dada doença, proporção de domicílios com solução de esgoto por fossa.
Seguem exemplos de alguns, dentre diversos estudos e iniciativas realizados com base na GCD no Brasil.
Painel Unificador de Covid-19 nas Favelas (PUF)[editar | editar código-fonte]
O Painel Unificador Covid-19 nas Favelas é uma plataforma - www.favela.info - que reúne dados sobre o alcance da Covid-19 em favelas do Rio de Janeiro e Região Metropolitana. Foi desenvolvido, em 2020, diante da indisponibilidade de dados públicos adequados sobre esses territórios da cidade, a partir da reunião de coletivos e organizações sem fins lucrativos, com o apoio tecnológico da prefeitura do Rio de Janeiro, de técnicos da Imagem, empresa distribuidora de software de ambiente de Sistemas de Informações Geográficas do ArcMap da Esri no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz, através do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), por meio de seu Laboratório de Informação em Saúde (LIS). Nesse caso, ao todo, 24 coletivos de favelas do Rio de Janeiro e parceiros trabalharam em conjunto para desenvolver o PUF, contando com a organização da Comunidades Catalisadoras (ComCat), responsável pela criação da plataforma.
De acordo com Informações publicadas no painel, “Se trata de uma pesquisa cidadã, cujas fontes são uma rede confiável de mobilizadores, organizações e comunicadores de favela, além de dados públicos. Mais recentemente, optamos por uma metodologia de Zona de Influência de Códigos de Endereços Postais (CEPs), identificando os que melhor representam áreas de favela, começando pelas mais populosas ". Seu objetivo é contribuir com o “processo de prevenção e mitigação da Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro, para que moradores possam ter maiores dados sobre a presença e o alcance da doença em suas comunidades, para se organizarem e terem mais uma ferramenta para solicitar apoios aos órgãos competentes”. Sobre a metodologia do PUF, mais informações AQUI.
"A proposta é que, posteriormente, este banco de dados com a identificação dos CEPs de mais de 80% das favelas do município do Rio de Janeiro, construído durante o período mais grave da pandemia da Covid-19, possa ser utilizado em situações de futuras emergências, de modo que os gestores possam tomar medidas mais adequadas e a sociedade possa cobrar ações mais oportunas. O interessante é que este método empregado possa ser replicado em outros municípios brasileiros", explica Renata Gracie, que integrou a equipe de elaboração do PUF e do desenvolvimento da metodologia do mapeamento por áreas de influência dos CEPs.
Quando a situação sanitária foi se aliviando, o grupo que se encontrava virtualmente toda semana diminuiu a frequência de encontros e todos perceberam a potência que era essa reunião de coletivos distribuídos pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E com a atenção no aumento da frequência e intensidade das ocorrências dos eventos extremos, sem falar na diminuição do intervalo entre um evento e outro incrementadas devido às mudanças climáticas, entendeu-se que era importante a manutenção deste grupo para o desenvolvimento de uma formação das lideranças juntamente com os jovens dos territórios favelados que participaram do PUF. Entende-se também a importância da discussão deste tema por estas populações, já que em geral os mais afetados nos eventos extremos são as populações periféricas de uma maneira geral[10][11].
Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética[editar | editar código-fonte]
As experiências e redes formadas, entre coletivos e parceiros, durante o período da pandemia fortaleceram novas ações de compartilhamento de saberes inclusive sobre a prática de pesquisa e sistematização de conhecimentos aplicados a contextos de vulnerabilidade. Especialmente os acúmulos de vivências com a construção do Painel Unificador das Favelas estimularam a continuidade das trocas sobre metodologias de coleta de dados e a consciência da possibilidade da realização coletiva de pesquisas. A partir daí, diversos debates resultaram na escolha dos temas da água e da energia elétrica como foco central de interesse. Essa foi a origem da iniciativa do Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética, voltado para o compartilhamento de saberes relativos à pesquisa de forma participativa.
“Os inúmeros problemas de acesso, qualidade e eficiência da água e da luz nestes locais, apesar de amplamente noticiados e conhecidos por seus impactos negativos na prevenção da Covid-19, jamais foram tratados como prioridade pelo poder público. Foi no âmbito das discussões desses temas e suas consequências na vida dos moradores, que os integrantes do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas tiveram a ideia de realizar um curso de pesquisa voltado às questões de água e luz nas favelas, que ano a ano vem tornando seus territórios cada vez mais desamparados”. Fonte: Painel Unificador das Favelas | ComCat (www.favela.info).
Ao longo de seis meses de curso, foram construídas as habilidades para a realização desses estudos, assim como foi feito um extenso levantamento de dados sobre os acessos à água e luz por 45 jovens e lideranças de 15 comunidades.
Assista ao documentário do curso[editar | editar código-fonte]
Estudo Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação[editar | editar código-fonte]
Acesse os resultados da pesquisa[editar | editar código-fonte]
Os resultados do estudo podem ser conferidos no relatório Justiça hídrica e energética nas favelas.
A iniciativa foi da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas, com colaboração de oito instituições, que ofereceram o curso sobre o mesmo tema. Foram realizadas entrevistas com 4.164 pessoas, entre maio e junho de 2022, produzindo resultados sobre acesso, qualidade e eficiência relativas à água e luz em áreas de favelas de cinco municípios do Grande Rio. Maiores detalhes AQUI.
Cocôzap [editar | editar código-fonte]
Iniciativa desenvolvida pelo Data_labe, desde 2018, com objetivo de contribuir para melhorar as condições de esgotamento sanitário na região de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Trata-se de um aplicativo que permite aos moradores enviarem indicadores de problemas relativos ao saneamento básico e ao lixo nos lugares onde vivem.
Projeto pioneiro no Rio de Janeiro, de levantamento coletivo sobre saneamento básico, atua em parceria com a Casa Fluminense e a Redes de Desenvolvimento da Maré, elaborando diversas ações de mapeamento, incidência política e promoção de participação cidadã voltadas para garantir o direito à infraestrutura de esgotamento sanitário nas favelas.
Fogo Cruzado [editar | editar código-fonte]
Aplicativo que recebe e divulga informações sobre tiroteios e disparos de arma de fogo nas regiões metropolitanas do estado do Rio de Janeiro e da cidade do Recife.
Amplamente acessados, os dados disponíveis na plataforma online desenvolvidos pelo Instituto Fogo Cruzado se tornaram referência dentro e fora do Brasil, para as mídias corporativa, independente e comunitária, pesquisadores, órgãos da gestão pública, entre outros.
Com metodologia própria, monitora tiroteios nos centros urbanos e seus impactos. Produz mais de 20 indicadores sobre violência armada e pretende expandir o alcance para outras cidades brasileiras.
“Estas informações estão disponíveis no primeiro banco de dados abertos sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente na nossa API”. Fonte: Instituto Fogo Cruzado
Mapa da Desigualdade[editar | editar código-fonte]
Elaborado pela Casa Fluminense, o Mapa da Desigualdade reúne um conjunto de indicadores socioeconômicos sobre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que resultam da análise de três fontes: bases governamentais, empresariais e a Geração Cidadã de Dados (GCD), organizados a partir dos eixos das justiças econômica, racial, de gênero e climática.
Em sua quarta edição, o Mapa da Desigualdade 2023 trouxe a inovação do uso de uma ferramenta voltada para permitir consulta e download dos dados apresentados na publicação. Entre os seus diversos resultados, mostra que cerca de 50% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vive com menos de um salário mínimo.
InfoLambe[editar | editar código-fonte]
O projeto InfoLambe, que será lançado em breve, desenvolveu uma pesquisa sobre o impacto das enchentes no bairro Chacrinha. em Nova Iguaçu. A ação foi realizada pelo coletivo InfoCria em parceria com o grupo BXDLambe.
“Estamos levantando, por exemplo, um dado inédito sobre a quantidade de pessoas que sentem medo da chuva nesse território e quantas pessoas compreendem sobre a responsabilidade do governo com relação aos danos gerados pelas enchentes”, adianta R. Ramires, co-fundador do InfoCria.
“Na InfoCria levantamos indicadores de autonomia digital, para entender como nossas turmas se encontram em relação a suas habilidades no uso de tecnologias digitais. Procuramos entender como elas lidam com o acesso à internet, se sabem ou não usar determinadas plataformas e aplicativos e, quando sabem, o quanto sabem, se consideram suas habilidades de nível iniciante, intermediário e assim por diante. Esses dados, reunidos, nos permitem visualizar para qual ferramentas podemos dar foco em nossas formações em Letramento Digital e entender também um panorama geral sobre as habilidades digitais da nossa comunidade e nosso público foco no projeto”.
Sobre as metodologias usadas pelo InfoCria, ele explica: “Usamos metodologias de pesquisa quantitativa e qualitativa, coletamos dados através de formulários simples, dando preferência ao uso de softwares livres para essa coleta, sempre que possível, e quando o público foco também pode acessar essas ferramentas. Isso varia conforme o projeto, o tempo que temos e a profundidade/quantidade de dados a serem coletados. Armazenamos tudo em planilhas e geramos as visualizações a partir delas. Temos sempre a prerrogativa de popularizar o que geramos de dados, através de peças artísticas, dentro das oficinas que aplicamos e conforme as ideias que surgem durante esse processo, voltadas a essa disseminação dos dados.
Pesquisa Periferias e Filantropia - As barreiras de acesso aos recursos no Brasil[editar | editar código-fonte]
Pesquisa sobre o cenário da filantropia e o investimento social privado, realizada pela Iniciativa PIPA, em parceria com o Nubank, com objetivo de “analisar a descentralização dos recursos privados para viabilizar as ações e os projetos daqueles que estão na ponta”, de acordo com o site da Iniciativa PIPA.
Realizada em 2022, a pesquisa se propôs a analisar e entender quais as principais barreiras e dificuldades para acessar o Recurso Social Privado. Buscou-se compreender quais as principais dificuldades e barreiras que as iniciativas localizadas em favelas encontram para captar recursos. Se, no período mais intenso da pandemia da Covid-19 as doações filantrópicas aumentaram, em seguida, coletivos, associações, Ongs, entre outros, relataram realidades locais de diminuição desses recursos e permanência ou agravamento de problemas socioeconômicos vivenciados. A pesquisa mapeou cerca de 1000 iniciativas que atuam "na ponta", em áreas de periferia, em todas as regiões geográficas do país e buscou saber seu perfil, como atuam e sobre a sua sustentabilidade. Sobre os recursos movimentados, buscou compreender questões como "Quais recursos estão chegando ou não? Por que chega e/ou por que não chega para quem mais precisa e/ou ocupa os espaços mais periféricos, em diferentes partes do território brasileiro, seja urbano ou rural?". Também feito por pesquisadores de favelas, abrangeu as 05 regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste e de 10 Estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Bahia e Ceará.
No cenário futuro, o estudo pretende auxiliar o Investimento Social Privado e a Filantropia a criar soluções que ampliem o impacto da alocação de recursos no país.
Acesse o relatório da pesquisa AQUI.
Observatório do Marajó[editar | editar código-fonte]
[editar | editar código-fonte]
Levantamento produzido pelo Observatório do Marajó, contendo dados sobre o contexto social da região e seus municípios - características da população, suas condições de moradia, acesso à água e saneamento, oferta de atendimento de saúde - assim como o histórico de casos de coronavírus e as ferramentas de transparência e comunicação adotadas pelas Prefeituras do Marajó. Acesse o estudo AQUI.
Projeto Filhas da Mãe do Fogo[editar | editar código-fonte]
O projeto Filhas da Mãe do Fogo tem objetivo de criar soluções sustentáveis de combate e manejo do fogo, diante do aumento de queimadas em municípios da Ilha do Marajó.
“Os municípios do Marajó como Bagre, Curralinho e Soure, mais que dobraram os focos de queimadas. Melgaço, Salvaterra e Ponta de Pedras tiveram um aumento de 80%, de acordo com a matéria “As filhas da Mãe do Fogo são netas da terra!” do Observatório do Marajó, publicada no Medium.
Para tanto, trabalha com a reconexão de mulheres marajoaras às técnicas e práticas sustentáveis de monitoramento e controle do fogo em seus territórios. Isso se dá por meio de elementos como a recuperação de lendas locais, como forma de repensar a relação das comunidades com o fogo, e do mapeamento das comunidades afetadas pelo fogo.
Mapa Cultural da Rocinha[editar | editar código-fonte]
Em janeiro de 2023, o Jornal Fala Roça, fundado e editado por jovens jornalistas e comunicadores (as) crias da favela da Rocinha, lançou a nova versão do Mapa Cultural da Rocinha. Resultado de extensa pesquisa feita na favela, o Mapa não só identificou cerca de 150 iniciativas culturais, de acordo com pontos de vista de pessoas moradoras, como é também um importante instrumento político para o reconhecimento da Rocinha – e dos seus habitantes – como pertencentes à cidade.
Além do histórico de políticas públicas insuficientes nesses locais, os episódios de exclusão de favelas de mapas oficiais da cidade do Rio de Janeiro, que vêm acontecendo com certa frequência ao menos desde 2013, apontam para um apagamento também cartográfico das favelas e periferias cariocas. Outro ponto relevante é a possibilidade de reforçar a reivindicação de melhorias nos equipamentos culturais públicos locais.
Acesso o mapa e seus resultados AQUI.
A GCD pelo mundo[editar | editar código-fonte]
A Geração Cidadã de Dados (GCD) representa um fenômeno global relacionado à crescente discussão e participação de cidadãos na coleta e interpretação de dados para influenciar questões globais. Essa abordagem transcende fronteiras e, para além dos estudos desenvolvidos no Brasil, há um incentivo direto voltado para indivíduos, em diferentes partes do mundo, envolverem-se ativamente na produção de informações relevantes para desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em escala global. A geração cidadã de dados no mundo reflete a noção de que a colaboração e a participação da sociedade civil são fundamentais para a resolução de problemas em nível internacional, nacional e local.
Com base nisso, diversos autores apresentam em suas produções alguns dos conceitos, termos e aplicações da GCD em suas realidades. Em nível nacional e local, a pesquisadora Thaís Gonçalves Cruz (IESP-UFRJ) desenvolveu uma dissertação de mestrado intitulada: “Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas” (2022)[12], abordando como o caso da aplicação da GCD tendo como foco um movimento favelado, o LabJaca - laboratório de produção de dados situado na região de favelas do Jacarezinho, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro. A pesquisa teve objetivo de “refletir a respeito das dinâmicas e os aspectos existentes quando os crias (se) contam”. A autora explica que “a frase em destaque e que dá título ao seu trabalho não foi uma escolha aleatória ou uma simples síntese, na verdade, busca trazer a multiplicidade da temática com duas dimensões principais. Trata-se de olhar para aqueles que contam nas favelas, abarcando as auto contagens e as demais, mas também refletir que eles contam uns com os outros para produzir os dados nestes territórios”. Acesse a dissertação AQUI.
O termo Geração Cidadã de Dados é derivado do inglês “citizen-generated data” e Frederico Piovesan (pesquisador da Politecnico Di Torino), em sua obra Statistical perspectives on citizen generated data[13] (Perspectivas estatísticas sobre dados gerados por cidadãos), explica que “dados gerados por cidadãos (GCD) são dados que pessoas ou suas organizações produzem para monitorar diretamente, exigir ou impulsionar mudanças em questões que as afetam. São ativamente fornecidos pelos cidadãos, oferecendo representações diretas de suas perspectivas e uma alternativa aos conjuntos de dados coletados por governos ou instituições internacionais. Um número crescente de iniciativas de GCD em todo o mundo utiliza diversos métodos e tecnologias para coleta de dados para pesquisa, conscientização e defesa. O autor ressalta alguns exemplos de como os dados são coletados, cada qual com as suas particularidades: “Variam desde questionários tradicionais em papel, SMS e transmissões de rádio, até a coleta de dados georreferenciados (incluindo texto e mídia), por meio de smartphones” (PIOVESAN, 2015). Acesse o documento na íntegra AQUI.
Na coletânea recente The Science of Citizen Science (A Ciência da Ciência Cidadã ), diversos autores escreveram sobre a GCD, reunindo suas contribuições em três partes (VOHLAND, Katrin et al.)[14]. A primeira, intitulada “Ciência Cidadã como Ciência”, explora a integração da ciência cidadã à chamada ciência moderna. Ganham destaque a crescente visibilidade dos cientistas cidadãos e o aumento de publicações sobre o tema. A discussão inclui a filosofia da ciência cidadã, ressaltando o conhecimento como um bem comum. São abordados aspectos das ciências naturais, humanidades e ciências sociais, enfocando desafios específicos. A tecnologia é reconhecida como crucial para o avanço da ciência cidadã, apresentando técnicas relevantes. Nesse sentido, questões como qualidade de dados, modelos conceituais e machine learning são discutidas. A colaboração científica na ciência cidadã é explorada, lançando mão do conceito de co-criação. Por fim, esse bloco do livro examina a interseção entre ciência cidadã, saúde e justiça ambiental, considerando desafios e a reconciliação de objetivos distintos.
A parte dois, “Ciência Cidadã na Sociedade”, aborda o fato de a ciência cidadã contribuir para o conhecimento científico, mas também enfrentar desafios sociais. Destaca a flexibilidade necessária em temas como participação, inclusividade, aprendizado, inovação social, envolvimento de organizações da sociedade civil, relações com políticas, impacto ambiental e ética. Portanto, a ênfase recai sobre a importância de abordagens adaptáveis para uma integração eficaz da ciência cidadã.
Já na terceira e última parte do livro, “Ciência Cidadã na Prática”, explora-se a implementação prática de projetos de ciência cidadã, destacando ferramentas e instrumentos essenciais para um bom desenvolvimento de metodologias e aplicações. A diversidade enriquecedora da ciência cidadã se revela nas atividades práticas, exigindo inclusividade em práticas, conteúdo e procedimentos metodológicos. Desafios específicos incluem a comunicação eficaz, essencial para o engajamento público, e a avaliação de projetos de pesquisa que adotam uma abordagem participativa. O interesse crescente de instituições reflete a busca por impacto positivo, embora muitos projetos enfrentem limitações devido à falta de aceitação pública, interesse das partes interessadas ou qualidade de dados. Os capítulos dessa última parte abordam diretrizes, plataformas, aplicativos móveis e web, comunicação e relações públicas, bem como estratégias de avaliação participativa. Essa seção destaca a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para efetivamente conectar ciência cidadã à sociedade. Acesse o livro AQUI.
A disseminação global da Geração Cidadã de Dados (GCD) representa, não apenas uma revolução na coleta de informações, mas um movimento poderoso que transcende fronteiras geográficas e enredos apenas acadêmicos, o protagonismo de movimentos sociais e organizações locais. Como evidenciado pelos estudos apresentados, como a pesquisa de Cruz (2022) nas favelas cariocas, e obras como The Science of Citizen Science e Statistical perspectives on citizen generated data, a GCD está se consolidando como uma abordagem essencial para envolver toda uma população global na produção e interpretação de dados relevantes para os seus contextos. Este fenômeno desempenha um papel fundamental, pois não apenas enriquece o conhecimento científico, mas também desempenha extrema importância na defesa de direitos, movimentos sociais e na construção de narrativas por quem vivencia os contextos nos territórios.
A GCD emerge como uma ferramenta valiosa para capacitar as comunidades a monitorar, exigir mudanças e impulsionar iniciativas em questões sociais, de saúde, ambientais e políticas. À medida em que as instituições e pesquisadores exploram a implementação prática da ciência cidadã, é crucial reconhecer a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para conectar efetivamente a Geração Cidadã de Dados à sociedade, promovendo assim um impacto positivo, duradouro e sustentável para os movimentos produtores de dados no mundo.
Materiais visuais e audiovisuais[editar | editar código-fonte]
Abaixo seguem uma série de materiais audiovisuais sobre a temática de produção de informação, conhecimento e Geração Cidadã de Dados (GCD):
- I Seminário de Geração Cidadã de Dados - organizado pelo DATA_LABE e Casa Fluminense:
- Primeiro dia: conhecendo e navegando pela Geração Cidadã de Dado
- Segundo dia: comunicação e tecnologia como ferramentas para GCD
- Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’ - organizado pelo Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde
- Painel Unificador Covid-19 nas favelas - Dados salvam vidas - organizado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde com a participação dos grupos: Comunidades Catalisadoras (ComCat), Coletivo Conexões Periféricas - RP, DataLabe, Fala Roça, Favela Vertical, Fiocruz, Fórum Grita Baixada, Frente de Mobilização da Maré, Mulheres de Frente, Observatório de Favelas, PerifaConnection, Redes da Maré - Somos Todos Maré, TETO e Voz das Comunidades.
- Censo de favelas - Produção autônoma de dados - organizado pelo BONDE (IESP-UERJ), CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), Dicionário de Favelas Marielle Franco (ICICT - FIOCRUZ), Grupo Casa (IESP-UERJ), Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), Instituto Raízes em Movimento e Radar Saúde Favela (FIOCRUZ).
- Seminário de Pesquisa - favela é o centro - organizado pelo Museu das Favelas
- Levantando dados: metodologias de pesquisa de campo na quebrada
- Cartografias periféricas: até onde vai meu mapa
Lista de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas[editar | editar código-fonte]
Abaixo segue uma lista dinâmica (sempre em construção) de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas de estudos atuantes com Geração Cidadã de Dados (GCD) e produção de informação e conhecimento, de forma pública e aberta, no contexto brasileiro. Colabore!
Fonte inicial: Polinho Motta (Coordenador de dados no Data_Labe)
Antra - Associação Nacional de Travestis e Transexuais
Conexão G - Grupo LGBT nas favelas
De Olho na Quebrada SP - UNAS Heliópolis e Região
GEMAA - Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa - UERJ
ICP - Instituto de Ciências Penais
Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos
Intervozes - Coletivo Brasil de comunicação social
JARARACA - Laboratório de Tecnopolíticas urbanas - PUCPR
LEAU - Laboratório de estudos das águas urbanas - UFRJ
OCA - IAB - Observatório Colaborativo da agenda urbana Fluminense
Open Knowledge Brasil - Escola de Dados
SETA - Sistema de Educação por uma transformação Antirracista
Rede de Observatório de Segurança / CESEC - Centro de Estudos de Segurança e Cidadania
Rede Favela Sustentável - COMCAT - Comunidades Catalisadoras
IRI - Instituto de Relações Internacionais -PUCRJ
Uniperiferias - Instituto Maria e João Aleixo
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Ciclo de debates sobre produção de conhecimentos e memórias em favelas e periferias
- I Seminário de geração cidadã de dados (evento)
- A favela quer pesquisar NEPS-CEASM oferta oficinas para acesso ao mestrado (artigo)
- ↑ Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções
- ↑ GERAÇÃO CIDADÃ DE DADOS
- ↑ Mas o que é geração cidadã de dados?
- ↑ Geração Cidadã de Dados: um fazer político
- ↑ Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções
- ↑ Krenak, Ailton. Futuro Ancestral, editora: Companhia Das Letras, São Paulo, 2022.
- ↑ Nêgo Bispo: Um guerreiro dos saberes ancestrais
- ↑ Conforme representantes de povos tradicionais e originários vêm alertando, já existem levantamentos feitos por essas populações. Ver Krenak, Ailton. Futuro Ancestral, editora: Companhia Das Letras, São Paulo, 2022.
- ↑ Ver mais em: https://www.nature.com/articles/s41599-022-01135-2
- ↑ GRACIE, Renata; XAVIER, Diego Ricardo; MEDRONHO, Roberto. Inundações e leptospirose nos municípios brasileiros no período de 2003 a 2013: utilização de técnicas de mineração de dados. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00100119, 2021.
- ↑ Gurgel HC, Carvalho MS, Artaxo P, et al. Mudanças climáticas e ambientais e as doenças infecciosas: cenários e incertezas para o Brasil.
- ↑ CRUZ, Thaís Gonçalves et al. Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas. 2023.
- ↑ PIOVESAN, Federico. STATISTICAL PERSPECTIVES ON CITIZEN GENERATED DATA. DataShift, 2015.
- ↑ VOHLAND, Katrin et al. The science of citizen science. Springer Nature, 2021.